A paraibana Emmanuela Amorim, de 46 anos, sonhava em ser mãe outra vez. Mãe de dois filhos, ela queria muito poder engravidar novamente, mas não poderia devido a um problema cardíaco e outras complicações. Porém, o que ela não imaginava é que esse sonho se tornaria realidade ao conhecer a irmã mais nova, Andrezza Vidal, de 41 anos, que mora em Campina Grande e decidiu ser a barriga solidária para que Emmanuela pudesse ser mãe de gêmeos.
“Minha barriga solidária para minha irmã Emmanuela é um ato de amor, um desejo do meu coração e permitido pelo Senhor para assim se concretizar”, afirma Andrezza Vidal.
Mas a relação de amor e cumplicidade entre Emmanuela e Andrezza só começou há oito anos, quando as duas, que são irmãs por parte de pai, se conheceram em 2013. É que após a separação dos pais de Emmanuela em Campina Grande, ela foi embora ainda criança com a mãe para morar em Recife, no Pernambuco. Desde então, nunca mais manteve contato com o pai biológico.
Emmanuela, que tem mais duas irmãs por parte de mãe, conta que depois que conheceu Andrezza sempre compartilhou com ela a vontade de ser mãe novamente. Até que no dia 11 de julho do ano passado, Andrezza viu a irmã pesquisando sobre barriga solidária e perguntou se era realmente o que ela queria. “Eu disse que sim. Aí ela me disse: ‘Então bora, eu vou ser a sua barriga solidária’. Eu passei mal na hora”, lembra Emmanuela.
Após meses de preparo e cuidados, Andrezza viajou para o Recife, onde realizou a fertilização in vitro com material do marido de Emmanuela e o óvulo da irmã. Os embriões foram colocados no útero de Andrezza, que está grávida de gêmeos e na última sexta-feira (30) completou cinco meses de gestação.
“Nosso sentimento é de gratidão. A gente não tem como mensurar, dimensionar esse gesto da Andrezza. É realmente um ato louvável, só Deus mesmo pra recompensá-la”, diz Emmanuela Amorim.
Andrezza Vidal, que já é mãe do Caio, de 13 anos, conta que, mesmo distante da irmã, tratou de se cuidar para a gravidez dos gêmeos. Antes de realizar o procedimento em Recife ela chegou a fazer dieta e exercícios de fortalecimento para receber os embriões.
Entre consultas e pré-natal, para a alegria das irmãs, Andrezza conseguiu receber a primeira dose da vacina contra a Covid-19, no dia 14 de julho. “Ela tem todo cuidado do mundo, com a alimentação, com o esforço, onde pisa, é realmente uma relação de muita confiança e ela cuida deles com o maior amor do mundo”, frisa a irmã, Emmanuela.
Sonho de ser mãe pela terceira vez
Emmanuela já é mãe do Emanoel, de 24 anos, e da Emanuele, de 19 anos, filhos do primeiro casamento. A paraibana queria muito ser mãe novamente e ter um filho com o atual marido, Clóvis Correa, mas ela conta que o segundo parto já foi complicado e que quase perdeu a filha mais nova.
“Eu tinha o sonho de ter um terceiro filho, mas minhas duas gestações foram muito conturbadas, eu tinha risco de trombose nas duas e não sabia. Eu só descobri que corria esse risco há quatro anos”, relata Emmanuela.
Emmanuela explica que gerar o terceiro filho seria muito complicado para ela e para a criança. “Porque eu tenho uma degeneração no folheto da válvula mitral, minha médica anterior já tinha dito que eu não tivesse nem a segunda gestação, mas graças a Deus eu consegui ter a minha filha. Além disso, meu emocional é muito forte e eu sei que isso iria atrapalhar”.
“Ver a minha irmã feliz e realizada será minha felicidade também. Vou amá-los como todos os meus sobrinhos, onde me sinto também um pouco mãe de cada um”, comenta Andrezza.
A partir do sétimo mês de gestação Andrezza irá para Recife para que Emmanuela e o marido possam cuidar dela e acompanhá-la até o dia do parto, que também será realizado na capital pernambucana. “Nós deixamos toda documentação pronta dessa questão da barriga solidária, porque é preciso toda uma documentação, que todos assinam antes da inseminação, dizendo de quem são os embriões”, explica Emmanuela.
Para o marido de Emmanuela e pai dos gêmeos, o gesto de amor da cunhada Andrezza é um verdadeiro milagre na vida do casal. “Gratidão primeiramente a Deus por Ele permitir a gente viver esse milagre. E a minha gratidão também se estende, de forma especial, sobre a vida de Andrezza, não tenho palavras pra expressar tamanha empatia, entrega, tamanho ato de nobreza”, diz Clóvis Correa.
Irmãs descobriram sexo dos bebês juntas
Em 11 de julho de 2021, um ano depois de ouvir de Andrezza que ela seria sua barriga solidária, Emmanuela sentiu pela primeira vez os filhos mexendo na barriga da irmã. “Eu sempre ficava colocando a mão na barriga dela e justamente nesse dia, um ano depois, foi a primeira vez que os bebês mexeram”, recorda.
Saber o sexo dos bebês era um dos momentos mais aguardados pelas irmãs e pelo pai dos gêmeos. Andrezza, Emmanuela e Clóvis descobriram juntos que a espera da família é por dois meninos, que receberam os nomes de Téo e Davi.
“Quando eu toco na barriga dela e falo com eles, eles se mexem”, diz Emmanuela emocionada. “É um pedacinho meu com um pedacinho do meu esposo que está dentro da barriga dela”, acrescenta.
Amor entre irmãs quebrando tabus
Emmanuela e Andrezza são cristãs, evangélicas. Emmanuela conta que no início, quando pesquisava sobre barriga solidária, também ficou um pouco assustada, mas depois entendeu o propósito. “Ela está gerando, proporcionando que duas vidas venham ao mundo através dela, então é isso que importa”, salienta.
Sobre a barriga solidária ainda ser um tabu social, Emmanuela diz que o amor quebra qualquer preconceito e julgamento. “Em todo canto que a gente fala sobre o que ela fez e está fazendo as pessoas mudam o que pensam, dizem: ‘eu achava que era bom, eu achava que eu era boa’, então essa entrega dela eu acho que supre qualquer tabu, o resultado tapa a boca de todo tabu, de todo julgamento”, comenta.