Mais de 80 passageiros do cruzeiro australiano Greg Mortimer, ancorado no Uruguai, têm o novo coronavírus, confirmaram nesta segunda-feira (6) fontes oficiais à AFP.
“Dos 126 testes que foram processados até o momento foram detectados 81 casos suspeitos de Covid-19 entre passageiros e tripulação”, informou a empresa australiana Aurora Expeditions, garantindo ao mesmo tempo que há 90 exames pendentes, cujos resultados serão conhecido entre as próximas 12 e 24 horas.
Até agora, o governo uruguaio permitiu o desembarque de seis pacientes “com risco de vida”. Segundo a imprensa local, seriam três australianos, dois filipinos e um britânico.
Já o restante dos passageiros e tripulantes permanecem retidos no navio ancorado a 20 km do porto de Montevidéu por quase dez dias.
“Sabemos que existe uma porcentagem relativamente alta de pessoas infectadas, mas apenas seis precisam ser transferidas para hospitais em Montevidéu porque estão em risco de vida”, disse o ministro das Relações Exteriores do Uruguai, Ernesto Talvi, na noite de domingo em declarações a uma emissora local.
Para os outros, “não portadores de coronavírus, assintomáticos ou com sintomas leves”, o governo está avaliando a criação de “um corredor humanitário” que lhes permita embarcar em um avião para a Austrália.
“Estamos conversando com o governo australiano para tentar fazer esse voo o mais rápido possível”, acrescentou Talvi.
Sebastián Yancev, um dos 21 profissionais de saúde que envolvidos no atendimento a embarcação, explicou nesta segunda-feira que o alto índice de infecção dentro do navio pode ser devido a erros nas primeiras medidas tomadas, como isolar grupos de pessoas entre as quais havia pacientes assintomáticos.
“Quando abrimos as portas das cabines, tínhamos pessoas negativas com pacientes positivos a longo prazo, essa foi a nossa primeira surpresa”, disse o médico ao canal 4 de Montevidéu.
Dadas as condições das cabines, “já supomos que, embora essas pessoas fossem negativas, a possibilidade de desenvolver sintomas é extremamente alta”.
Em relação à primeira fonte de contágio, Yancev disse que provavelmente ocorreu em Ushuaia, a cidade do sul da Argentina de onde o cruzeiro partiu em 15 de março.
Uma reportagem da Folha de S. Paulo revelou que a China cancelou a venda de 600 respiradores que haviam sido adquiridos pelo Consórcio Nordeste. Os equipamentos estão avaliados em R$ 42 milhões, mas o dinheiro não chegou a ser repassado pelo consórcio.
A carga teria ficado retida no aeroporto de Miami (EUA), onde já estava aguardando conexão para ser transportada para o Brasil. O secretário da Casa Civil da Bahia, Bruno Dauster, disse que os chineses “alegaram apenas razões técnicas” para o cancelamento.
A empresa responsável pela carga, que não teve o nome revelado, teria dito, ainda, que o material seria destinado a outro país. A desconfiança é que os respiradores sejam utilizados pelos EUA, país que hoje é o principal foco de infecção.
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O estudo mostrou que alguns anticorpos no sangue de quem conseguiu se recuperar da doença podem eventualmente impedir o vírus de entrar nas células Os anticorpos não são uma vacina, mas existe a possibilidade de aplicá-los em pessoas do grupo de risco com o objetivo de impedir que contraiam.
Um grupo de cientistas chineses isolou vários anticorpos que diz serem “extremamente eficientes” para impedir a capacidade do novo coronavírus de entrar nas células, o que pode ser útil tanto para tratar como para prevenir a Covid-19.
Atualmente, não existe tratamento comprovadamente eficaz para a doença, que surgiu na China e está se proliferando pelo mundo na forma de uma pandemia que já infectou mais de 850 mil pessoas e matou 42 mil.
Zhang Linqi, da Universidade Tsinghua, de Pequim, disse que um remédio feito com anticorpos como os que sua equipe descobriu poderia ser usado de forma mais eficaz do que as abordagens atuais, incluindo o que ele chamou de tratamentos “limítrofes”, como o plasma.
O plasma contém anticorpos, mas é limitado pelo tipo de sangue.
