ombates entre soldados da Turquia e o exército da Síria deixaram, nesta segunda-feira (3), 17 mortos no noroeste sírio.
Essas mortes aumentam as tensões entre a Turquia e a Rússia, principal aliado do regime sírio.
Trata-se do incidente mais sério entre Damasco e Ancara desde a intervenção da Turquia no conflito sírio em 2016 para combater o grupo Estado Islâmico (EI) e neutralizar o progresso das forças curdas perto de sua fronteira.
Os confrontos diretos entre a Turquia, que apoia os rebeldes sírios, e as forças do regime sírio foram raros desde o início da guerra em 2011.
Começo dos combates
Os combates começaram com tiros do regime contra posições turcas, de acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).
A Turquia informou que quatro de seus soldados foram mortos e nove ficaram feridos por tiros de artilharia do regime. O exército turco respondeu e “destruiu vários alvos”.
Pelo menos 13 soldados do regime sírio morreram e outros 20 ficaram feridos em represália, segundo o OSDH.
Números dos turcos
O presidente turco Recep Tayyip Erdogan indicou, entretanto, que “entre 30 e 35” soldados sírios haviam morrido. A agência oficial síria Sana negou que tenha havido mortos nas fileiras do exército.
Entre os civis, pelo menos nove, incluindo quatro crianças, morreram e 20 ficaram feridos em bombardeios aéreos no noroeste da Síria, onde as forças do regime aliadas ao exército russo combatem os jihadistas e rebeldes, segundo o OSDH, que não informou o autor do ataques.
“Aviões de combate atacaram um carro que transportava pessoas deslocadas”, disse à AFP o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman. Sete membros da mesma família estão entre as vítimas, informou.
“Prestar contas”
Os combates entre soldados sírios e turcos ocorrem alguns dias depois que o presidente turco acusou a Rússia de “não honrar” os acordos bilaterais destinados a impedir uma grande ofensiva do regime no noroeste do país.
“Continuaremos a pedir que prestem contas”, alertou Erdogan, que pediu à Rússia que não “impeça” a resposta turca.
O ministério da Defesa turco informou que os militares atacados foram enviados a Idlib para reforçar os postos de observação turcos na região.
O porta-voz do partido de Erdogan, o AKP, disse que o regime sírio atacou os soldados turcos porque se sentia “protegido pelo guarda-chuva russo”.
O ministério da Defesa da Rússia afirmou, por outro lado, que o grupo de soldados turcos realizava deslocamentos na zona de distensão de Idlib (…) sem ter avisado a Rússia”.
A Turquia destacou militares em 12 postos de observação na região de Idlib, no âmbito de um acordo concluído com a Rússia para acabar com a violência no último reduto jihadista e rebelde na Síria.
Mas as forças do regime de Bashar Al-Assad intensificaram sua ofensiva nesta província e ganharam terreno.
Na quarta-feira, reconquistaram a cidade estratégica de Maret al-Numan, a segunda maior cidade da província de Idlib.
Diante desse avanço, Erdogan ameaçou na semana passada recorrer à “força militar”.
Mais da metade da província de Idlib e territórios vizinhos das regiões de Alepo, Hama e Latakia são controlados pelos jihadistas da Hayat Tahrir al Sham (HTS), ex-facção da Al-Qaeda da Síria.
Com o apoio de Moscou, mas também do Irã, o regime sírio registrou importantes vitórias nos últimos dois anos e agora controla mais de 70% do território nacional, de acordo com o OSDH.
Desde o início de dezembro, cerca de 388 mil pessoas foram deslocadas por bombardeios aéreos e combates, segundo a ONU.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu no sábado que cessasse “imediatamente” as hostilidades no noroeste da Síria e disse que estava “profundamente preocupado” com a escalada militar.
O conflito na Síria, iniciado quase nove anos atrás, já deixou mais de 380.000 mortos e milhões de deslocados e refugiados.