As colunas de lava do vulcão Cumbre Vieja continuam engolindo tudo o que encontram em seu caminho, na lenta descida para a costa das Ilhas Canárias, na Espanha, e agora geram preocupações pela possível emissão de gases tóxicos quando atingir o Oceano Atlântico.
O encontro do magma ardente com o mar pode gerar explosões, ondas de água fervente e até nuvens tóxicas, segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês).
“As nuvens criadas pela interação entre a água do mar e a lava são ácidas”, explica Patrick Allard, diretor de pesquisa do instituto francês de Geofísica do Globo, em Paris, à agência de notícias France Presse.
Esse “encontro” estava inicialmente previsto para a noite de segunda-feira (20), mas ainda não ocorreu devido ao avanço mais lento da lava na ilha de La Palma, no arquipélago em frente à costa da África.
O magma está a cerca de 2 km do mar e avança por volta dos 200 metros por hora, mas autoridades agora evitam fazer uma nova previsão de quando as colunas de lava podem atingir a água.
O Cumbre Vieja entrou em erupção no domingo (18) e registrou a sua nona fissura eruptiva na noite desta segunda, após um novo terremoto, o que obrigou a remoção de mais 500 pessoas e elevou para 6 mil os deslocados (veja mais abaixo).
Sua erupção pode durar “várias semanas ou alguns meses”, segundo o Instituto Vulcanológico das Ilhas Canárias (Involcan), e o vulcão está expelindo colunas de fumaça que alcançam centenas de metros de altura e entre 8 mil e 10,5 mil toneladas de dióxido de enxofre por dia.
O governo regional das Canárias decretou um “raio de exclusão de 2 milhas náuticas” (cerca de 3,7 km) ao redor de onde os fluxos de lava devem chegar, pedindo aos curiosos que não se desloquem à área.
O presidente da região, Ángel Víctor Torres, afirma que a “lava avança implacavelmente para o mar”, destruindo casas, e se disse “impotente” porque ela “continuará levando outras casas em seu trajeto até o mar”.
Até o momento, a erupção do Cumbre Vieja destruiu 166 construções e atingiu 103 hectares da ilha, segundo o sistema europeu de observação espacial Copernicus (veja no vídeo abaixo a lava atingir a piscina de uma casa que ficou destruída).
Apesar da destruição, nenhuma morte foi registrada até o momento e o espaço aéreo permanece aberto. Há 48 voos programados para hoje no aeroporto da ilha.
O surgimento de uma nova fissura eruptiva na noite da segunda (a nona desde domingo) obrigou a remoção de mais 500 pessoas em El Paso, elevando o total de deslocados para 6 mil. A ilha de La Palma tem quase 85 mil habitantes.
O casal Israel Castro Hernández e Yurena Torres Abreu testemunhou sua casa ser destruída pela erupção — a primeira desde 1971 — e ainda não conseguiu assimilar o que aconteceu.
“Continuamos olhando para lá e não conseguimos acreditar. Ainda pensamos que nossa casa está debaixo desse vulcão”, contou Abreu emocionada. “Não há o que fazer. É a natureza”.