Desde o início da guerra na Ucrânia, iniciada com a invasão do país pelas tropas da Rússia, autoridades russas ameaçaram multar ou bloquear dez meios de comunicação independentes se não apagassem publicações sobre o conflito, de acordo com a ONG Human Rights Watch (HRW). Moscou interferiu no acesso ao Facebook e ao Twitter e bloqueou outros sites de mídia cujas publicações não seguiram as diretrizes da propaganda do Kremlin. Trata-se de uma grande campanha para tentar bloquear a divulgação de qualquer informação que venha a prejudicar a imagem do governo Putin.
O Roskomnadzor, órgão estatal regulador da mídia, acusou veículos locais de publicarem “informações falsas” sobre a guerra. São relatos de bombardeios russos a cidades ucranianas e baixas civis, bem como textos que usaram expressões como “ataque”, “invasão” ou “declaração de guerra”. Moscou exige que se fale em “operação especial nas Repúblicas Populares de Lugansk e Donetsk”.
O órgão já havia publicado um aviso aos meios de comunicação de massa sobre a divulgação de informações “não verificadas” e “falsas”, dizendo que apenas informações de fontes oficiais podem ser publicadas quando relatarem a “operação especial”. As autoridades dizem que todas as informações “falsas” serão instantaneamente bloqueadas, com aplicação de multas aos respectivos meios de comunicação.
“Na última década, as autoridades russas usaram uma rede de leis vagas e pretextos frágeis para intimidar e assediar vozes independentes e dissidentes”, disse Hugh Williamson, diretor da HRW para Europa e Ásia Central. “Agora, eles estão impondo censura sem rodeios combinada com uma narrativa falsa e exigem que todos a propaguem”.
Durante a guerra, o principal objetivo do Kremlin ao controlar a mídia é transmitir uma imagem favorável ao governo. Por exemplo, até 27 de fevereiro, o Ministério da Defesa da Rússia afirmava não haver baixas militares russas e que a ofensiva não havia causado baixas civis entre os ucranianos, embora mais tarde tenha admitido a morte de soldados russos.
Na segunda-feira (28), a Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, disse que, entre a última quinta-feira (24), quando ocorreu a invasão, e a noite de domingo (27), 406 vítimas civis foram confirmadas na Ucrânia, “incluindo sete crianças”.
De acordo com Bachelet, as maioria dos civis morreu por ataques de “armas explosivas com uma ampla área de impacto, incluindo bombardeios de artilharia pesada e sistemas de foguetes de lançamento múltiplo e ataques aéreos”. E, segundo ela, a apuração é incompleta, sendo os números reais provavelmente muito maiores.
Também na segunda (28), a Meta, empresa gestora do Facebook e do Instagram, disse ter derrubado nas duas redes sociais uma rede de desinformação russa, comandada pelo Kremlin, que tinha como alvo sobretudo a população da Ucrânia, segundo o jornal britânico Guardian.
Trata-se de uma rede relativamente pequena, composta por cerca de 40 contas, páginas e grupos originários de duas redes sociais. Eram páginas que se diziam organizações independentes e, assim, criavam perfis falsos em diversos sites, entre eles Twitter e YouTube, bem como o aplicativo de mensagens russo Telegram.
A rede tinha cerca de quatro mil seguidores no Facebook e pouco menos de 500 no Instagram. Havia perfis que diziam pertencer a jornalistas, engenheiros aeronáuticos e hidrógrafos, todos supostamente vivendo em Kiev e difundindo falsas informações. O objetivo era expor a Ucrânia como uma nação fadada ao fracasso e dizer que o Ocidente havia traído o país ao não oferecer apoio militar durante o conflito. A Rússia reagiu à ação da Meta e impôs restrições parciais às redes sociais, alegando se tratar de uma ação recíproca em função da censura à mídia estatal russa.