Saiba mais:
No início de janeiro, a equipe de Zhang e um grupo do 3º Hospital Popular de Shenzhen começaram a analisar anticorpos do sangue colhido de pacientes recuperados da Covid-19, isolando 206 anticorpos monoclonais que mostraram o que ele descreveu como uma capacidade “forte” de se ligar às proteínas do vírus.
Depois eles realizaram outro teste para ver se conseguiam de fato impedir que o vírus entrasse nas células, disse ele em entrevista à Reuters.
Entre os cerca de 20 anticorpos testados, quatro conseguiram bloquear a entrada viral, e destes dois foram “imensamente bons” para fazê-lo, disse Zhang
Agora a equipe se dedica a identificar os anticorpos mais poderosos e possivelmente combiná-los para mitigar o risco de o novo coronavírus sofrer uma mutação.
Se tudo der certo, desenvolvedores interessados poderiam produzi-los em massa para testes, primeiro em animais e futuramente em humanos.
O grupo fez uma parceria como uma empresa de biotecnologia sino-norte-americana, a Brii Biosciences, na tentativa de “apresentar diversos candidatos para uma intervenção profilática e terapêutica”, de acordo com um comunicado da Brii.
“A importância dos anticorpos foi provada no mundo da medicina há décadas”, afirmou Zhang. “Eles podem ser usados para se tratar câncer, doenças autoimunes e doenças infecciosas”.
Os anticorpos não são uma vacina, mas existe a possibilidade de aplicá-los em pessoas do grupo de risco com o objetivo de impedir que contraiam a Covid-19.
Normalmente não transcorrem menos de dois anos para um remédio sequer obter aprovação para uso em pacientes, mas a pandemia da Covid-19 acelera os processos, disse ele, e etapas que antes seriam realizadas sequencialmente agora estão sendo feitas em paralelo.
Extra
O economista italiano Luigi Zingales é professor há quase 30 anos na faculdade de negócios da Universidade de Chicago, celeiro de ideias capitalistas liberais na qual o ministro da Economia, Paulo Guedes, se orgulha de ter estudado. Os dois discordam, no entanto, sobre os caminhos a seguir diante da pandemia de coronavírus que já contaminou 660 mil pessoas e matou ao menos 30 mil no mundo todo.
Guedes e sua equipe defendem o isolamento vertical, em que só pessoas consideradas de grupos de risco tem sua circulação restringida, mas têm tido dificuldade de se desvencilhar dos limites do teto de gastos públicos e defenderam uma ajuda às famílias vulneráveis de um quinto de salário mínimo.
Zingales afirma que a crise de Covid-19 exige uma resposta dos governos à altura de um esforço de guerra e que deveriam fazer todo possível para manter o maior número possível de seus cidadãos em casa.
O economista italiano defende a criação de uma renda emergencial universal, condicionada ao cumprimento do confinamento por semanas. O dinheiro viria da taxação de riquezas, uma pauta historicamente ligada à esquerda no Brasil, e da impressão de moeda, com o cuidado de manter a inflação sob controle.
Autor de Saving Capitalism from the Capitalists (2003; Salvando o Capitalismo dos Capitalistas, em tradução livre) e A Capitalism for the People: Recapturing the Lost Genius of American Prosperity (2012; Um capitalismo para o povo: recuperando o talento perdido da prosperidade americana, em tradução livre), o economista é considerado um dos mais importantes pensadores liberais da atualidade.
Ele diz que não se baseia em um imperativo moral ao recomendar a quarentena irrestrita. A partir dos dados disponíveis da pandemia, ele calcula que, nos Estados Unidos, se o governo não fizer nada para reduzir a circulação do vírus, isso custaria o equivalente a três vezes o PIB anual americano.
Zingales conhece pessoalmente as agruras impostas por pandemias: em 1919, a irmão de seu avô morreu em decorrência da gripe espanhola. Agora, o economista acompanha com aflição o quadro de saúde da filha, que vive em Paris e está infectada pelo Sars-Cov-2, nome oficial do novo coronavírus.
Zingales falou à BBC News Brasil por telefone. Ele tem respeitado quarentena, embora Chicago, onde vive, não seja um epicentro da doença no país.
BBC News Brasil – Existe realmente uma escolha entre garantir a saúde das pessoas ou manter a economia dos países nos trilhos?
