O paraibano Hulk, atacante do Atlético-MG, concedeu a primeira entrevista exclusiva neste retorno ao futebol brasileiro após carreira de destaque no futebol internacional. O jogador revela que a opinião da família pesou bastante na decisão de voltar ao Brasil.
É também por causa dos laços familiares que o atacante paraibano adquiriu a forma física. Força e tamanho que lhe renderam o apelido de super-herói. Essa história vem dos tempos de criança, em Campina Grande, na Paraíba.
– Eu não sou aquele cara de ficar em academia. Eu vou raramente. Eu costumo dizer que foi da época da feira. Minha academia era trabalhando carregando muita carne nas costas. Ia pra feira com sete, oito, nove anos de idade. E eu via o sofrimento dos meus pais. Tinha que sair de casa duas, três horas da manhã, pra poder ir pra feira. Eu via o sofrimento. Depois que comecei a viajar, tracei como objetivo tirar meus pais da feira.
Aos quinze anos, Hulk ganhou uma oportunidade de jogar em Portugal. Depois, voltou ao Brasil para atuar no Vitória, por apenas duas partidas. Seguiu para o futebol japonês.
– Costumo dizer que não senti nem o gostinho do futebol brasileiro, né? Mas ao mesmo tempo eu fechava os olhos e lembrava da época de feira. O sofrimento que meus pais passavam na feira. As humilhações. E eu falava assim: poxa, se eu voltar eu vou voltar pra feira.
Após sucesso no Japão, Hulk foi para Portugal defender o Porto. Ganhou sete títulos nacionais por lá e se mudou para Rússia, onde atuou pelo Zenit. De lá, o atacante seguiu pra o futebol chinês, sendo contratado pelo Shanghai SIPG, na maior transação da época do país asiático. Chegou e mudou a trajetória do clube.
– Ele bota música no vestiário, ele ajuda os companheiros e liga o som alto pro pessoal ir cantando no ônibus. Mesmo os russos, que são mais frios, ou na China, ele chega e já vai mudando aquele negócio da cultura, de trazer essa alegria do Brasil. Gosta muito das músicas, gosta de estar com os familiares – conta Eduardo Santos, fisioterapeuta do Shanghai.
Família. É essa relação que traz à tona um lado mais sentimental do jogador.
– Quando ele faz a videoconferência com os meninos, ele se emociona bastante. Ele sentia muita saudade das crianças. É um super pai – afirma a Chef Alê, cozinheira que trabalha com o jogador.
Um super pai, com nome de super-herói. Sem o poder de se teletransportar, Hulk queria voltar a viver perto de quem ama.
– Com certeza isso pesou bastante, já que meus filhos estão no Brasil, mas eu também pensei bastante. Conversei muito com a minha esposa. A gente tinha várias propostas pra Europa, mundo árabe, e ela até falou assim: “Amor, o que você deseja?”. Quando veio o Atlético, e eu vendo o projeto e conhecendo a estrutura que é, foi uma coisa muito boa, e valeu a pena a gente esperar um pouco.
Foram 16 anos de espera para voltar a jogar no futebol brasileiro. Só que pela seleção brasileira, Hulk tinha entrado em campo, em território nacional, bem antes. Foi titular na Copa de 2014, o que tornou a estreia dele pelo Atlético mais emblemática. O jogo contra o Uberlândia, pelo Campeonato Mineiro, trouxe o atacante de volta ao Mineirão, palco da eliminação para a Alemanha, com goleada de 7 a 1, na semifinal do Mundial.
– Fica aquela imagem negativa que a gente recorda até hoje. Mas se você pergunta “tu queria não estar ali? Tu se arrepende de estar naquele momento e perder da forma que foi?”, eu diria que não. Sou muito grato a Deus por ter conseguido jogar uma Copa do Mundo, principalmente no nosso país.
Contra a Alemanha, Hulk jogou apenas o primeiro tempo. Na estreia pelo Atlético, atuou durante toda a partida. Não fez gol, mas o chega pra lá no volante Franco repercutiu e virou meme.
– Pois é… Mas é um lance que já aconteceu diversas vezes comigo, de usar o corpo assim, mas eu espero que seja mais um meme pro lado positivo.
Hulk também deu um passe para o gol de Diego Tardelli, na goleada por 4 a 0. Serviu para mostrar que o estádio não deixou nenhum trauma.
– Querendo ou não, o Mineirão vai ser minha casa durante muito tempo aqui. De muitos jogos, talvez anos ainda. Espero ser muito feliz no Mineirão, contribuir com o sucesso do Galo pra alegria dos torcedores. Vou dar meu melhor pra ser feliz no Mineirão, onde passei um susto que não foi muito bacana.
Bacana também é a ligação de Hulk com outro nordestino, que fez sucesso em Belo Horizonte. Givanildo Oliveira, técnico campeão da Série B com o América e ex-jogador do Corinthians.
– Meu pai é corintiano, né? Hoje nem tanto. Mas ele era fanático e conta que tinha o Givanildo, que jogava no Corinthians. Colocou meu nome Givanildo por causa do jogador. Mas meu pai também se chama Gilvan. Então ficou bem parecido.
Contato com a própria cultura, proximidade da família e títulos. Hulk voltou ao Brasil em busca de tudo isso. Mesmo vivendo em Minas Gerais, que fica a cerca de 2 mil quilômetros da Paraíba. Nos últimos 16 anos, ele nunca morou tão perto do lugar que mais gosta. Principalmente para quem tem a própria aeronave.
– Duas horas avião, duas horas e vinte a gente está lá na Paraíba já.
Para esse brasileiro que passou tanto tempo fora do país, o estado natal também é um estado de espírito.
– Eu sou da Paraíba, esse é o meu lugar. A cara desse povo tem a minha cara. Encantos e belezas que me fazem sonhar. Lugar tão lindo assim pra mim é joia rara. Que bom estar no ponto mais oriental. Astrologicamente ser um Ariano, rimar como um augusto tão angelical. Eu sou muito feliz, eu sou paraibano – encerra o jogador, cantando “Paraíba Joia Rara”.