“Os Estados têm interesses legítimos em impedir a disseminação de desinformação durante a guerra, mas as autoridades russas estão indo muito além de quaisquer objetivos legítimos”, disse Williamson. “Os esforços para impor efetivamente um vácuo de informação pública são errados e podem ser perigosos. Os meios de comunicação e os jornalistas devem poder fazer seu trabalho com responsabilidade, sem medo de punição e processo”.
Rede de desinformação
Moscou habitualmente usa a mídia estatal para alimentar sua rede de desinformação online, confundir a opinião pública e tentar, assim, difundir uma versão dos eventos distorcida e favorável ao Kremlin. Quem afirma é Rebekah Koffler, ex-funcionária da inteligência militar norte-americana e autora do livro Putin’s Playbook: Russia’s Secret Plan to Defeat America (sem versão em português). As informações são da rede Fox News.
“Vídeos e outros conteúdos postados nas mídias sociais fazem parte da doutrina de guerra de informação da Rússia”, diz Koffler, que trabalhou na Agência de Inteligência de Defesa (DIA, na sigla em inglês) dos EUA entre 2008 e 2016, como Analista de Inteligência Sênior para Doutrina e Estratégia Russa. “O objetivo é predispor favoravelmente a população russa às ações do governo. Neste caso, a incursão militar na Ucrânia. E convencer os estrangeiros simpatizantes da Rússia a ver o lado russo da história”.
O alvo não é apenas a população civil, que usa a internet para se informar e eventualmente se depara com notícias cuidadosamente inseridas pela mídia estatal russa. Koffler também chama a atenção para o conceito de “engano estratégico“, cujo objetivo é “confundir a inteligência ocidental e os líderes do governo sobre as intenções da Rússia e de Putin”. E, segundo ela, há uma quantidade “significativa” de dinheiro gasto pelo Kremlin nessa máquina de desinformação online.
“O objetivo da Rússia não é exatamente converter alguém que é anti-Rússia e torná-lo um apoiador da Rússia, mas semear dúvidas suficientes e confundir as pessoas sobre os fatos reais no terreno, para que elas se tornem incapazes de tirar conclusões sensatas sobre quem está certo e quem está errado”, afirma a analista.
Koffler cita o caso da RT, emissora online russa que tem canais em idiomas como inglês, francês, espanhol e árabe. Segundo a analista, o conteúdo publicado pelo veículo atende aos interesses do governo russo. Trata-se de um “braço de propaganda do governo russo. Ponto final”, diz ela. Tanto que a emissora foi o primeiro alvo dos hacktvistas (hackers que agem em prol de uma causa) do grupo Anonymous, que se posicionaram a favor da Ucrânia, prometeram atacar digitalmente a Mosocu e tiraram o canal do ar na sexta-feira (25).
Mesmo o nome do veículo, antes batizado Russia Today, foi alterado para RT, de acordo com Koffler. “Eles queriam se dissociar da palavra ‘Rússia’, então usaram RT. E rotineiramente contratam pessoas de língua inglesa, incluindo americanos. Isso é ofício comercial, ofício comercial típico russo”, afirma.
Daniel Hoffman, um ex-agente da CIA (Agência Central de Inteligência, da sigla em inglês) que chegou a atuar na extinta União Soviética, segue a mesma linha de raciocínio. “Vladimir Putin é o dono da mídia. É apenas uma ferramenta para passar sua mensagem do jeito que quer”, afirma ele, que cita também os ataques de hackers como arma do líder russo. “Ele tem todos os tipos de, você sabe, esforços cibernéticos para conquistar o campo de batalha da informação. É isso que ele faz, e é tudo coordenado”.
De acordo com Koffler, esse tipo de campanha é difícil de combater, pois o controle da informação expõe os órgãos reguladores ao risco de praticarem a censura. Sendo assim, cabe ao leitor discernir o que é ou não confiável. “Não acredite em tudo que você vê na internet. Isso se aplica a qualquer conteúdo: russo, americano, qualquer coisa”, diz ela.
