Um advogado peruano tornou-se alvo de uma investigação criminal por conta de uma situação inusitada. Ele participava de audiência online com um juiz e outros colegas, não desligou a câmera que transmitia o escritório em que estava e transmitiu, ao vivo, cenas de sexo com uma mulher.
Nas imagens do vídeo da audiência, que viralizou, é possível ver o advogado Héctor Cipriano Paredes Robles se despindo junto da mulher. Os dois ficam completamente nus e iniciam o ato sexual, no escritório mesmo. Enquanto isso, o juiz e outros advogados assistem à cena incrédulos.
“Estamos testemunhando atos obscenos que representam uma violação da decência pública e são agravados pelo fato de estarem sendo registrados nacionalmente”, disse o magistrado John Chahua Torres. Depois, uma funcionária confirma: “É a câmera de Hector Paredes Robles”.
A audiência que contava com a presença do advogado Hector e do juiz Torres ocorreu na terça-feira (26). Ela foi organizada por um tribunal em Pichanaki, na região central peruana de Junin. O objetivo era discutir a prisão preventiva de um preso em uma operação contra uma quadrilha do crime organizado. Hector era o defensor do criminoso.
Além de ser afastado do caso, o advogado ainda será investigado pelo Ministério Público local e pela Ordem dos advogados. “Hector Paredes Robles foi totalmente identificado como o advogado que desrespeitou a dignidade deste tribunal, bem como dos outros advogados presentes e da profissão jurídica como um todo”, diz um comunicado divulgado pelo juiz.
“Condenamos as ações do advogado Hector Paredes Robles que, durante uma audiência de prisão preventiva virtual, cometeu atos obscenos que violaram a decência pública”, aponta outra nota sobre o assunto, emitida na sexta-feira pela Suprema Corte regional. “O juiz encarregado da audiência excluiu o advogado dos representantes da defesa e ordenou que um advogado de serviço o substituísse. Ele também determinou que o Ministério Público do Peru e a Ordem dos Advogados local devem ser informados para que possam tomar as medidas cabíveis”, explica.
O governo militar que deu um golpe de Estado em Mianmar fechou o principal aeroporto internacional do país, o de Yangon, até maio.
O gerente do aeroporto de Yangon, Phone Myint, disse à agência de notícias Reuters nesta terça-feira (2) que o aeroporto ficará fechado até maio, sem dar uma data exata.
O jornal “Myanmar Times” afirmou que a permissão para pousar e decolar foi revogada para todos os voos, incluindo os de socorro, até as 23h59 do dia 31 de maio.
O Conselho de Segurança da ONU vai se reunir nesta quinta para debater o golpe militar no país asiático, que faz fronteira com China, Bangladesh, Laos e Tailândia no sudeste da Ásia.
Antes da reunião, a China, que tem direito a veto no Conselho de Segurança e foi uma das poucas potências mundiais a não condenar a tomada de poder, afirmou que o mundo deve contribuir para a estabilidade de Mianmar.
Wang Wenbin, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, disse que todas as ações da comunidade internacional devem contribuir para a estabilidade política e social de Mianmar, para evitar o aumento das tensões.
O governo de Israel informou nesta segunda-feira (1º) que forneceu aos palestinos o primeiro carregamento de vacinas contra Covid-19, em um total de 2 mil doses da vacina da Moderna.
As vacinas foram transferidas para a Cisjordânia ocupada e serão usadas por equipes médicas da Autoridade Palestina, de acordo com um comunicado do Cogat, a ligação militar de Israel com os palestinos.
O Ministério da Saúde palestino confirmou a entrega em um comunicado divulgado na cidade de Ramallah, na Cisjordânia, dizendo que administrará as doses em profissionais de saúde que trabalham em instalações onde tratam pacientes com Covid-19.
“A segunda categoria de pessoas a receber as doses das vacinas são as maiores de 60 anos e as que sofrem de doenças crônicas”, informou o comunicado.
O ministério disse que espera receber mais 50 mil doses de vacinas nos “próximos dias”, mas não revelou a fonte. Israel reservou 3 mil doses adicionais para os palestinos, segundo uma autoridade do Cogat.
Israel emergiu como um líder mundial na vacinação de seus cidadãos. A Autoridade Palestina tem tentado separadamente garantir suas próprias doses e encomendou um lote da vacina russa Sputnik V.
Os palestinos também receberão de 35 mil a 40 mil doses do programa global de compartilhamento de vacinas Covax nas próximas semanas, disse um representante da Organização Mundial da Saúde na segunda-feira.