Luigi Zingales – Se você puder conter cedo os efeitos da epidemia, se fizer o que a Coreia do Sul fez, testagem e rastreamento em massa desde o ínício para evitar o espalhamento do vírus, você salva vidas e você salva a economia. Dá pra fazer as duas coisas ao mesmo tempo. No entanto, conforme as coisas se desenrolam, fica difícil conter o espalhamento do vírus sem alguma forma de confinamento. E confinamento é apenas uma das peças do pacote de ações. Sozinho, ele não é suficiente, mas é sim um passo necessário. E, com o confinamento, você tem algumas repercussões negativas na economia. Não nego isso. Mas o problema fundamental é: se não tomarmos nenhuma precaução pra conter a epidemia, quantas pessoas vão morrer porque temos capacidade limitada nos hospitais? Esse é o maior problema que temos de enfrentar agora.
Zingales – Em primeiro lugar, existem muito mais considerações além da questão econômica nessa decisão de confinar ou não as pessoas. Mas, mesmo se não quisermos mencionar a moralidade do dilema e quisermos nos ater a um cálculo puramente econômico, os economistas criaram uma ferramenta para lidar com essas situações, que se chama análise de custo e benefício. Em termos técnicos, a gente assume que podemos estimar valores para todas as coisas, o que na prática, não é tão simples, claro.
Mas, neste raciocínio, a análise de custo benefício vai colocar um valor em cada vida que nós salvarmos. Pra saber se vale a pena manter essas políticas de confinamento, precisamos saber quantas vidas podemos salvar com elas, o que é extremamente difícil de responder, porque temos uma escassez de dados bons, e o desejável seria ter muito mais do que temos no momento. Mas o desafio era esse, e fiz esse cálculo: é claro que há espaço para variações, mas a conclusão é que a quantidade de perdas de vidas é comparável à perda de todo o PIB americano em 3 anos. O valor da estimativa para a vida humana nos Estados Unidos pode variar entre US$ 7 milhões e US$ 10 milhões (nota da redação: Zingales se baseia no valor estimado pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, que usa o valor para calibrar medidas antipoluição, por exemplo).
Vamos considerar então um valor entre um ponto e outro: US$ 9 milhões. Se você puder salvar um milhão de vidas — na verdade é muito mais — é como se você tivesse deixado de perder US$ 9 trilhões, o que equivale a um terço do PIB. Então, você poderia interromper completamente a atividade econômica dos Estados Unidos por quatro meses para chegar no mesmo nível de perda. (nota da redação: considerando os dados de estimativas de doentes e o percentual de letalidade da doença em sistemas de saúde saturados, Zingales afirma que sem qualquer medida de contenção, a epidemia pode custar US$ 65 trilhões aos Estados Unidos, ou o equivalente a três vezes o PIB anual do país).
Mas a boa notícia é que não é preciso paralisar toda a economia para cumprir a quarentena. Muitas coisas hoje seguem funcionando remotamente, mesmo com as pessoas em casa. Claro que haverá sim grandes perdas econômicas, mas, a partir dos cálculos, concluímos que vale a pena encará-las. Existe uma segunda questão da qual vamos ter que cuidar e que é igualmente importante à preservação das vidas: precisamos distribuir os custos do combate à pandemia. Por um lado, sabemos que a doença mata mais os idosos, não apenas eles, mas majoritariamente eles. E, ironicamente, todas as medidas que estamos tomando para parar o vírus, como o distanciamento social, tendem a prejudicar mais economicamente os jovens e os mais pobres. Isso porque os mais velhos costumam ter algum tipo de aposentadoria, então, mesmo trancados em casa, eles estão com essa renda garantida. O mesmo vale pra quem faz trabalho intelectual, que pode ser feito de casa. Mas quem faz trabalho manual vai ser impedido de trabalhar pelo confinamento. Então, vai ser necessário redistribuir essa renda, dos mais velhos pros mais novos, dos mais ricos pros mais pobres
Por isso o Congresso americano aprovou o maior pacote de estímulo econômico da história na semana passada, com seus US$ 2 trilhões em orçamento, certo?
Zingales – Sim, a redistribuição é uma política necessária. Mas tenho grandes dúvidas se os Estados Unidos estão fazendo isso certo, porque me parece que eles estão mais garantindo subsídios a empresas do que realmente distribuindo para as famílias jovens.
