A localização geográfica da Paraíba protegeu o estado, até este fim de semana, da chegada das grandes manchas de óleos que vêm atingindo mais de 700 localidades em 720 praias do Nordeste nos últimos meses. A afirmação é do professor do Departamento de Sistemática e Ecologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Bráulio Santos, que explicou que a combinação de correntes marítimas, ondas, marés e ventos influencia nessa “proteção natural”.
O material que já foi identificado em praias paraibanas, desde então, é considerado resquício das grandes manchas de óleo. Houve registro de óleo em Pitimbu, Barra de Gramame e na praia do Bessa, em João Pessoa.
De acordo com o especialista, a circulação das águas do Atlântico Sul é a grande explicação do fenômeno. Primeiro, o processo acontece a partir da corrente marítima conhecida como Sul Equatorial, que sai do sul da África em direção à Paraíba.
“Quando chega mais ou menos a uns 500 quilômetros de distância, em águas internacionais, essa corrente se bifurca, mais precisamente, na frente do nosso estado”, explica Bráulio Santos.
Bráulio acrescenta que parte da corrente vai para o Norte e outra para o Sul, isentando a Paraíba. “A que vai para o norte vai passar mais na costa do Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e segue rumo ao Caribe. A parte que vai para para o Sul, conhecida também como Corrente do Brasil, ela desce e se aproxima da costa, quando chega na altura do recôncavo baiano ela se aproxima ainda mais da costa. Por isso que as grandes manchas começaram a sujar praias de Sergipe, Alagoas e norte da Bahia”.
Conforme explicou o professor, a água que circula perto do recôncavo baiano é bem mais influenciada pelos ventos alísios que sopram do Sul para o Norte. “Esse vento é o que a gente vê aqui [na Paraíba], e ele acaba empurrando o oceano para próximo à Costa”, ressaltou Bráulio. Por conta desse processo natural, o padrão de contaminação nas praias “veio subindo, atingindo a Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco e não veio até a Paraíba por que ela estava no final dessa fila”, acrescentou.
Ressurgimento das manchas de óleo
O professor explicou, ainda, que o material contaminante pode voltar a ser visto nas praias que já foram atingidas. Isso pode acontecer com o movimento da maré e da ondulação, que estoura na areia. Caso tenham fragmentos “escondidos”, elas podem ressurgir com a influência da combinação dos dois processos naturais.
“A combinação de uma maré cheia com ondulações grandes (porque o vento acelerou), o material arrebenta junto na onda e ele acaba sendo fragmentado. Quando a onda quebra ela joga areia em cima desse material, aí vem a maré e varre essa areia toda e deposita outra parte de areia, conforme a maré enche novamente”, explicou o pesquisador.
Ainda conforme explicou, o mesmo movimento da própria ondulação e da maré pode trazer esses fragmentos de óleo à superfície outra vez, tornando o material visível.