Repousando sobre solo esplendido defronte a Praça João Pessoa, no centro da cidade, onde nasceram os primeiros encontros sociais, originando as grandes rodas de debates da intelectualidade, nas proximidades dos melhores aromas exalados dos cafés e bares da urbe dos anos 20, encontra-se ainda, com muita perceptibilidade, o imponente prédio, que por mais de 100 anos testemunha a passagem do tempo e o quanto ele – o tempo – tem transformado as coisas em nossa “Rainha do Brejo” paraibano.
Estamos dando voz ao apelo da arquitetura conceituada eclética, surgida no Brasil no início do século XX. Por esse conceito se entende diversidade estilística, onde portas e janelas são emolduradas, fachada bem ornamentada, simetria dos espaços, sinais e traços que demonstram liberdade criativa.
Pois bem, caro leitor! Quero chamar atenção do vosso olhar sobre um dos mais importantes prédios desta terra, assim como a Catedral de Nossa Senhora da Luz, por ser ele, detentor de singular beleza arquitetônica de nossa cidade, além de sinalizar que por aqui tivemos outras épocas históricas, possuidora de um comércio alteroso nas décadas de 20, 30, 40 e 50, fazendo circular produtos oriundos de importantes centros comerciais como Recife e Natal, através da linha ferroviária Conde D’eu.
Tal importante prédio, contendo 18 grandes portas, localizado na esquina da Av. Pedro II com a Praça João Pessoa é uma edificação exuberante da arquitetura eclética, pertencente a João da Cunha Rego, que aqui se instalara em 1919, dando expansão ao seu negócio, iniciado em Belém-PB nos anos de 1903. Vendendo em grosso e a varejo, acreditava este comerciante que todo sucesso de um empreendimento residia na venda à vista. Um fato interessante nos chamou atenção: no mesmo ano em que Cunha Rego se estabelece em Guarabira, na Parahyba era inaugurada a vistosa edificação do prédio da Associação Comercial da Parahyba, também em estilo eclético, sob a responsabilidade do arquiteto Hermenegildo di Láscio.
Hoje, abrigando lojas, restaurante, academia e outras salas comerciais, o Armazém de Cunha Rego, em sua parte externa, contrariando o que fora no início do século XX, destoa tristemente de seu projeto original, que vem sendo ferido pela ação comercial moderna (?) das lojas por ali instaladas, substituindo sua arquitetura original, contendo textura e sucos horizontais, por revestimentos cerâmicos da contemporaneidade, além das enormes placas em lonas coloridas, obstruindo pináculos, mãos francesas e estuques, sendo estas intervenções nocivas à história arquitetônica e memória cultural da cidade.
A presente reflexão se destina a incentivar atitudes e gestos de preservação da memória coletiva do povo guarabirense, possibilitando às gerações futuras o entendimento do mundo e suas transformações.
Por Percinaldo Toscano