Zingales – Acho que, a princípio, é compatível, mas, na prática, não me parece estar sendo bem feito. Em 2003, escrevi um livro chamado Salvando o capitalismo dos capitalistas. Um dos pontos que argumentava ali é que é muito importante ter alguma rede de proteção social, porque, quando há uma crise, como a atual, que força os governos a intervir, os governantes tomarão as medidas sob pressão, e essa intervenção vai ser distorcida pelos grupos de interesse. Se você cria um sistema preventivo de seguridade social, você tende a ter algo mais eficiente.
Infelizmente a atual pandemia de coronavírus comprova a minha tese. Países que têm sistemas de bem estar social mais consolidados, como a Dinamarca, o Norte europeu, estão se saindo muito melhor em lidar com a crise, sem a necessidade de uma série de intervenções agudas, como as que estamos vendo nos Estados Unidos, onde não há rede de proteção social.
Mas essas intervenções emergenciais são altamente distorcidas, e é por isso que o Senado americano aprova um pacote de US$ 2 trilhões, o que em tese significaria conceder US$ 6 mil por pessoa ou US$ 24 mil por família, mas ninguém vai receber isso tudo de dinheiro (a estimativa é que cada família receba US$ 1,2 mil). E a maior parte desse valor vai ser dado pra empresas, e muita gente vai ganhar muito dinheiro no caminho. Então, isso é um tipo terrível de socialismo corporativista.
Muitas pessoas têm questionado o fato de que são cobradas a ter reservas financeiras para viver por 6 meses sem salário, mas que não se cobra das empresas que tenham poupanças para casos de crise como esse. Por que há essa diferença de tratamento dos governos entre pessoas e empresas?
Zingales – Infelizmente, é verdade que grupos organizados recebem mais atenção do governo do que indivíduos. Então, as empresas, especialmente as maiores, são as instituições mais organizadas e influentes. Aqui nos Estados Unidos, as empresas sustentam a atividade política. Se meu doador de campanha me diz ‘preciso de ajuda’, eu vou ouví-lo e vou provalvelmente atendê-lo. Nenhum indivíduo sozinho tem essa força.
BBC News Brasil – Pensando na diferença entre países ricos e países pobres, o que você acha que vai acontecer de diferente no combate à crise do ponto de vista tanto da saúde quanto da economia em países como Brasil, Índia, México?
Zingales – Na minha visão, as diferenças não se devem tanto à riqueza de um país, mas à qualidade de suas instituições e, infelizmente, há uma grande correlação entre essas duas variáveis. O que vimos até agora foi mais uma divisão mais entre Ocidente e Oriente do que propriamente entre Norte e Sul. Se você pega o jeito como Taiwan, Coreia, Singapura responderam à crise, eles foram muito mais eficientes do que países com governos menos organizados, como Itália e Espanha, que estão protagonizando desastres.
Claro que quanto mais cedo a pandemia chega a seu país, menor seu tempo de resposta, e isso pode afetar a qualidade da sua reação. Em parte, acho que a Itália também sofreu por isso. Na América Latina, curiosamente, o problema chegou por último, havia muito tempo para se planejar, mas os países latinos basicamente desperdiçaram essa vantagem. E, para piorar, no Brasil, Bolsonaro não está levando o vírus a sério, então, o país está começando a guerra com uma desvantagem imensa.
Infelizmente, a solução para a questão é a mesma para todos os países, desenvolvidos ou não: diminuir o espalhamento da doença por meio do confinamento geral, testar o máximo de pessoas, rastrear e isolar os infectados, tenham eles sintomas ou não. E a capacidade de fazer isso depende de duas coisas: primeiro, da quantidade de infectados, e segundo, da eficiência do governo e da administração pública.
Meu medo é que, nos Estados Unidos, a organização pública já não é particularmente eficiente, mas não é tão ineficiente quanto no Brasil. E se você tem um percentual alto de infectados, é praticamente impossível seguir o modelo coreano. Está fora de questão rastrear metade da população. O que me aterroriza é que chegamos a uma situação muito dramática: se você tem muita gente contaminada em meio a uma sociedade aberta, é impossível ter a quantidade de leitos necessária para tratar todo mundo. Então, você tem um aumento na mortalidade.
