Uma mulher que foi fotografada sendo algemada em uma manifestação no Reino Unido em março deste ano disse que desde então “cerca de 50” policiais a abordaram em um aplicativo de namoro, deixando-a apavorada.
Patsy Stevenson, 28, havia sido presa em uma vigília em protesto contra a morte de Sarah Everard, que foi sequestrada no caminho para casa e morta pelo policial Wayne Couzens.
Stevenson disse que depois de ter sido presa no protesto, diversos policiais a abordaram no Tinder.
O aplicativo originalmente só permitia conversas entre pessoas que deram “match”, ou seja, quando a atração era recíproca. No entanto, hoje há recursos que permitem que um usuário mande mensagens mesmo que a outra pessoa não tenha demonstrado interesse.
Stevenson afirma que a abordagem dos policiais não foi gratuita e que “havia um motivo” para eles terem a procurado: eles sabiam que ela tinha “medo da polícia”, diz a jovem.
Vigília contra violência
A imagem de Stevenson sendo algemada foi um dos momentos marcantes da manifestação no sul de Londres em março, após a morte de Sarah Everard.
Centenas de pessoas compareceram à vigília, que foi encerrada pela polícia metropolitana de Londres com o argumento que a reunião seria ilegal por causa das restrições impostas pelo governo para conter a pandemia de Covid-19.
Stevenson diz que o evento foi “um divisor de águas”, onde “todos perceberam que, na verdade, todos passamos pelas mesmas coisas”, mas que o “clima tornou-se muito assustador muito rapidamente” depois que a polícia começou a tentar dispersar a multidão.
Ela foi algemada e presa por dois policiais, e também recebeu uma multa de 200 libras (R$1500). Desde então, ela entrou com um processo contra a polícia por causa da prisão.
Ameaças de morte
Stevenson diz que as abordagens que recebeu no Tinder vieram de “cerca de 50” policiais diferentes.
“Todos estavam uniformizados em seus perfis ou diziam ‘sou policial'”, diz a jovem. “Eu não entendo porque alguém faria isso. É quase como uma intimidação, para dizer ‘estamos de olho em você’, e isso, para mim, é assustador.”
“Eles sabem o que eu passei e sabem que tenho medo da polícia. Tem um motivo para eles terem feito isso.”
A jovem diz que ela também se tornou alvo de notícias falsas e conspirações na internet desde sua prisão. Entre as conspirações, pessoas diziam que ela era uma “atriz paga para ser presa e legitimar ataques à polícia”.
“Perdi a conta de quantas ameaças de morte eu recebi”, afirma Stevenson, que também recebeu ameaças de sequestro.
“Agora, se estou na rua e vejo alguém me olhando, fico com medo”, disse ela. “Eu só quero conseguir viver como todo mundo e não ter medo.”
Investigações
Stevenson diz que não é “antipolícia” e que inclusive registrou ocorrência por causa das ameaças – que a polícia diz estar investigando.
A jovem ainda não registrou as abordagens que recebeu no Tinder. Ela diz que a polícia precisa começar “a se responsabilizar pelas ações dos policiais”.
Um dos conselhos da polícia para mulheres que “tiverem preocupações” quando paradas por um policial era “sinalizar para um ônibus”. Stevenson diz que esse tipo de conselho “é parte do problema.”