Por que isso importa?
A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia, que culminou com a efetiva invasão russa ao país vizinho na quinta-feira (24), remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo ano e se estende até hoje.
O conflito armado no leste da Ucrânia opõe o governo central às forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass e foram oficialmente reconhecidas como territórios independentes por Moscou. Foi o suporte aos separatistas que Putin usou como argumento para justificar a invasão, classificada por ele como uma “operação militar especial”.
“Tomei a decisão de uma operação militar especial”, disse Putin pouco depois das 6h de Moscou (0h de Brasília) de quinta (24), de acordo com o site independente The Moscow Times. Cerca de 30 minutos depois, as primeira explosões foram ouvidas em Kiev, capital ucraniana, e logo em seguida em Mariupol, no leste do país, segundo a agência AFP.
Para André Luís Woloszyn, analista de assuntos estratégicos, os primeiros movimentos no campo de batalha sugerem um conflito curto. “Não há interesse em manter uma guerra prolongada”, disse o especialista, baseando seu argumento na estratégia adotada por Moscou. “Creio que a Rússia optou por uma espécie de blitzkrieg, com ataques direcionados às estruturas militares“, afirmou, referindo-se à tática de guerra relâmpago dos alemães na Segunda Guerra Mundial.
O que também tende a contribuir para um conflito de duração reduzida é a decisão da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) de não interferir militarmente. “Não creio em envolvimento de outras potências no conflito, o que poderia desencadear uma guerra mais ampla e com consequências imprevisíveis”, disse Woloszyn, que é diplomado pela Escola Superior de Guerra.
O governador João Azevêdo (PSB) determinou que a Secretaria de Representação Instituição do Governo do Estado, em Brasília, não poupe esforços junto ao Itamaraty para minimizar os impactos aos paraibanos e paraibanas que estão na Ucrânia.
O gestor disse que o governo está à disposição para auxiliar na repatriação dos cidadãos do Estado que queiram deixar o país que por quatro dias vem sendo atacado pela Rússia. O gestor criticou o ataque russo a Ucrânia e se solidarizou com os ucranianos.
“Aproveitamos para manifestar nossa solidariedade ao povo ucraniano nesse momento e repudiar que, nos dias de hoje, força bélica seja usada para resolver um conflito, independente da sua natureza”, destacou.
Em texto publicado em sua página, a Secretaria de Representação Institucional orienta que os paraibanos que estão no país europeu e que desejem deixar a Ucrânia busquem a Embaixada do Brasil e sigam as orientações do órgão.
“Solicitamos aos cidadãos paraibanos em território ucraniano, em particular os que se encontram no leste do país e outras regiões em condições de conflito, que mantenham contato diário com a Embaixada. Caso necessitem de auxílio para deixar a Ucrânia, devem seguir as orientações da Embaixada e, no caso dos residentes no leste, deslocar-se para Kiev assim que as condições de segurança o permitam”, diz nota postada na página da Secretaria de Representação Institucional, em Brasília.
O governo da Paraíba disponibiliza ainda, para casos de emergência de paraibanos na Ucrânia e seus familiares o número de telefone de plantão: +55 61 991368348 e WhatsApp +55 61 991368348
Calcula-se que cerca de 500 brasileiros estejam na Ucrânia. O governo informa ainda que a Embaixada do Brasil em Kiev permanece aberta e dedicada, com prioridade, desde o agravamento das tensões. A Embaixada vem renovando o cadastramento dos brasileiros e tem-lhes transmitido orientações, por meio de mensagens em seu site (kiev.itamaraty.gov.br), em sua página no Facebook (https://www.facebook.com/Brasil.Ukraine) e em grupo do aplicativo Telegram (https://t.me/s/embaixadabrasilkiev).