Zingales – Essa é uma pergunta muito difícil, não só pelo que você listou, mas, sem querer fazer parecer ainda pior, a economia brasileira depende muito de commodities. Os preços das commodities estão em baixa, e é esperado que continuem assim no futuro próximo. Então, acho que a perspectiva para a economia brasileira não é assim tão boa. Então, se eu fosse o ministro, tentaria dividir as medidas entre o que é necessário imediatamente para vencer o vírus e o que fazer depois pra consertar a economia. Em uma situação de guerra, você resolve primeiro o perigo mais iminente, depois se preocupa com o resto. E o principal problema agora é conter o espalhamento da doença.
Então, o Brasil deveria fazer esforço de guerra para manter as pessoas em casa. E, nesse caso, isso significa que você precisa dar alguma forma de seguro desemprego, alguma renda mínima universal ou para uma grande fração da população por um período de tempo, e condicionando isso a ficar em casa. Precisa haver um incentivo muito forte para ficar em casa, e a melhor forma de fazer isso é por meio de um subsídio agora e no futuro próximo, condicionados a você não ser pego perambulando pela rua e arruinando o plano. Se você violar o toque de recolher, você perde o benefício. Se ficar doente, vai para o isolamento em um hospital.
Se o governo age dessa maneira, consegue a atenção das pessoas, as sensibiliza. A questão é que não parece haver entendimento político e vontade política para seguir esses passos. E, sinceramente, acho que esse é agora o maior problema no Brasil. Numa situação como essa, quanto mais você espera para fazer o que é necessário, maior será o custo disso. Você começou essa entrevista me perguntando se eu via uma contradição entre salvar vidas e salvar a economia, e o que te disse foi: não há desde que você aja cedo. Mas se você esperar, há sim.
O mais triste é que essa crise acontece em um momento muito difícil para (o presidente americano Donald ) Trump, por causa das eleições (presidenciais, em novembro). Mas Bolsonaro tem muito mais tempo de mandato pela frente que Trump e poderia ter entendido isso, tomado uma ação, mesmo que isso afetasse sua popularidade nesse momento, porque o resultado no longo prazo o recuperaria disso. O risco de pandemia era claro e foi subestimado.
BBC News Brasil – Seu raciocínio de custo-benefício implica que, de qualquer maneira, o impacto sobre a economia será muito alto. Se a crise custar US$ 2 trilhões a cada dois ou três meses só nos EUA, ou se o Reino Unido vai bancar 80% dos salários pelos meses que a crise durará, qual será o resultado de um endividamento tão grande dos governos depois da crise?
Zingales – Sim, você tem razão nesta preocupação, porque, em nosso cálculo, estimamos o valor de vidas humanas, mas não estamos criando renda monetária a partir disso, então, os governos terão que fazer dívidas que terão de pagar em algum momento. E, para países como o Brasil ou a Itália, países que não são desenvolvidos, é muito mais difícil pagar do que para países como Estados Unidos, que, por terem uma moeda forte, podem contrair dívidas altas sem detonar uma crise de confiança. É difícil traçar essa linha para países como o Brasil fazer o que quer que seja necessário para salvar vidas, porque, ao fazer isso, pode se chegar ao ponto em que não se consegue mais dinheiro emprestado. E entra um novo cálculo de custo benefício: quão longe podemos ir com essa política sem que nossa situação fique muito ruim.
Isso traria o benefício de salvar o país do desespero, um bem público geral. Mas quem ganha mais com isso são os ricos, porque não só salvam suas vidas como também preservam muito do valor de sua riqueza. Parece contraditório, mas é simples: imagine um país que perdeu um percentual grande de sua população, um monte de coisas simplesmente perdem o valor ali já que a demanda cai drasticamente. Então, em uma situação como essa, é preciso ao menos criar esse imposto sobre fortunas para poder ser mais agressivo em custear uma redistribuição de renda que permita o confinamento da população.
É claro que sempre existe o risco de uma fuga de capitais, de as pessoas simplesmente tirarem seu dinheiro do Brasil, mas é justamente pra isso que o Brasil precisa melhorar seus sistemas de rastreamento de dinheiro. Não sei se o Congresso brasileiro estaria disposto a dar esse passo, mas certamente seria uma linha racional de ação.
