O povo norte-coreano descobriu quem seria seu próximo dirigente durante o enterro de Kim Jong-il, em dezembro de 2011. Kim Jong-un tinha apenas 28 anos na época e era quem carregava o caixão de seu pai, sinal de que o sucessor já havia sido escolhido. Poucos observadores nacionais e internacionais o julgavam capaz de dirigir o país, mas o jovem ditador transformou rapidamente a Coreia do Norte, criando ritos de adoração ao chefe de Estado.
“O sucesso político não alimenta o povo”, explicou Go Myung-hyun, do Instituto Asan de Seul. “Kim Jong-un precisa de resultados econômicos, mas não consegue mais obtê-los. Para compensar a falta de sucesso econômico prometida a seu povo, ele busca preencher esse vazio com uma filosofia oficial”, disse à RFI.
Para esconder suas dificuldades políticas e econômicas, Kim Jong-un reforça o culto à personalidade, chegando até mesmo a esconder em seu gabinete os quadros dos ex-líderes norte-coreanos que o precederam na função. Ele exige ser chamado de Suryong, ou “dirigente supremo”, um título reservado, até agora, a seu avô, Kim II-sung, fundador do regime.
Essa idolatria faz parte do cotidiano do povo norte-coreano, privado de todo tipo de liberdade e sobre quem Kim Jong-un tem poder de vida e morte. A título de exemplo, é o regime que escolhe a profissão que as pessoas vão exercer em seu futuro.
Nesse contexto, com bandeiras a meio mastro e três minutos de silêncio, a Coreia do Norte lembrou nesta sexta-feira (17) os 10 anos da morte de Kim Jong-il. O líder governou a Coreia do Norte durante 17 anos.
Em uma praça de Pyongyang, a capital, os norte-coreanos recordaram o aniversário e inclinaram a cabeça em silêncio diante dos retratos do falecido líder e de sei pai, Kim Il-sung, fundador da Coreia do Norte.
Durante a cerimônia, as pessoas também se inclinaram diante de um mural que representa os dois Kims e depositaram flores no local. A imprensa estatal norte-coreana publicou editoriais que elogiam a “liderança revolucionária” de Kim Jong-il, e pedem à população que se mantenha “fiel” a seu filho.
Lealdade partidária
“Com o respeitado líder Kim Jong-un como figura central, devemos fortalecer nossa lealdade partidária e revolucionária”, afirma o jornal oficial do Partido dos Trabalhadores, “Rodong Sinmun”.
Ele também destacou que o povo deve aderir às “ideias e à liderança” de Kim Jong-un. Desde 1948, três gerações da família Kim governaram o país.
Durante a dinastia Kim, a Coreia do Norte adquiriu mísseis de longo alcance e armas nucleares, mas sua economia estatal é mal administrada e o país enfrenta uma escassez crônica de alimentos.
O país fechou as fronteiras no ano passado como forma de proteção contra a Covid-19, o que também afetou sua economia, já abalada pelas sanções internacionais impostas devido a seus programas de armamento.
Kim Jong-un admitiu que existem dificuldades e pediu à população que se prepare para a “pior situação” possível.