MaisPB
O líder apoiado pela Rússia da região separatista de Donetsk disse nesta quarta-feira (23) que deseja estabelecer suas fronteiras pacificamente com a Ucrânia, mas reservou-se o direito de pedir ajuda à “grande Rússia”.
Denis Pushilin, que dirige a autoproclamada República Popular de Donetsk, que foi reconhecida pela Rússia esta semana como independente, disse que era a favor do diálogo com a Ucrânia em primeira instância.
Mas ele afirmou em uma entrevista coletiva que a situação do prolongado conflito havia se tornado crítica e que os separatistas haviam acelerado uma mobilização de forças, na qual homens saudáveis entre 18 e 55 anos foram chamados para lutar.
“Nós venceremos. Com pessoas como esta, venceremos. Com um país como este, com a grande Rússia, que respeitamos e valorizamos”, disse ele. “Não temos o direito de perder, ou mesmo de duvidar da nossa vitória”.
O reconhecimento pela Rússia da independência de Donetsk e da vizinha República Popular de Luhansk, na segunda-feira, foi declarado ilegal pelos países ocidentais, que impuseram novas sanções contra Moscou.
A medida levou a crise da Ucrânia a uma nova fase, uma vez que os tratados que o presidente russo, Vladimir Putin, assinou na segunda-feira com líderes separatistas oferecem um pretexto legal para a Rússia enviar suas forças em apoio aos separatistas, que atualmente controlam apenas uma fração das duas regiões do leste da Ucrânia que reivindicam.
Perguntado se eles iriam tentar expandir seu território, Pushilin disse: “Ainda não estamos nessa fase, estamos na fase em que as forças inimigas estão na linha de contato e podem avançar para uma ofensiva a qualquer momento”.
A Ucrânia nega veementemente as acusações dos separatistas de que está inclinada a recapturar território pela força, e rejeitou uma série de relatos russos e separatistas sobre supostos ataques.
Falando ao lado de Pushilin, Andrey Turchak, membro sênior do partido governista da Rússia, disse que nenhuma força no mundo poderia mudar o resultado legal do reconhecimento assinado por Putin.
O secretário norte-americano de Estado, Antony Blinken, afirmou nesta segunda-feira, 21, que diplomatas da embaixada dos Estados Unidos na Ucrânia foram levados para a Polônia por razões de segurança. Segundo ele, a transferência “de nenhuma maneira” prejudica o apoio de Washington aos ucranianos, que vivem crise na fronteira com a Rússia.
“Nosso compromisso com a Ucrânia transcende qualquer localização”, disse em nota. Há uma semana, os norte-americanos já haviam anunciado a mudança temporária de suas operações da embaixada da capital Kiev para o oeste do país, em Lviv, a 70 quilômetros da fronteira ucraniana com a Polônia.
Além disso, o governo de Joe Biden também já havia ordenado a suspensão dos serviços consulares e a saída da Ucrânia de profissionais não essenciais na embaixada. O Pentágono tem 4,7 mil soldados dos Estados Unidos posicionados na Polônia, que também é membro da Organização do Tratado do Norte (Otan), e mais 6 mil soldados foram enviados temporariamente à Europa para responder à crise na região.
Nesta segunda-feira, o presidente Vladimir Putin anunciou o reconhecimento da independência de Donetsk e Lugansk, na região do Donbass, medida que rompe com o consenso internacional e agrava ainda mais a crise na Ucrânia. O russo também ordenou o envio de militares aos territórios para “garantir a paz”, o que desencadeou a rejeição internacional e o anúncio de sanções.
*Com EFE
A agência FSB, um dos serviços de segurança da Rússia, afirmou nesta segunda-feira (21) que um obus disparado do território da Ucrânia destruiu um posto de fronteira russo na região de Rostov. Não houve mortos nem feridos, de acordo com a agência de notícias Interfax.
O incidente ocorreu a 150 metros da linha de fronteira entre a Rússia e a Ucrânia, de acordo com o texto da Interfax.