Cerca de 30 pessoas foram presas em Amsterdã quando a polícia dispersou um protesto contra as medidas de bloqueio contra o coronavírus no domingo (31), conforme as autoridades buscam evitar uma repetição dos distúrbios que assolaram as cidades holandesas por três dias na semana passada.
A polícia disse ter mandado para casa cerca de 600 pessoas que desrespeitaram as regras de distanciamento social e ignoraram a proibição nacional de reuniões públicas ao se reunirem na Museumplein, no centro de Amsterdã, na tarde de domingo. Não houve relatos de incidentes violentos.
A adição de um toque de recolher noturno a um bloqueio já amplo desencadeou manifestações violentas na semana passada. Lojas foram saqueadas em várias cidades e 500 pessoas foram presas.
Vários aliados e apoiadores do líder da oposição na Rússia, Alexei Navalny, foram detidos em Moscou nesta quinta-feira (28), em meio a investigações buscas após protestos em massa levarem dezenas de milhares de pessoas às ruas em mais de 100 cidades no sábado (23).
Lyubov Sobol (principal aliado de Navalny), Oleg Navalny (seu irmão), Anastasia Vasilyeva (médica de um sindicato apoiado pelo político) e Maria Alyokhina (do coletivo punk Pussy Riot) foram detidos por 48 horas.
Autoridades russas ampliaram as investigações e buscas contra aliados e familiares do opositor do presidente Vladimir Putin que está preso desde o dia 17, quando voltou ao país. Navalny estava na Alemanha se recuperando de uma tentativa de assassinato por envenenamento (veja mais abaixo).
Ele acusa o presidente russo pelo envenenamento com Novichok, um agente neurotóxico, em agosto. “Afirmo que Putin está por trás do ato, não vejo nenhuma outra explicação”, afirmou Navalny em uma entrevista em outubro.
O governo nega qualquer envolvimento no envenenamento. Putin, que se recusa a dizer o nome do seu adversário, afirmou em dezembro que “se alguém quisesse envenená-lo, teriam acabado com ele”.
Buscas e investigações
A polícia fez buscas no apartamento de Navalny em Moscou na quarta-feira (27). Sua esposa, Yulia, gritou pela janela para jornalistas que os policiais quebraram a porta do imóvel e não permitiram a presença da sua advogada.
Também foram feitas buscas em um apartamento onde estava o seu irmão Oleg, nos escritórios da organização de Navalny (o Fundo de Combate à Corrupção) e na residência da sua porta-voz, Kira Iarmych, que foi condenada na sexta-feira (22) a nove dias de prisão.
Investigadores anunciaram nesta quinta-feira (28) que abriram um processo criminal contra Leonid Volkov, aliado próximo de Navalny, por suspeita de incitar adolescentes a participarem de protestos ilegais.
Autoridades anunciaram também investigações por violação de “normas sanitárias” por causa da pandemia do novo coronavírus, convocações de distúrbios, violência contra a polícia e incitar menores a cometer ações ilegais.
O escritório de supervisão das telecomunicações da Rússia anunciou que vai impor sanções a Facebook, Instagram, YouTube, Twitter, TikTok e sites locais por terem permitido mensagens incitando menores a participar dos protestos.
Dezenas de milhares de pessoas foram às ruas no sábado (23) em diversas cidades do país para exigir a liberação do político, que cumpre pena de 30 dias por suposta violação à liberdade condicional — o que ele nega.
Cerca de 4 mil pessoas foram detidas nos protestos, que ocorreram mesmo com a proibição do governo, e os apoiadores de Navalny convocaram um novo protesto para este fim de semana, desta vez em frente à sede da FSB, o Serviço Federal de Segurança (que substituiu a KGB).
Envenenamento com Novichok
Navalny desmaiou em um voo de Tomsk, na Sibéria, para Moscou e só sobreviveu porque o avião fez um pouso de emergência em Omsk, onde foi levado às pressas para a UTI.
Ele chegou a ficar alguns dias internados na Rússia, mas acabou transferido em coma induzido para a Alemanha, onde ficou mais 32 dias internado.
Após uma recuperação de cinco meses na Alemanha, retornou à Rússia no dia 17 e foi imediatamente detido.
Reação internacional
“Estou surpreso de ver até que ponto um só homem, Navalny, parece preocupar ou até amedrontar o governo russo”, afirmou em Washington o novo chefe da diplomacia americana, Anthony Blinken.
O secretário de Estado dos EUA disse que está “profundamente preocupado com a segurança de Navalny” e afirmou que ele é o porta-voz de “muitos russos e deveria ser ouvido, não amordaçado”.
