Um vídeo que mostra um senador paraguaio defendendo a morte de 100 mil brasileiros que vivem no país provocou reação dos meios políticos locais. Em uma gravação feita com celular na última segunda-feira (25), o senador Paraguayo Cubas Colomes, 57, se dirige a um grupo de pessoas na beira de uma estrada na cidade de Minga Porá, ao lado de um caminhão carregado de madeira.
Ele pergunta se a madeira veio de uma estância de “rapai”, termo informal usado no país em referência a brasileiros. Com a resposta afirmativa, começa a vociferar.
“Bandidos brasileiros, bandidos! Invasores! Agora desflorestando o país”, berra. “Tem que matar aqui ao menos 100 mil brasileiros bandidos”, prossegue, mencionando que há 2 milhões de brasileiros vivendo no país.
Colomes, em seguida, pede “paredão” para brasileiros que não têm “cortina de vento”.
O termo refere-se a uma técnica de manejo florestal que consiste na plantação de árvores, geralmente eucaliptos, para isolar lavouras de soja. O objetivo é evitar que o vento carregue pesticidas para propriedades menores nas redondezas de grandes áreas plantadas.
A região onde o vídeo foi gravado, no Departamento de Alto Paraná, perto da fronteira com o Brasil, é produtora de soja. Grande parte das propriedades é de brasileiros que migraram ao país vizinho há décadas, conhecidos como brasiguaios.
Um segundo vídeo, filmado logo em seguida, causou polêmica ainda maior no país. Nele, o senador investe contra policiais que, segundo ele, estariam protegendo os brasileiros. Ele chuta um carro e chega a dar um tapa num policial, que não reage. Em seguida, furioso e proferindo xingamentos, arremessa um vaso no chão.
Os vídeos geraram reação no Senado paraguaio, que discute a possibilidade de punição ao senador. Senadores pediram desculpas aos brasileiros pelas declarações do colega.
Colomes é reincidente. Há alguns meses, recebeu uma suspensão por ter atirado um copo de água num colega durante uma discussão.
Ele é membro do partido Movimento Cruzada Nacional, uma legenda pequena que tem como bandeira o combate à corrupção e à presença estrangeira no Paraguai, duas bandeiras com forte apelo populista.
Além de brasileiros, são seus alvos outros imigrantes vindos de países sul-americanos. Também ataca membros da influente comunidade menonita, uma corrente protestante que migrou do Canadá e do México no século 20 e trabalha em colônias agrícolas.
Ex-deputado federal, ele se comporta no Senado de forma independente ao governo do presidente Mario Abdo Benítez.
O governo brasileiro está acompanhando o caso e avalia alguma medida formal de protesto contra o senador. O carregamento de madeira que motivou o acesso de fúria do senador estava regularizado e não teria relação direta com nenhum produtor brasileiro.
A reportagem entrou em contato com o gabinete do senador e pediu uma entrevista com ele, mas não teve resposta até a publicação deste texto.