A Rússia está comprando milhões de foguetes e projéteis de artilharia de Coreia do Norte para utilizar na invasão da Ucrânia, de acordo com fontes da inteligência americana citadas em reportagem publicada nesta segunda-feira (6) pelo jornal The New York Times.
Segundo informações recentemente divulgadas pelos serviços americanos de inteligência, as sanções do Ocidente estão dificultando o acesso de Moscou aos mercados de armamento, obrigando a Rússia a “recorrer a ‘Estados párias’ para se abastecer” de material militar indispensável para a campanha em território ucraniano.
Isso indicaria que “os militares russos continuam a sofrer na Ucrânia uma escassez severa de fornecimento, devido parcialmente aos controles de exportação e às sanções”.
A notícia foi publicada poucos dias depois de o governo do presidente Joe Biden ter confirmado que a Rússia recebeu os primeiros carregamentos de drones de fabricação iraniana, comprados em agosto, alguns dos quais com problemas mecânicos, de acordo com Washington.
O New York Times reportou que funcionários do governo americano acreditam que a decisão da Rússia de recorrer ao Irã e mais recentemente à Coreia do Norte é um sinal de que as restrições impostas às exportações estão afetando a capacidade de Moscou para obter material bélico.
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A publicação frisa que ainda não há informações sobre a quantidade das remessas e que os primeiros dados sobre os negócios com a Coreia do Norte ainda não foram confirmados por fontes independentes.
Mesmo assim, um funcionário da administração dos Estados Unidos disse que, além dos foguetes de artilharia de curto alcance e munições, é possível que a Rússia tente comprar da Coreia do Norte “equipamento adicional” no futuro.
“O Kremlin deveria sentir-se alarmado por ter de comprar seja o que for da Coreia do Norte“, disse Mason Clark, que dirige a seção Rússia no Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla em inglês), um think tank americano.
Cooperação
A Coreia do Norte tem procurado estreitar relações com a Rússia, enquanto Europa e o Ocidente se afastaram do país, culpando os Estados Unidos pela crise da Ucrânia e condenando a “política hegemônica” do Ocidente, justificando a ação militar da Rússia na Ucrânia como um meio de proteção russo.
Os norte-coreanos afirmaram ter interesse em enviar trabalhadores para ajudar a reconstruir os territórios ocupados pela Rússia no leste ucraniano. O embaixador da Coreia do Norte em Moscou se reuniu recentemente com enviados dos dois territórios separatistas apoiados pela Rússia na região ucraniana do Donbass e expressou otimismo sobre a cooperação no “campo de migração laboral”.
Em julho, a Coreia do Norte tornou-se a única nação, além de Rússia e Síria, a reconhecer a independência dos territórios de Donetsk e Lugansk, alinhando-se ainda mais a Moscou em relação ao conflito na Ucrânia.
A exportação de armas norte-coreanas para a Rússia seria uma violação das resoluções da ONU que proíbem o país de exportar ou importar armas de outros países. O possível envio de trabalhadores para os territórios controlados pelos russos na Ucrânia também violariam uma resolução da ONU exigindo que Estados-membros repatriassem todos os trabalhadores norte-coreanos de seu território até 2019.
Há suspeitas de que a China e a Rússia não têm implementado completamente as sanções da ONU impostas à Coreia do Norte, dificultando os esforços liderados pelo governo dos EUA para tentar privar a Coreia do Norte de suas armas nucleares.
As notícias sobre os negócios bélicos da Coreia do Norte com a Rússia chegam no momento em que a administração Biden se preocupa cada vez mais com a intensificação das atividades da Coreia do Norte rumo à obtenção de armas nucleares.
A Coreia do Norte testou mais de 30 mísseis balísticos neste ano, incluindo seus primeiros lançamentos de mísseis balísticos intercontinentais desde 2017, enquanto o líder Kim Jong-un pressiona para avançar seu arsenal nuclear, apesar da pressão e das sanções lideradas pelos EUA.
O presidente russo, Vladimir Putin, e Kim trocaram recentemente correspondência em que ambos se dizem a favor de uma cooperação “abrangente”, “estratégica e tática” entre os dois países.
Moscou, por sua vez, emitiu declarações condenando o renascimento do exercícios militares conjuntos em larga escala de Estados Unidos e a Coreia do Sul este ano, que a Coreia do Norte considera como um ensaio de invasão.
A Rússia, junto com a China, pediu a flexibilização das sanções da ONU impostas à Coreia do Norte por causa de seus testes nucleares e de mísseis.
Ambos os países são membros do Conselho de Segurança da ONU, que aprovou um total de 11 rodadas de sanções contra Pyongyang desde 2006.