Zingales – É sempre uma combinação de fatores. As regiões que se saíram melhor, como Veneto, de onde eu venho, adotaram testes massivos, rastreamento de infectados e um isolamento maior. Na Lombardia, eles foram arrogantes e descuidados. Um pouco como o Bolsonaro. Na verdade, o Prefeito de Milão foi às ruas no fim de fevereiro, com um drink em mãos, pra dizer que ali a doença não os tinha abatido. Isso foi um erro gigante.
O Japão poderia ser um dos países mais afetados pelo novo coronavírus. Foi um dos primeiros a confirmar pessoas infectadas, poucos dias depois de a China emitir um alerta sobre a doença.
Além disso, segundo o Banco Mundial, sua população acima de 65 anos é a maior do mundo (28% do total), superando a Itália, que se mostrou especialmente vulnerável nesta pandemia.
O Japão também tem um elevado consumo de tabaco, o que ajuda pouco na hora de combater doenças respiratórias, e enorme densidade populacional, com quase 127 milhões de habitantes em um território quase do tamanho do Mato Grosso do Sul, Estado onde vivem 2,6 milhões de brasileiros.
Mas, até agora, o país registrou 1.307 infectados e 45 mortos pela covid-19 e não adotou quarentenas em cidades ou isolamento obrigatório de seus cidadãos para evitar a propagação do vírus.
Para além do cancelamento de eventos esportivos, como a Olimpíada de 2020, e de escolas fechadas, os japoneses têm seguido suas vidas de maneira mais ou menos normal.
Isso ficou ainda mais evidente em 22 de março, quando milhares de cidadãos foram às ruas e a parques para admirar as cerejeiras em flor.
Como disse a governadora de Tóquio, Yuriko Koike, abandonar esse festival de primavera para os japoneses seria como “abandonar os abraços para os italianos”.
Havia tanta gente nas ruas que a própria governadora pediu que os moradores da capital do Japão não saíssem de suas casas a não ser por razões estritamente essenciais.
Apesar do relativo sucesso na contenção da epidemia, há um grande temor no país de que o vírus esteja se espalhando silenciosamente no país, com uma aceleração do número de pessoas doentes. E que isso leve a medidas mais duras, como quarentenas obrigatórias.
Mas até agora a estratégia japonesa tem funcionado e intrigado pesquisadores.
Isolar grupos de contágio
De acordo com o número de infectados e mortos pelo coronavírus, o Japão é um dos países mais desenvolvidos que menos foram afetados.
Mas por quê?
Segundo Kenji Shibuya, diretor do Instituto de Saúde da População do King’s College, em Londres, o Japão é muito eficiente em testar pessoas em busca do vírus, identificar grupos de contágio e isolá-los.
“A única maneira de lidar com qualquer pandemia é testar e isolar. E muitos países não ouviram. No Japão, eles estão desesperados para rastrear os infectados. E estão indo bem em termos de identificar e isolar os grupos doentes”, disse à BBC News Mundo (serviço da BBC em espanhol).
Mas ainda assim, segundo o pesquisador, o país não tem realizado a quantidade de testes que deveria. E isso pode levar a um aumento drástico no número de pessoas infectadas.
“Os testes no Japão estão muito atrás de outros países. E minha preocupação é que exista um grupo de pessoas infectadas, sem sintomas, que não foram detectadas, além de casos importados de outros países.”
“Se isso estiver acontecendo”, advertiu, “temo que possa haver uma explosão no surto”.
Distanciamento social
Outro argumento que pode explicar o sucesso do Japão é o distanciamento social que, mesmo antes do surto de coronavírus, já estava bem estabelecido na cultura.
“Os japoneses são bastante conscientes da higiene, muito mais do que em outros lugares. Além disso, muitas pessoas usam máscaras nas ruas por questão cultural, então há menos chances de transmissão”, explica Benjamin Cowling, professor de epidemiologia da Universidade de Hong Kong.
Shibuya também aponta para a “propensão japonesa à higiene” e a aspectos culturais como “evitar abraços” como fatores que contribuiram para a menor propagação do coronavírus.
Mas ele lembra que esses fatores parecem ter tido pouco impacto em outros países.
“No Reino Unido, as pessoas também começaram a se distanciar, a trabalhar em casa e a usar máscara. E os casos ainda estão aumentando”, afirma.
