A comarca de Gurinhém viveu, na última quarta-feira (26/11), um dos julgamentos mais intensos de sua história recente no Tribunal do Júri. O caso, que há muitos anos mobilizava a cidade, envolvia acusações graves de feminicídio e lesão corporal, temas que historicamente evocam dor, revolta e urgência social. O réu estava preso preventivamente há mais de um ano, aguardando o julgamento que finalmente aconteceu sob os olhos atentos de uma sociedade profundamente impactada.
À frente da defesa, estiveram a advogada criminalista Dra. Leonara Marinho, e os advogados Dr. Neto Gouveia e Dr. Roberto Nascimento, que protagonizaram uma atuação técnica, estratégica e impecavelmente minuciosa, imprimindo ao julgamento um caráter institucional e pedagógico.
Desde o amanhecer, a cidade parecia respirar diferente cadeiras foram ocupadas antes mesmo do início da sessão, corredores viraram extensão do plenário e o silêncio reverente foi prova do tamanho do momento. Não era apenas público, era presença. A sociedade lotou completamente o plenário, com olhares fixos, lágrimas silenciosas e corações acelerados, um ambiente onde até quem já experimentou dezenas de Tribunais do Júri reconheceu a singularidade da ocasião.

Em meio à expectativa coletiva, a defesa cumpriu com maestria aquele papel essencial que muitas vezes é mal compreendido, mas que sustenta a própria ideia de democracia e justiça: a defesa técnica. A banca defensiva mergulhou nas provas, examinou laudos, cruzou depoimentos, expôs contradições com precisão cirúrgica e reconstruiu a dinâmica dos fatos com um rigor que transcendia a narrativa e alcançava a verdade processual. Sem celebrações estridentes, sem teatralizações, sem excessos, o desfecho foi percebido , sentido, nas entrelinhas do próprio rito.
A tese defensiva encontrou ressonância no Conselho de Sentença de maneira natural, consistente e respeitosa, reafirmando a força do contraditório e da ampla defesa. O silêncio que tomou conta do plenário ao final da sessão não era indecisão, era impacto. Era reconhecimento de que justiça não se constrói no grito, mas na prova; não se sustenta na opinião, mas na técnica; não se firma no imediatismo, mas na minuciosa lapidação do processo.

A atuação da Dra. Leonara, do Dr. Neto e do Dr. Roberto passa a integrar o repertório histórico da advocacia criminal na região, não apenas pelo desfecho jurídico percebido no curso do rito, mas pela firmeza responsável, análise minuciosa e compromisso institucional com o Estado Democrático de Direito. Mais do que um julgamento, o que aconteceu em Gurinhém foi um lembrete poderoso para todos os presentes e ausentes: a defesa não protege o crime, protege a justiça; não reprisa paixões, devolve razão; não ecoa clamores, revela provas; não é favor, é civilização.
Gurinhém não apenas assistiu a um caso marcante, viveu um capítulo que será lembrado em cada banco de faculdade, mesa de escritório e plenário do futuro, porque naquele 26 de novembro ficou nítido: onde a emoção chega primeiro, a técnica precisa chegar mais fundo e a defesa chegou. Muito mais fundo.


