Manifestantes protestam ao longo desta segunda-feira (27) em dez estados, criticando os aumentos das tarifas de energia e o impacto na conta de luz da nova bandeira tarifária, implementada pelo governo Jair Bolsonaro (sem partido) por conta da crise hídrica.
Na capital paulista foram dois atos, em São Miguel Paulista, na zona Leste, e em Santo Amaro, na zona Sul, organizados pelo MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens).
Na zona Leste, cerca de 70 manifestantes participaram do protesto nesta manhã, que caminhou, por cerca de 200 metros até uma agência da Enel no bairro. Eles levaram faixas, bateram panelas e entoaram palavras de ordem, como “o preço da luz é um roubo, que tira o sustento do povo”.
Os manifestantes reclamaram do impacto no bolso do consumidor da nova bandeira tarifária implementada pelo governo federal, que aumentou em R$ 14,20 para cada 100 quilowatts-hora (kWh). Muitas das famílias contaram que, com o aumento das tarifas, têm deixado de comer para não ficar no escuro.
O indicador mais caro de energia foi adotado por causa da falta de chuvas, devido ao baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas, o que faz com que seja preciso usar mais usinas termelétricas (mais caras), elevando o custo da energia.
Além do aumento da bandeira, desde julho, os consumidores atendidos pela Enel Distribuição São Paulo tiveram outro aumento, neste caso da tarifa de luz. O reajuste é de um percentual médio de 9,44%.
Segundo uma das organizadoras da manifestação desta segunda-feira, Tamires de Paula, há uma falta de sensibilidade por parte do governo Bolsonaro e das concessionárias, que promovem aumentos significativos da energia, em um cenário de desemprego e inflação elevados.
“As respostas que o governo tem dado para combater os efeitos da crise hídrica são poucas e ruins. Ao mesmo tempo, as concessionárias de energia estão lucrando mesmo durante a pandemia, enquanto o povo não consegue pagar suas contas.”
No fim do ato, eles bateram panelas e queimaram simbolicamente contas de energia.
No caso da catadora de recicláveis Paloma de Aguiar, 31, a conta, que está atrasada desde o início da pandemia, ficou em R$ 4.531 este mês e chegou a ser cortada. “Moro com quatro filhos pequenos e dependo do auxílio emergencial, de pouco mais de R$ 300. Se eu pagar o que eles cobram de luz, fico sem comer.”
“Como uma casa, que só tem um tanquinho, uma TV e uma geladeira, pode consumir tudo isso de energia? A gente se sente abandonado”, resume a manifestante.
A organização prevê atos parecidos em mais estados e novas manifestações em São Paulo, contra aumentos da conta de energia e de preços de alimentos.
Mesmo caminhando com dificuldade e com a ajuda de uma muleta, a aposentada Aparecida da Silva, 65, não deixou de ir ao protesto. “Não tenho opção, é protestar para pagar uma luz mais barata ou continuar deixando de comprar comida”, conta.
Ela hoje depende da aposentadoria por invalidez e da doação de cestas básicas para sobreviver. “Nunca deixo atrasar as contas, mas eles me pedem o impossível. Moro em uma casa de três cômodos e a conta não para de subir. Primeiro, veio uma de R$ 300, outra de R$ 400 e agora já passa de R$ 700.”
O aumento da energia tem pesado também na inflação. Com a gasolina e a energia elétrica mais caras, a prévia da inflação oficial subiu para 1,14% em setembro, segundo dados do IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15).
A taxa é a maior para o mês desde o início do Plano Real, em 1994.
Em 12 meses, com o resultado de setembro, a prévia da inflação chegou a 10,05% no acumulado, atingindo a marca de dois dígitos.
FOLHAPRESS