O ônibus só passa às 12h30, mas antes de meio-dia pais e estudantes já estão no ponto. O sacrifício é para conseguir viajar sentado. O veículo que faz o transporte de alunos para as escolas municipais Júlio Rabello Guimarães, no Bairro da Luz, e Francisco de Oliveira, no Marco Dois, leva pelo menos 120 crianças em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. A maior parte delas viaja em pé.
— Cada ponto é lotado de crianças. Tem pais que estão voltando alguns pontos para tentar pegar o ônibus mais vazio — conta a dona de casa Cristiane Clemente de Freitas, de 35 anos, mãe de dois alunos da Escola Francisco de Oliveira.
O ônibus parte do Jardim Canaã. Mesmo morando próximo ao segundo ponto, a dona de casa Mônica Cristina de Melo, de 38 anos, aguarda o veículo com pelo menos meia hora de antecedência. Sua filha de 5 anos é aluna da Escola Francisco de Oliveira.
— Na hora, fica muito cheio e faz fila. Quem chegar antes, entra primeiro — explica Mônica.
No quarto ponto, a mãe de um aluno pedia a uma monitora: “Tenta arrumar um espacinho para meu filho não ir em pé”. Mas o veículo já estava lotado. Na sexta-feira, o EXTRA acompanhou o itinerário do ônibus, que transportou 120 crianças por aproximadamente dois quilômetros. Mas esse número pode ser ainda maior. No mesmo dia, por exemplo, não houve aulas para duas turmas da Escola Júlio Rabello.
— São quase 200 alunos sendo levados ali. Fico preocupada porque são muitas crianças no ônibus. Tenho medo até de ele virar. Uma funcionária disse que nós deveríamos fazer uma reunião para pedir outro ônibus — afirmou a dona de casa Noêmia da Silva Pacheco, de 26 anos, mãe de dois estudantes que utilizam o transporte.
Segundo o Guia do Transporte Escolar, “todas as crianças transportadas devem estar com cintos de segurança”. O guia diz ainda que os veículos que fazem transporte escolar devem ter, entre outros pré-requisitos, “cintos de segurança em boas condições e para todos os passageiros, uma grade separando os alunos da parte onde fica o motor e seguro contra acidentes”.
O coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, disse que, em relação à regulamentação do transporte escolar, quando não há uma norma específica do município, vale a norma geral:
— Quando você contrata empresa para fazer o transporte, não pode ter ninguém em pé. Inclusive, crianças com idade adequada devem estar na cadeirinha.
Questionada, a Prefeitura de Nova Iguaçu não informou quantos lugares há para passageiros no ônibus escolar. Na Escola Júlio Rabello Guimarães, 61 alunos saltaram do veículo. O restante das crianças desceu na Francisco de Oliveira.
Prefeitura disse que vai fiscalizar
O EXTRA perguntou à Prefeitura de Nova Iguaçu quantos ônibus fazem o transporte escolar de alunos da rede municipal, o número de assentos nos veículos e se existe a possibilidade de outro veículo fazer o itinerário, mas não obteve nenhuma dessas respostas.
Em nota, a prefeitura disse que equipes da Secretaria Municipal de Educação de Nova Iguaçu vão acompanhar hoje o itinerário do ônibus escolar citado, “para verificar se todos os alunos que estão utilizando o transporte estão cadastrados para utilizar o serviço”. Ainda segundo o governo municipal, por norma, o transporte escolar nestes ônibus é destinado prioritariamente aos estudantes que moram a mais de um quilômetro da escola.