O SNP (Partido Nacional Escocês, em inglês) lançou um plano para realizar um segundo referendo sobre a independência da Escócia, no sábado (23). A sigla governista quer aprovar seu próprio projeto de lei para uma nova consulta caso conquiste maioria nas eleições parlamentares.
O pleito está agendado para 6 de maio. “O governo [do Reino Unido] terá de concordar com isso ou tomar medidas legais para contestar a base legal do referendo”, diz o documento ao qual a Reuters teve acesso.
A medida vai na contramão do que defende Boris Johnson. O primeiro-ministro britânico diz que não há necessidade de uma nova votação, uma vez que os eleitores escoceses rejeitaram a saída em 2014.
Os nacionalistas escoceses, contudo, argumentam que o panorama mudou após o Brexit, a saída oficial de Londres da UE (União Europeia), cuja relação foi encerrada em 31 de dezembro.
Estima-se que 58% da população apoie a independência. O índice é o mais alto dos últimos anos e reflete impopularidade do Reino Unido junto aos escoceses. Em 2014, ano do primeiro referendo, 55% se disseram contrários à saída.
Consequência do Brexit
Com uma maioria contrária à saída do bloco europeu, Edimburgo defende que a ruptura com Bruxelas, selada com um acordo no último dia 24 e concluída na virada do ano, vem “no pior momento possível”.
O país classifica a conduta do governo inglês como “incompetente” em meio à crise da Covid-19. A recessão econômica causada pela pandemia e pelo Brexit também não favorece as relações entre Londres e Edimburgo.
Além da Escócia, uma pesquisa lançada no sábado (23) pelo jornal inglês “The Times” aponta que 51% dos eleitores da Irlanda do Norte são favoráveis à realização de um referendo sobre a independência nos próximos cinco anos.
A reivindicação pela independência escocesa é forte no país e já dura três séculos. A Escócia foi independente entre 843 a 1707, e sua reunificação ao Reino Unido é até hoje motivo de discussão.
A Rússia fornecerá 24 milhões de doses da vacina Sputnik V contra Covid-19 ao México durante os próximos dois meses, disse o presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador, após ligação telefônica nesta segunda-feira com Vladimir Putin.
A promessa do presidente russo marca uma aumento expressivo da meta anterior de 7,4 milhões de doses até março, embora haja dúvidas sobre a capacidade da Rússia de manter a produção.
López Obrador conversou com Putin por telefone apesar de ter anunciado no domingo que ele próprio havia sido infectado com Covid-19 e estava sendo tratado para sintomas moderados.
Durante os primeiros três meses deste ano, dezenas de milhões de doses devem chegar ao México vindas do Gamaelya Center, desenvolvedor da Sputnik V, assim como da CanSino Biologics Inc, da China, da britânica AstraZeneca e da Pfizer.
O órgão sanitário regulador do México ainda não aprovou a Sputnik V, apesar de ter prometido um processo rápido depois de uma autoridade sênior da Saúde ter recebido os dados clínicos durante uma visita à Argentina.
Em 3 de janeiro de 2020 notícias de que algum tipo de doença respiratória estava afetando as pessoas em Wuhan, na China, chegaram à Tailândia. Com o Ano Novo Lunar se aproximando, muitos turistas chineses estavam indo para o país vizinho para comemorar. Cautelosamente, o governo tailandês começou a examinar os passageiros que chegavam de Wuhan no aeroporto, e alguns laboratórios selecionados foram escolhidos para processar as amostras para tentar detectar o problema.
O Centro de Ciências da Saúde e de Doenças Infecciosas Emergentes da Cruz Vermelha tailandesa, em Bangcoc, era um desses laboratórios. A diretora do centro, Supaporn Wacharapluesadee, estava de prontidão, aguardando a entrega das amostras.
Nos últimos 10 anos, Wacharapluesadee fez parte do Predict, um esforço mundial para detectar e combater doenças que podem passar de animais não-humanos para humanos.
Ela e sua equipe pesquisam muitas espécies. Mas seu foco principal tem sido os morcegos, que são conhecidos por abrigar muitos tipos de coronavírus. Sua equipe conseguiu entender a doença — que ainda não era chamada de covid-19 — em questão de dias, detectando o primeiro caso fora da China.
Eles descobriram que, além de ser um vírus novo que não se originou em humanos, o Sars-Cov-2 (que causa a covid) estava mais intimamente ligado a coronavírus que já haviam sido encontrados em morcegos. Graças às primeiras informações, o governo pôde agir rapidamente para colocar os pacientes em quarentena e aconselhar os cidadãos. Apesar de ser um país com quase 70 milhões de habitantes, até 3 de janeiro de 2021 a Tailândia havia registrado 8.955 casos e 65 mortes por covid-19.