De todo modo, existe um consenso no Japão de que a decisão antecipada do governo de fechar escolas e suspender grandes eventos público, além de insistir na necessidade de respeitar as novas normas sociais desde o início, ajudou a controlar a disseminação.
Mas isso pode mudar. O governo liderado pelo primeiro-ministro, Shinzo Abe, anunciou que reabrirá as escolas em abril.
E, a julgar pelo que foi visto no último final de semana, com os japoneses reunidos para admirar as flores de cerejeira, as pessoas já começaram a levar menos a sério as medidas de distanciamento social.
Isso preocupa os especialistas
“Acho que não é uma boa ideia enviar um sinal de que estamos indo bem e reabrir escolas em todo o país ou retomar eventos. Essa é uma mensagem errada. Precisamos ter muito cuidado, caso contrário, podemos ter situações semelhantes ao que acontece nos Estados Unidos ou em países europeus”, diz Shibuya, do King’s College.
Reduzir a transmissão
Se você comparar a curva de contágio no Japão com a de outros países, como Itália, Espanha e EUA, conseguirá perceber como os japoneses foram bem sucedidos.
Ou seja, até agora, mesmo que ainda surjam casos novos todos os dias, esse montante não sofreu um aumento acentuado em nenhum momento.
Esse conceito de “achatar a curva”, evitando que muitas pessoas fiquem doentes ao mesmo tempo, é o que muitos países buscam. Para especialistas, essa estratégia é chave para “retardar e conter” a covid-19.
Manter a pandemia controlada tem evitado também que o sistema de saúde entre em colapso. Segundo dados do Banco Mundial, o Japão tem 13 leitos hospitalares para cada mil habitantes, mais do triplo da Itália. O Brasil tem 2 para cada mil habitantes.
Por isso, segundo especialistas, a estratégia do Japão sem quarentenas massivas deve ser vista com cautela por países menos desenvolvidos.
“Todos nós estamos tentando encontrar lugares e exemplos onde os números permanecem baixos sem tamanha paralisação da sociedade. Porque não podemos continuar com o bloqueio, mas ao mesmo tempo não podemos voltar à vida normal, que tínhamos seis meses atrás, porque é muito fácil para o coronavírus espalhar”, afirmou Cowling, da Universidade de Hong Kong.
“Precisamos encontrar algo intermediário, e talvez a experiência japonesa seja mais sustentável”, acrescentou.
BBC NEWS
A Itália, o país mais atingido pelo novo coronavírus, aumentou em 64% o número de leitos disponíveis nos serviços de terapia intensiva, anunciou uma autoridade do governo.
“Os leitos de terapia intensiva na Itália passaram de 5.343 para 8.370, o que representa um aumento de 64%”, declarou o alto comissário para a luta contra o coronavírus, Domenico Arcuri.
O número de leitos em pneumologia e doenças infecciosas passou “de 6.625 para 26.169, ou seja, quadruplicou”, acrescentou Arcuri.
“Precisamos de mais material, mais leitos, mais pessoal: precisamos lançar uma revolução em nosso sistema de saúde”, disse o funcionário.
A epidemia de Covid-19 já matou mais de 6.000 pessoas na Itália. Há quase 64 mil infectados, de acordo com os dados da universidade dos EUA Johns Hopkins.
Máscaras em demanda
Arcuri estimou que são necessários 90 milhões de máscaras por mês para atender à demanda.
“O setor têxtil nos garantirá 50 milhões por mês, mas precisamos de pelo menos 90 milhões. Contamos com a adesão (ao programa de produção) de outras empresas para alcançar a auto-suficiência”, insistiu.
“Em um horizonte de dois meses” a Itália dependerá “menos das importações, da concorrência entre os países e da guerra comercial em que estamos afundados”, afirmou.
Enquanto isso, a cada semana, “8 milhões de máscaras FFP2-3 e 6 milhões de máscaras cirúrgicas chegarão da China a partir de 29 de março. Nossos aviões irão coletar o material onde quer que esteja”, disse ele.
Em relação aos respiradores artificiais, “passamos de 13 para 17 distribuídos por dia, cinco vezes mais”, disse Arcuni.
“Ainda é pouco, mas estamos confiantes de que os números podem subir rapidamente para as metas que estabelecemos”, afirmou.
