O diretor da Organização Mundial de Saúde (OMS) aconselhou, nesta quarta-feira (27), que homens que fazem sexo com homens – como gays, bissexuais e trabalhadores do sexo – reduzam, neste momento, o número de parceiros sexuais para diminuir o risco de exposição à varíola dos macacos (monkeypox).
Na fala de abertura em uma entrevista sobre a doença, Tedros Adhanom Ghebreyesus também reforçou que “estigma e discriminação podem ser tão perigosos quanto qualquer vírus e podem alimentar o surto”.
Ele pediu que comunidades e indivíduos se informassem e levassem os riscos a sério, além de tomarem as medidas necessárias para interromper a transmissão e proteger os grupos vulneráveis.
“A melhor maneira de fazer isso é reduzir o risco de exposição. Isso significa fazer escolhas seguras para você e para os outros. Para homens que fazem sexo com homens, isso inclui, no momento, reduzir o número de parceiros sexuais, reconsiderar o sexo com novos parceiros e trocar detalhes de contato com novos parceiros para permitir o acompanhamento, se necessário”, disse Tedros.
O diretor destacou que, “embora 98% dos casos até agora estejam entre homens que fazem sexo com homens, qualquer pessoa exposta pode pegar a varíola dos macacos”.
“O foco para todos os países deve ser engajar e capacitar as comunidades de homens que fazem sexo com homens para reduzir o risco de infecção e transmissão posterior, prestar cuidados aos infectados e salvaguardar os direitos humanos e a dignidade”.
Tedros lembrou que, além da transmissão por contato sexual, a varíola dos macacos pode se espalhar nas residências por meio do contato próximo entre as pessoas, como abraços e beijos, e em toalhas ou roupas de cama contaminadas.
Mais de 18 mil casos de varíola dos macacos já foram relatados à OMS em 78 países, incluindo 5 mortes. Mais de 70% dos casos relatados vêm da Europa e 25%, das Américas.
No Brasil, o Ministério da Saúde contabilizava 696 casos confirmados até a segunda-feira (25). Desde então, pelo menos mais dois estados confirmaram novos casos da doença: Acre e Tocantins. Na terça-feira (26), a OMS classificou a situação do Brasil como “preocupante”.
Vacinas
O diretor da OMS também falou sobre as vacinas disponíveis para evitar a varíola dos macacos. A doença não tem uma vacina específica, mas as vacinas desenvolvidas contra a varíola humana ajudam a proteger contra ela.
Atualmente, existem 3 vacinas contra a doença: uma usada no Canadá, nos Estados Unidos e na União Europeia (MVA-BN, do laboratório Bavarian Nordic), uma que só está aprovada nos Estados Unidos (ACAM2000) e uma terceira, desenvolvida no Japão, que pode ser aplicada em crianças (LC16).
“No entanto, ainda não temos dados sobre a eficácia das vacinas contra a varíola dos macacos ou quantas doses podem ser necessárias”, disse Tedros, que também lembrou que a proteção da vacina não é instantânea.
Tedros lembrou que a OMS recomenda a vacinação direcionada de pessoas expostas a alguém com varíola dos macacos e para aqueles com alto risco de exposição – incluindo profissionais de saúde, alguns trabalhadores de laboratório e aqueles com múltiplos parceiros sexuais.
“Neste momento, não recomendamos a vacinação em massa contra a varíola dos macacos”, frisou o diretor.
“Isso significa que os vacinados devem continuar a tomar medidas para se proteger, evitando contato próximo, incluindo sexo, com outras pessoas que têm ou correm o risco de ter varíola dos macacos”, lembrou.
Um dos problemas é a disponibilidade das vacinas: segundo Tedros, existem cerca de 16 milhões de doses da MVA-BN em todo o mundo. A maioria, entretanto, está em forma “a granel” – o que significa que levaria vários meses para envasar as doses e disponibilizá-las para uso.
“Vários países com casos de varíola dos macacos garantiram suprimentos da vacina MVA-BN, e a OMS está em contato com outros países para entender suas necessidades de suprimento. A OMS urge aos países com vacinas contra a varíola dos macacos compartilhá-las com os países que não têm”, pediu Tedros.