“Em 21 de fevereiro, às 9h50, um obus de tipo não identificado disparado do território da Ucrânia destruiu o posto de serviço dos guardas de fronteira na região de Rostov, a uma distância de cerca de 150 quilômetros da fronteira russo-ucraniana”, relatou a FSB, citado pelas agências russas de notícias.
“Não houve vítimas. O pessoal especializado em desminagem trabalha no local”, acrescentou o FSB, que também é responsável pelo serviço de guarda de fronteira na Rússia.
Um vídeo atribuído à FSB e publicado pela agência pública de notícias Ria Novosti mostra uma pequena estrutura destruída em uma planície arborizada e escombros espalhados pelo chão.
Oleksiy Danilov, o principal líder de segurança da Ucrânia, afirmou que o país não ataca civis.
Desde 2014, há grupos de separatistas rebeldes no leste da Ucrânia que é considerado pró-Rússia. Na região há conflitos há anos.
Na semana passada, os grupos rebeldes e o governo ucraniano trocaram acusações de ataques.
Violações de cessar-fogo
Houve mais de 1.500 registros de violações do cessar-fogo em 24 horas no leste separatista pró-Rússia da Ucrânia, um recorde até agora neste ano, informou a Monitores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) n o sábado (19).
Da tarde de quinta-feira à noite de sexta-feira, observadores da OSCE registraram 591 violações do cessar-fogo em Donetsk e 975 em Luhansk, os dois enclaves separatistas.
Os combates mais intensos ocorreram no noroeste da região de Lugansk, cerca de 20 quilômetros a sudeste de Severodonetsk, uma localidade leal ao governo de Kiev.
A OSCE, cujos membros incluem a Rússia e os Estados Unidos, implantou sua missão de paz na Ucrânia em 2014, após a anexação da Crimeia pela Rússia e a eclosão de um conflito entre Kiev e separatistas na região de Donbas, que deixou mais de 14.000 mortos.
No sábado, a organização alertou para um “aumento drástico” nas violações do cessar-fogo assinado em 2015.
O exército ucraniano informou que dois soldados foram mortos neste sábado em um bombardeio por separatistas.
Mais de dez bombas explodiram a algumas centenas de metros do ministro do Interior ucraniano, Denis Monastirski, quando ele visitava a linha de frente com os separatistas.
O Ministério da Justiça da Itália emitiu um mandado de prisão internacional para o ex-atacante do Milan e da seleção brasileira Robinho, depois que o principal tribunal do país confirmou sua condenação por estupro, disse um porta-voz do ministério nesta quarta-feira (16).
O ministério pediu à agência policial global Interpol que promulgue o mandado.
Robinho, cujo nome completo é Robson de Souza, mora no Brasil, e, por lei, o país não extradita seus cidadãos, o que significa que Robinho só seria preso se viajasse para o exterior.
Um tribunal de Milão, em 2017, declarou Robinho e outros cinco brasileiros culpados de estuprar uma mulher depois de dar bebida alcoólica para ela em uma discoteca. A condenação foi confirmada por um tribunal de apelação em 2020 e validada pela Suprema Corte da Itália no mês passado.
Robinho, de 38 anos, sempre negou a acusação
Revelado pelo Santos, o atacante realizou mais de 100 partidas com a camisa do Brasil e jogou em alguns dos principais clubes da Europa, como Real Madrid, Manchester City e Milan.
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A Ucrânia convocou uma reunião com a Rússia e outros membros de um grupo estratégico de segurança europeu para discutir as crescentes tensões em sua fronteira.
O ministro das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, disse que a Rússia ignorou os pedidos formais para explicar o aumento das tropas na região.
Ele afirmou que o “próximo passo” é solicitar uma reunião nas próximas 48 horas para “transparência” sobre os planos russos.
A Rússia negou ter intenções de invadir a Ucrânia, apesar do acúmulo de cerca de 100 mil soldados nas fronteiras do país vizinho.
