A insistência do PT com a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está preso e impedido de concorrer pela Lei da Ficha Limpa, parece ter chegado ao fim. Movimentos internos no partido indicam que o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad poderá viabilizar-se como pré-candidato da legenda à Presidência da República em breve. Haddad foi convocado para detalhar o plano de governo do PT, que será apresentado durante a campanha e mantido caso Lula seja impedido pela Justiça de participar do pleito.
As diretrizes do plano de governo permanecem em sigilo pela cúpula do partido, mas assessores informaram ao Correio que as grandes preocupações do PT são segurança e economia. A oficialização da candidatura de Haddad, vista como certa, só será feita depois de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) declarar Lula inelegível. Contudo, o ex-prefeito já aparece em pesquisas de intenção de voto, como a divulgada semana passada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), em parceria com o Ibope. No levantamento, Lula tem 33% e, em um cenário sem ele, Haddad registra 2%.
Lula está cada vez mais próximo de Haddad e já detalhou a ele suas ideias. Para facilitar a conversa, o ex-presidente decidiu que Haddad passará a integrar a equipe de advogados que irá representá-lo junto ao TSE. O ex-prefeito é formado em Direito pela Universidade de São Paulo (USP), mas o objetivo está longe de ser aproveitar o seu conhecimento jurídico. A principal vantagem é que, graças ao fato de ser advogado de Lula, Haddad passa a ter o direito de visitar Lula todos os dias na sede da Polícia Federal em Curitiba, e pode receber orientação constante do mentor.
Levantamentos apontam que o nome de Haddad seria o mais palatável neste momento de radicalização. O ex-prefeito é visto como conciliador, com trânsito até mesmo na ala do PSDB liderada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Há quem fale, inclusive, que PT e PSDB estão fechados, atuando nos bastidores por um acordo político para conter movimentos externos.
Para fortalecer Haddad e sinalizar que ele será o candidato do PT, Lula também escolheu o pupilo para ser o interlocutor do partido junto às Forças Armadas. Foi Haddad quem conversou com o general Eduardo Villas Bôas dentro da proposta dos militares de ouvirem os pré-candidatos. A princípio, esse papel caberia a Jaques Wagner, ex-ministro da Defesa, que circula com desenvoltura na caserna.
Há pressa dentro do PT para que o candidato do partido ao Palácio do Planalto seja definido logo, uma vez que os pré-candidatos estão mostrando a cara todos os dias, enquanto o partido perde tempo batendo o pé por Lula. Mas os petistas reconhecem que não podem abandonar o ex-presidente, uma vez que, até o posicionamento oficial do TSE, ele será o candidato oficial à Presidência da República.
A ideia é fazer com que Lula continue em alta, com força suficiente para transferir seus votos a Haddad. Em todas as pesquisas de intenção de votos, Lula aparece na liderança, quando citado. O partido também acredita que Haddad atrairá a atenção dos eleitores que dizem que anularão os votos ou votarão em branco.
Oficialmente, a legenda não confirma a candidatura de Haddad. Caciques petistas afirmam que a ideia de colocar os dois em contato surgiu apenas porque o ex-prefeito coordena o plano de governo petista. Em 15 de agosto, Lula será registrado, segundo a assessoria de imprensa do ex-presidente. A equipe de Haddad, por sua vez, diz que a possibilidade de substituição sempre existe. “Todo padre quer ser papa. Existe a possibilidade? Sim. Mas nosso candidato é o presidente Lula”, afirma um petista próximo a Haddad que prefere não ser identificado.
Outro líder do partido que participou dos governos de Lula e Dilma detalha que Haddad tem ganhado cada vez mais força dentro do partido. Entretanto, ele relembra que os nomes da senadora Gleisi Hoffmann (PR) e de JaquesWagner ainda estão no páreo para substituir Lula nas urnas. Gleisi segue assombrada pela Lava-Jato, embora tenha ganhado fôlego após ser inocentada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Caso não seja escolhida para disputar as eleições presidenciais, ela deve tentar uma vaga na Câmara dos Deputados.
Wagner, por outro lado, não quer ser candidato à Presidência de República. Pesquisas do partido na Bahia dão como certa a eleição do ex-governador ao Senado Federal. Entretanto, ele aguarda as bênçãos de Lula para disputar uma das vagas na Casa. “No fim das contas, quem vai decidir é o partido. E o partido é Lula”, afirma um petista graduado.
Necessidade
O professor de Ciência Política da Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ) Augusto Mendonça afirmou que a movimentação do PT é, além de esperada, muito necessária. “Eles precisam parar de perder tempo com essa luta para colocar o nome do Lula em uma coisa que não tem razão de ser. Se você sabe que algo é proibido, e não terá permissão para continuar, é melhor deixar de lado.”
Mendonça se lembra da necessidade de alianças e explica que um candidato preso dificultaria muito as eleições, ainda que ele esteja na frente. “Você precisa de tempo e espaço para conseguir fechar os acordos necessários para uma disputa presidencial. Enquanto isso, os outros pré-candidatos estão aí tentando costurar apoio entre si e atacando seus adversários, o que inclui o Lula. Na minha opinião, ele tem de passar logo essa bola”, assinala.