A próxima ameaça
Enquanto o mundo luta contra a covid-19, Wacharapluesadee já está preocupada com a próxima pandemia.
A Ásia tem um grande número de doenças infecciosas emergentes. As regiões tropicais têm uma rica biodiversidade, o que significa que também abrigam um grande reservatório de potenciais patógenos, aumentando as chances de surgimento de um novo vírus. O aumento das populações humanas e o contato cada vez maior entre as pessoas e os animais selvagens nessas regiões também aumentam o risco.
Wacharapluesadee e seus colegas descobriram muitos vírus novos ao longo dos anos, a partir de coletas de amostras de milhares de morcegos. Eles encontraram principalmente tipos de coronavírus, mas também outras doenças mortais que podem sofrer mutações e começar a contaminar humanos.
Isso inclui o vírus Nipah, que infecta morcegos frugívoros e outros animais.
“É uma grande preocupação porque não há tratamento e o vírus tem uma alta taxa de mortalidade”, diz Wacharapluesadee.
A taxa de mortalidade de Nipah varia de 40% a 75% dos infectados, dependendo de onde ocorre o surto.
Ela não está sozinha em sua preocupação. A cada ano, a Organização Mundial de Saúde (OMS) analisa uma grande lista de patógenos que podem causar uma emergência de saúde pública para decidir como priorizar seus fundos de pesquisa e desenvolvimento. Eles se concentram naqueles que apresentam maior risco à saúde humana, aqueles que têm potencial epidêmico e aqueles para os quais não há vacinas.
O vírus Nipah está entre os dez primeiros vírus mais perigosos e já causou alguns surtos na Ásia entre humanos. Ele normalmente é transmitido de animais para pessoas, mas pode ser pego por contato direto de pessoa com pessoa ou pelo consumo de alimentos contaminados. Durante o primeiro surto na Malásia, a maioria dos infectados foi contaminada por contato direto com porcos doentes.
Existem vários motivos pelos quais o vírus Nipah é tão preocupante. O longo período de incubação da doença (supostamente até 45 dias, em um caso) significa que há ampla oportunidade para um hospedeiro infectado propagá-la, mesmo sem saber que está doente. Pode infectar uma grande variedade de animais, tornando mais provável a sua propagação.
Alguém com o vírus Nipah pode apresentar sintomas respiratórios, incluindo tosse, dor de garganta, dores no corpo, fadiga e encefalite, um inchaço do cérebro que pode causar convulsões e morte. É uma doença que a OMS gostaria de impedir que se espalhasse.
Risco em toda parte
Battambang é uma cidade às margens do rio Sangkae, no noroeste do Camboja. Na feira, que começa às 5h da manhã, as motocicletas passam zunindo pelos compradores, levantando poeira em seu rastro. Barracas cheias de mercadorias e com lonas coloridas ficam ao lado de barracas improvisadas que vendem frutas deformadas.
Compradores andam de um lado para o outro, com suas sacolas plásticas cheias de compras. Senhoras idosas com chapéus de abas largas avaliam os vegetais à venda. Em outras palavras, é uma feira bastante normal. Até você olhar para cima.
Pendurados silenciosamente nas árvores acima da feira estão milhares de morcegos frugívoros, defecando e urinando em qualquer coisa que passe abaixo deles.
Olhando mais de perto é possível ver que as lonas das bancas do mercado estão cobertas de fezes de morcego.
“Pessoas e animais caminham sob os poleiros, expostos à urina de morcego todos os dias”, diz Veasna Duong, chefe da unidade de virologia do laboratório de pesquisa científica Instituto Pasteur em Phnom Penh e colaborador de Wacharapluesadee.
O mercado de Battambang é um dos muitos locais onde Duong identificou morcegos frugívoros e outros animais entrando em contato com humanos diariamente no Camboja. Qualquer oportunidade para humanos e morcegos frugívoros se aproximarem é considerada uma “interface de alto risco” por sua equipe, o que significa que a transferência de um vírus de morcego para os humanos é altamente possível.
“Esse tipo de exposição pode permitir a mutação do vírus, o que pode causar uma pandemia”, diz Duong.
Os exemplos de proximidade são incontáveis. “Observamos [morcegos frugívoros] aqui e na Tailândia, em mercados, áreas de culto, escolas e locais turísticos como Angkor Wat — há um grande poleiro de morcegos lá”, diz ele. Em um ano normal, o templo Angkor Wat recebe 2,6 milhões de visitantes do mundo todo. Ou seja, são 2,6 milhões de oportunidades para o vírus Nipah pular de morcegos para humanos anualmente em apenas um local.