Kuleba disse que a Ucrânia, na sexta-feira (11), exigiu respostas da Rússia sob as regras do Documento de Viena, um acordo sobre questões de segurança adotado pelos membros da Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), que inclui a Rússia.
“Se a Rússia é séria quando fala sobre a indivisibilidade da segurança no espaço da OSCE, deve cumprir seu compromisso com a transparência militar para diminuir as tensões e aumentar a segurança para todos”, afirmou o ministro.
Algumas nações ocidentais alertaram que a Rússia está se preparando para uma invasão, com os EUA dizendo que a ação poderia começar com bombardeios aéreos “a qualquer momento”.
Mais de uma dúzia de países pediram a seus cidadãos que deixem a Ucrânia, e alguns retiraram funcionários diplomáticos da capital, incluindo os EUA.
Mas o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que criticou o “pânico” que pode se espalhar por essas alegações, disse que não tem provas de que a Rússia esteja planejando uma invasão nos próximos dias.
No domingo, Zelensky conversou por quase uma hora por telefone com o presidente dos EUA, Joe Biden. A Casa Branca disse que Biden reiterou o apoio dos EUA à Ucrânia e que ambos os líderes concordaram com “a importância de continuar a buscar a diplomacia e a dissuasão”.
A declaração da Ucrânia sobre a ligação informou que o presidente do país agradeceu aos EUA por seu “apoio inabalável” e que, no final, Zelensky convidou o líder dos EUA a visitar a Ucrânia. Não houve comentários da Casa Branca.
Uma ligação de uma hora entre Biden e o líder russo Vladimir Putin no sábado não produziu avanços.
Repórteres em Kiev dizem que o pânico não se espalhou pela cidade, mas os avisos dos EUA e de outros países tiveram efeito.
Algumas companhias aéreas comerciais cancelaram voos para o país no fim de semana, enquanto a Ucrânia disse que estava comprometendo o equivalente a centenas de milhões de dólares em segurança aérea e seguro para manter as rotas de voo em operação.
Em julho de 2014, 298 pessoas morreram quando um voo da Malaysian Airlines foi abatido sobre uma região do leste da Ucrânia ocupada por forças rebeldes apoiadas pela Rússia.
Mais cedo, Ben Wallace, secretário de Defesa do Reino Unido, gerou críticas por parte da Ucrânia por comentários que fez comparando a situação atual com o apaziguamento da Alemanha nazista no período que antecedeu a Segunda Guerra Mundial.
Ele disse ao jornal “Sunday Times”: “Pode ser que ele [o presidente Putin] simplesmente desligue seus tanques e todos nós voltemos para casa, mas há um cheiro de Munique no ar”, referindo-se aos acordos de Munique que permitiram que a Alemanha invadisse os territórios da Tchecoslováquia. Essa concessão não impediu a guerra.
O embaixador da Ucrânia no Reino Unido respondeu durante sua participação em um programa de rádio da BBC: “Não é o melhor momento para ofendermos nossos parceiros no mundo, lembrando-os desse ato que na verdade não trouxe paz, mas o oposto — trouxe a guerra.”
Mas os esforços diplomáticos também continuam em outras frentes. O chanceler alemão Olaf Sholz tem reuniões agendadas com o presidente Zelensky em Kiev na segunda-feira e com o presidente Putin em Moscou na terça-feira.
O chanceler, que assumiu a liderança da Alemanha sucedendo Angela Merkel em dezembro, alertou para as graves consequências econômicas para a Rússia se ela lançar qualquer invasão, ecoando declarações de outras nações ocidentais e membros da aliança militar da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
Mas as autoridades de Berlim minimizaram qualquer expectativa de ruptura.
Uma das exigências da Rússia é que a Ucrânia — que atualmente não é membro — nunca seja autorizada a ingressar na Otan.
