Na velhice, é recorrente a sensação de invisibilidade. No entanto, há um contingente de idosos ainda mais invisível: o dos indivíduos com deficiência intelectual. No Brasil, a estimativa é de que sejam mais de 500 mil acima dos 60 anos. Essa é uma questão que vem ganhando corpo há pelo menos duas décadas, o que levou a Apae de São Paulo a organizar o I Seminário Internacional sobre o Envelhecimento da Pessoa com Deficiência Intelectual, como explica Leila Castro, especialista em envelhecimento da área de Ensino, Pesquisa e Inovação da instituição.
“Desde o início dos anos 2000, essa população já demonstrava sinais de envelhecimento. A Apae de São Paulo preconiza a inclusão das pessoas com deficiência em todas as fases da vida e essa é uma nova frente na qual atuamos. Nosso trabalho visa à manutenção da funcionalidade, com protocolos que incluem o planejamento de vida e a busca de preservação da autonomia e da independência”, afirma.
Na Europa e nos Estados Unidos já há estudos longitudinais – que se estendem por um longo período de tempo – específicos sobre esse grupo. Na opinião de Leila, esta será a oportunidade de dar início a uma discussão mais ampla no Brasil. “Temos que estimular uma produção nacional de conhecimento nesse campo. A instituição acompanha a questão do envelhecimento no país e sabemos que há muitas demandas da população em geral a serem atendidas. Isso faz com que outras condições de envelhecimento, como a de pessoas com deficiência intelectual, fiquem em segundo plano, mas também precisamos de políticas públicas voltadas para esse público”, diz.
De acordo com a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, “pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas”. O site da Apae paulista apresenta as diferenças entre deficiência intelectual e doença mental, que, infelizmente, ainda são confundidas: “Na deficiência intelectual a pessoa apresenta um atraso no seu desenvolvimento, dificuldades para aprender e realizar tarefas do dia a dia e interagir com o meio em que vive. Ou seja, existe um comprometimento cognitivo, que acontece antes dos 18 anos, e que prejudica suas habilidades adaptativas. Já a doença mental engloba uma série de condições que causam alteração de humor e comportamento e podem afetar o desempenho da pessoa na sociedade. Essas alterações acontecem na mente da pessoa e causam uma alteração na sua percepção da realidade. Em resumo, é uma doença psiquiátrica, que deve ser tratada por um psiquiatra, com uso de medicamentos específicos para cada situação”.
A abordagem do envelhecimento feita pela instituição inclui, como não poderia deixar de ser, a família. “Os pais estão idosos, os irmãos também envelheceram, há uma grande preocupação em relação ao dia de amanhã. Se um irmão ou irmã fica com a tutela mas trabalha, vai precisar de um serviço de apoio”, enfatiza Leila. O seminário acontece nos dias 19 e 20, no Memorial da América Latina. A conferência de abertura será feita por Tamar Heller, professora da University of Illinois em Chicago, que dirige um centro de excelência sobre o assunto. Outros participantes internacionais são Philip McCallion, responsável por um estudo longitudinal feito sobre o tema na Irlanda, e Ramón Novell Ansina, que participou do “Informe Seneca”, levantamento semelhante realizado na Espanha. Que este seja um passo definitivo para diminuir essa invisibilidade.