Em 2021, a taxa de morte semanal de grávidas e mães de recém-nascidos, vítimas da Covid-19, subiu 145% com relação a 2020. O número assusta ainda mais quando comparado ao aumento na taxa de mortes da população em geral, que chegou a 61%. Os dados são de um levantamento do Observatório Obstétrico Brasileiro COVID-19. Apenas nos primeiros meses de 2021, o número de mortes mais que dobrou em relação à média semanal do ano passado. Em 2020 foram registradas 453 mortes, com uma média semanal de 10,5 óbitos. Entre o primeiro dia de janeiro e 14 de abril, a média semanal subiu para 25,8 mortes por semana, chegando a 362.
A sobrecarga no sistema de saúde e a falta de acesso a tratamentos adequados são apontadas como as principais causas. A obstetra Rossana Francisco, professora de medicina da USP e idealizadora do estudo, explica que a doença agravou a fragilidade que já existia no sistema de saúde.
“Um dos nossos objetivos quando criamos o Observatório Obstétrico Covid-19 era conseguir dar publicidade aos dados, porque acreditamos que enquanto a população de gestantes e puérperas não tiver conhecimento desses dados e da gravidade do covid, fica muito difícil acreditar que você precisa tomar todos os cuidados necessários para a gestante”, completa a especialista.
De acordo com a obstetra, a vacinação contra a covid-19 pode ser um caminho para reduzir as mortes de gestantes, mas a solução precisa ser vista com muito cuidado. Isso porque nenhum dos imunizantes disponíveis no Brasil fez testes clínicos com grávidas ou lactantes.
Desde março, o Ministério da Saúde permite que gestantes e puérperas com doenças pré-existentes sejam vacinadas. Entram na relação doenças como diabetes, hipertensão arterial crônica, obesidade, entre outras. E também mulheres transplantadas. Enquanto não se sabe a eficácia ou segurança das vacinas, a recomendação é utilizar a CoronaVac, que usa o vírus inativado.
“Minha obstetra e eu consideramos que a vacina tem a mesma tecnologia já usada em outras vacinas presentes no calendário de vacinação da gestante. Isso foi importante na minha decisão de tomar o imunizante“, afirma a fisioterapeuta e doula Isabella Leão. Mesmo sem doenças pré-existentes, ela decidiu junto com a obstetra que, diante do risco de exposição ao vírus, a melhor opção era se vacinar.
Isabella atua na linha de frente em um hospital particular da capital paulista e recebeu a primeira dose com 18 semanas de gestação, antes mesmo da portaria do Ministério da Saúde. “Eu falei que estava gestante, assinei um termo e na primeira dose não fui barrada. Mas, na segunda, fui barrada por uma médica que disse que não tinha respaldo para a vacinação em gestantes. Eu informei que meu obstetra havia liberado, precisei esperar uma hora e ligar para minha médica”, comenta.
Em São Paulo, o secretário estadual de Saúde, Jean Gorinchteyn, esclarece que a recomendação está em vigor, mas que apenas gestantes e lactantes dos grupos prioritários podem ser imunizadas após deliberação com o médico: “Essas recomendações serão pertinentes a partir do momento em que se atingir os grupos prioritários, que neste momento são das áreas da saúde, segurança pública, educação e, desta maneira, não atingimos as comorbidades propriamente ditas. Então, se essas mulheres estiverem elencadas em outros grupos elencados, elas serão vacinadas”.
A terapeuta ocupacional Graciela Vargas trabalha em um projeto ligado à Secretaria Municipal de Saúde em São Paulo e já pode ser vacinada. Ela está amamentando a filha que nasceu há quarenta dias e questionou quando poderia receber a primeira dose contra o coronavírus, mas se surpreendeu com a falta de informação: “Quando eu questionei [a técnica de enfermagem] disse que eu era profissional da saúde e ela disse que eles não tinham autorização para vacinar lactante, eu disse que já havia conversado com o pediatra da minha filha e me autorizou. Eu achei bem estranho ela não estar bem informada”.
Apesar da determinação do Ministério da Saúde, estados e municípios têm poder de definir quando cada grupo será vacinado. As grávidas que tomarem o imunizante devem manter os cuidados mesmo após a aplicação das duas doses da vacina.