Após encontros em Moscou e Kiev, o presidente francês, Emmanuel Macron, encerrou sua maratona diplomática em Berlim, nesta terça-feira (8), ao lado do presidente da Polônia, Andrzej Sebastian Duda, e do chanceler alemão, Olaf Scholz. Juntos, eles se comprometeram a reunir esforços para evitar uma guerra e garantir a segurança do continente europeu.
“Nosso encontro em Berlim tem um significado específico: três grandes países europeus e a mesma vontade de seguir uma estratégia de evitar o aumento das tensões”, disse o chefe de Estado francês. “Vamos continuar a agir com o objetivo de evitar a guerra, garantir a estabilidade e a paz no continente, que são o nosso tesouro”, observou. “Temos que fazer tudo para defender os princípios da Europa, a soberania dos estados, a integridade territorial e o respeito aos valores”, completou Macron.
O presidente francês pediu “um diálogo exigente” com a Rússia porque é “o único caminho que tornará possível a paz na Ucrânia”. Ele reiterou ver “soluções concretas” para a crise russo-ocidental graças aos compromissos obtidos, segundo ele, do presidente russo, Vladimir Putin, e de seu homólogo, Volodymyr Zelensky, de que não haverá uma “escalada” da violência. “Vamos trabalhar juntos sobre as pistas que surgiram nos últimos dias para seguir esse diálogo, limitar riscos e ter paz e estabilidade duráveis”, assinalou Macron.
“Agir conjuntamente se necessário”
O presidente francês chegou à capital alemã no início da noite para conversar com Olaf Scholz, que acaba de voltar de uma viagem a Washington. “A situação é tensa na Europa e o diálogo com nossos parceiros é importante para evitar uma guerra, pois a presença dos russos na fronteira é inquietante”, afirmou Scholz na entrevista coletiva concedida pelos três.
“A violação da soberania e desrespeito ao território da Ucrânia são inaceitáveis e terão consequências políticas e econômicas para a Rússia”, completou o chanceler alemão. “Estamos de acordo com [o presidente dos Estados Unidos] Joe Biden de que queremos uma desescalada da situação, precisamos de negociação e de solução”, acrescentou. “Macron foi ao Kremlin e Kiev, eu fui a Kiev e Moscou. Nosso encontro hoje foi útil porque temos o mesmo objetivo: de manter a paz na Europa graças à diplomacia e à vontade de agir conjuntamente, se necessário”, sublinhou Scholz.
O presidente polonês Andrzej Duda disse acreditar que é possível “evitar a guerra”. Ele destacou que “desde a segunda guerra mundial não vemos uma movimentação militar como essa”. A “integridade territorial é nosso objetivo e de todos os aliados”, completou Duda. “O mais importante hoje é unidade e solidariedade”, concluiu.
O envio de dezenas de milhares de soldados russos à fronteira ucraniana representa “um nível de tensão raramente alcançado desde o fim da Guerra Fria”, concordou Emmanuel Macron, que conversou longamente com Vladimir Putin, na segunda-feira (7), e com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, nesta terça-feira, em busca de uma solução diplomática para a crise.
A presença das tropas faz com que os ocidentais temam uma invasão da Ucrânia pela Rússia, que já anexou a Crimeia, em 2014, e vem apoiando os separatistas na luta contra as forças ucranianas. O conflito já deixou mais de 13.000 mortos, apesar dos acordos de paz de Minsk.
Em Kiev, Emmanuel Macron, cujo país atualmente preside o Conselho da União Europeia (UE), assegurou ter obtido “um duplo compromisso” da Ucrânia e da Rússia para respeitar esses acordos. “Não devemos subestimar a tensão que vivemos (…) não podemos resolver esta crise em poucas horas de discussões”, alertou, contudo, o presidente francês.
Enquanto aguarda uma possível solução diplomática, Macron assegurou que obteve promessas de Vladimir Putin durante a reunião de segunda-feira à noite: ele “me disse que não estaria na origem da escalada” de violência.