De 2013 a 2016, Duong e sua equipe lançaram um programa de rastreamento por GPS para entender mais sobre morcegos frugívoros e o vírus Nipah, e para comparar as atividades de morcegos cambojanos com morcegos de outros países.
Dois deles são Bangladesh e Índia. Ambos os países tiveram surtos do vírus Nipah no passado, provavelmente ligados ao consumo de suco de palmeiras de tâmaras. À noite, os morcegos infectados voavam para as plantações de tâmaras e lambiam o suco que escorria das árvores. Enquanto comiam, eles urinavam nos potes utilizados por vendedores para coletar o suco. Moradores compravam o suco de vendedores de rua no dia seguinte e se infectavam com a doença.
Bangladesh teve 11 surtos de Nipah de 2001 a 2011. No total, 196 pessoas foram infectadas e 150 morreram.
O suco de tamareira também é popular no Camboja. Duong e sua equipe descobriram que os morcegos frugívoros do Camboja voam muito longe — até 100 km por noite — para encontrar frutas. Isso significa que os humanos nessas regiões precisam se preocupar não apenas se vivem ou frequentam áreas cheias de morcegos, mas também com produtos que os morcegos possam ter contaminado.
Duong e sua equipe identificaram outras situações de alto risco. Quando acumuladas no chão e secas, as fezes de morcego (chamadas de guano) são um fertilizante popular no Camboja e na Tailândia.
Em áreas rurais com poucas oportunidades de trabalho, vender guano pode ser uma forma de ganhar a vida. Duong identificou muitos locais onde os moradores incentivavam morcegos frugívoros a se empoleirar perto de suas casas para que pudessem coletar e vender guano.
Mas muitos coletores de guano não têm ideia dos riscos que correm.
“Sessenta por cento das pessoas que entrevistamos não sabiam que os morcegos transmitem doenças”, diz Duong.
De volta ao mercado Battambang, Sophorn Deun está vendendo ovos de pato. Questionada se já tinha ouvido falar do vírus Nipah, uma das muitas doenças de risco que os morcegos podem carregar, ela diz: “Nunca. Os moradores não se incomodam com os morcegos, nunca adoeci com eles”.
Educar os moradores locais sobre os morcegos deveria ser uma prioridade, diz Duong.
Destruição do ambiente causa pandemias
Evitar proximidade com morcegos pode ter sido uma tarefa simples em um ponto da história da humanidade, mas, conforme nossa população se expande, os humanos estão cada vez mais destruindo habitats selvagens para atender à crescente demanda por recursos.
E é isso que está aumentando a disseminação de doenças.
“A disseminação desses patógenos e o risco de transmissão aceleram com mudanças no uso da terra, como desmatamento, urbanização e ampliação do uso de terras para a agricultura”, explicam os pesquisadores Rebekah J White e Orly Razgour em um artigo de 2020 da Universidade de Exeter, no Reino Unido, sobre doenças zoonóticas (que são transmitidas de animais para pessoas) emergentes.
Sessenta por cento da população mundial vive nas regiões da Ásia e do Pacífico, onde uma rápida urbanização ainda está ocorrendo. De acordo com o Banco Mundial, quase 200 milhões de pessoas mudaram-se para áreas urbanas no Leste Asiático entre os anos de 2000 e 2010.
A destruição de habitats naturais de morcegos já causou infecções de Nipah no passado. Em 1998, um surto do vírus Nipah na Malásia matou mais de 100 pessoas. Pesquisadores concluíram que os incêndios florestais e a seca desalojaram os morcegos de seu habitat natural e os forçaram a ir para as árvores frutíferas cultivadas nas mesmas fazendas em que havia criação de porcos.
Já foi comprovado que os morcegos liberam mais vírus quando estão sob estresse. A combinação de serem forçados a se mudar e estarem em contato próximo com uma espécie com a qual eles normalmente não interagiriam permitiu que o vírus pulasse de morcegos para porcos e daí para os criadores.
A Ásia abriga quase 15% das florestas tropicais do mundo, mas a região também é líder em desmatamento, com uma perda de biodiversidade crescente. Muito disso se deve à destruição de florestas para dar espaço a plantações de produtos como o óleo de palma, mas também para criar áreas residenciais e pastos para o gado.
Os morcegos frugívoros tendem a viver em regiões de floresta densa, com muitas árvores frutíferas para se alimentar. Quando seu habitat é destruído ou danificado, eles encontram novas soluções — como o telhado de uma casa ou as torres de Angkor Wat, explica Duong. É provável que os morcegos que a equipe de Duong viu voarem até 100 km por noite em busca de frutas estejam fazendo isso porque seu habitat natural não existe mais.