Os organizadores de uma exibição de arte japonesa tiraram da mostra uma estátua que simbolizava a “mulher de conforto”. Eles defenderam sua decisão nesta segunda-feira (2) com a justificativa de que há uma crise na relação entre o Japão e a Coreia do Sul e que receberam ameaças de incêndio.
A retirada da peça não é unanimidade e, entre os curadores, há quem chame isso de censura.
A expressão “mulher de conforto” é um eufemismo japonês para as mulheres que foram forçadas a trabalhar em bordéis durante a Segunda Guerra Mundial –muitas delas eram coreanas.
Esse tema é altamente emotivo para os povos dos dois países, cuja relação ainda é marcada pela colonização japonesa da península coreana, entre 1910 e 1945.
Para o Japão, o assunto está encerrado, poiso país já fez pedidos de desculpas e pagou compensações. A última delas foi em 2015, quando desembolsou 1 bilhão de ienes (cerca de R$ 39 milhões, na cotação atual) a um fundo para ajudar mulheres sobreviventes.
Para muitos coreanos, no entanto, o Japão não fez o suficiente, e a Coreia do Sul dissolveu o fundo no ano passado, dizendo que ele era problemático.
Ameaças
A estátua, “Estátua de uma garota de paz”, dos escultores Kim Seo-kyung e Kim Eun-sung, era exibida na Trienal de Aichi, na região central do Japão. A estreia foi no dia 1 de agosto, e poucos dias depois houve um grande volume de reclamações.
A peça foi retirada depois de serem feitas ameaças por telefone e email, de acordo com a prefeitura da cidade.
O diretor artístico da mostra, Daisuke Tsuda, afirmou em uma entrevista coletiva que a organização foi surpreendida pela deterioração nas relações entre os dois países.
A origem da última disputa tem causa na história em comum dos dois países, mas houve consequências comerciais e também de segurança, quando a Coreia do Sul saiu de um pacto de compartilhamento de informações de inteligência.
“Uma coisa foi a piora rápida nas relações”, disse Tsuda, ao explicar a decisão de tirar a peça da exposição.
Ele disse que as ameaças de incêndio eram preocupantes, e que alguma delas faziam referências ao incêndio na companhia de animação em julho, em Kyoto, quando 35 pessoas foram mortas.
“O fato de que muitos dos telefonemas ameaçadores e os faxes faziam referência a esse incidente, era tão realista e levou a um estresse psicológico muito grande na equipe”, disse ele.
“Era algo que não havíamos previsto.”
Restrição ao livre discurso
Em uma entrevista coletiva separada, no entanto, Yuka Okamoto, que organizou a exibição da imagem, disse que a decisão era o equivalente à censura e restrição do livre discurso.
“A respeito da ‘Estátua da Garota da Paz’, que virou um alvo dos ataques, esse é um trabalho de arte que anseia por um mundo sem guerra ou violência sexual, assim como uma recuperação dos direitos das mulheres e dignidade”, ela disse.
A estátua foi comprada por um executivo espanhol que pretende exibi-la em um “museu da liberdade” que ele planeja abrir em Barcelona.