Uma onda de solidariedade tomou conta dos hospitais da Paraíba nesta quinta-feira (19). Os profissionais da saúde adotaram a campanha ‘Estamos aqui por vocês. Fiquem em casa por nós’. Essa frase está estampada em cartazes que os enfermeiros e médicos fizeram em uma foto para pedir aos paraibanos que fiquem em casa como forma de proteção ao novo coronavírus (COVID-19).
Entre os locais que participaram da campanha está o Hospital de Trauma, em Campina Grande, Hospital Regional em Cajazeiras, Hospital Infantil em Catolé do Rocha, Hospital Nova Esperança, Hospital São Vicente, Hospital Alberto Urquiza Wanderley em João Pessoa, entre outros.
A mensagem repassada pelos profissionais, segue a tendência de pedidos de médicos e enfermeiros de hospitais ao redor do mundo com a hastag #fiqueemcasa, que é uma campanha internacional.
Na Paraíba, já são 80 casos suspeitos e 1 confirmado. No Brasil já são cinco mortes confirmadas pelo coronavírus. O secretário de saúde Geraldo Medeiros reforçou que o melhor remédio no momento é o isolamento domiciliar, “esse tem sido visto como a melhor estratégia para evitar o contágio.”
Segundo o Ministério da Saúde, os hospitais também determinaram medidas de prevenção. As orientações dão conta de que visitas em enfermarias e UTIs coronárias, gerais e neonatais só são permitidas por uma hora por dia, dos avós estão suspensas a ala dos recém-nascidos, e somente um acompanhante adulto é permitido a permanência e visitas a áreas de isolamento estão proibidas.
O novo coronavírus, identificado na China ainda no ano passado, é denominado de SARS-CoV-2, uma família de vírus que causa problemas respiratórios e que pode ser transmitido a partir do contacto humano. Vistos ao microscópio, o coronavírus parece ter uma coroa de espinhos à sua volta, daí o nome.
A doença se espalhou rapidamente pelo mundo, matando até o momento 9 mil pessoas. Suas vítimas são acometidas por uma síndrome respiratória do Médio Oriente (MERS-CoV) e a síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV).
A Itália registrou 368 novas mortes relacionadas com o novo coronavírus em 24 horas, o que eleva o número de vítimas fatais a 1.809 no país, o mais afetado da Europa, segundo um balanço divulgado neste domingo (15) pela Proteção Civil.
Como no sábado (14), o número de infectados também aumentou, com 3.590 novos casos em 24 horas, quase 100 a mais que o aumento do dia anterior, elevando o total a quase 25.000. A região de Milão, na Lombardia (norte), continua sendo a mais afetada, com 1.218 mortos e 13.272 casos.
O chefe do instituto nacional de saúde da Itália, Silvio Brusaferro, disse que não se sabe se a Itália está atingindo seu pico e pode começar a ver o número de novos casos diminuir.
A Europa tenta estabelecer medidas de proteção ante o avanço da pandemia do novo coronavírus, que já causou 2 mil mortes no continente. O vírus começa a derrubar o princípio de uma União Europeia quase sem fronteiras: as autoridades da Alemanha decidiram fechar a partir de segunda-feira (16) as fronteiras do país com a França, Suíça e Áustria. Paris também anunciou um reforço nos controles da fronteira com a Alemanha, mas sem o fechamento parcial como decidiu o governo do país vizinho.
A pandemia superou a barreira de 6 mil mortes e 160 mil infectados em todo o mundo, segundo contagem de agências internacionais. Mas, apesar dos temores, os franceses comparecem neste domingo às urnas para eleições municipais. A participação era visivelmente baixa às 17h (13h em Brasília): 38,77% contra 54,72% no primeiro turno em 2014, data das últimas municipais. A votação foi ofuscada pelo coronavírus, que já infectou 4.499 pessoas e deixou 91 mortos no país.
A Espanha – segundo país mais afetado da Europa, atrás da Itália – registra 288 mortes, 100 a mais que no sábado, e 7.753 infectados, 2 mil pessoas a mais que na véspera. O primeiro-ministro espanhol, o socialista Pedro Sánchez, anunciou no sábado à noite sérias restrições aos 46 milhões de habitantes, que só poderão sair de suas casas para comprar alimentos ou remédios, comparecer a centros médicos, para seguir até o trabalho ou para cuidar de pessoas dependentes (crianças, idosos e pessoas com necessidades especiais).