O Exército da Libertação Nacional (ELN), a última guerrilha reconhecida na Colômbia, anunciou nesta segunda-feira (20) que tem disposição para reiniciar negociações de paz com o presidente eleito, o esquerdista Gustavo Petro, após a ruptura dos diálogos pelo governo em final de mandato.
O comando central da organização divulgou uma declaração na qual afirmou que o ELN “mantém seu sistema de luta e resistência política e militar, mas também [mantém] sua plena disposição de avançar em um Processo de Paz que dê continuidade à Mesa de Conversas iniciada em Quito em fevereiro de 2017”.
“Ontem Gustavo Petro foi eleito presidente, este governo deve enfrentar as mudanças para uma Colômbia em paz”, afirmou a guerrilha de origem guevarista.
Histórico das negociações entre ELN e governo
Formado em 1964, influenciado pela Revolução Cubana, o ELN chegou a negociar com os governos de César Gaviria (1990-1994), Ernesto Samper (1994-1998), Andrés Pastrana (1998-2002) e Álvaro Uribe (2002-2010).
A última tentativa foi iniciada quando Juan Manuel Santos estava na presidência da Colômbia. Santos, que venceu o Nobel da Paz, manteve conversas com o ELN no Equador e em Cuba, após assinar o acordo que dissolveu um outro grupo de guerrilha, as Farc.
As negociações foram interrompidos pelo presidente Iván Duque, que assumiu depois de Santos. O fim do diálogo ocorreu depois que os rebeldes atacaram uma escola de polícia com um carro-bomba em janeiro de 2019. O ataque deixou 22 vítimas, além do agressor.
Duque, crítico ferrenho do pacto, desistiu de dialogar com os que mantiveram as armas diante de sua negativa de parar os ataques contra a população e a força pública.
O atual presidente da Colômbia ainda pediu a Cuba para prender e entregar o negociador do ELN —o governo cubano não fez isso, e afirmou que havia protocolos assinados pelas partes para garantir o retorno dos rebeldes a seu país se o processo de paz fracassasse.
Novo capítulo
Após a eleição deste domingo, o senador e ex-guerrilheiro Petro será o primeiro presidente de esquerda na história da Colômbia com um programa de profundas reformas que inclui a retomada das negociações com o movimento comandado por Antonio García.
O ELN está em expansão e hoje conta com 2.500 membros, segundo números oficiais. No momento das negociações, contava cerca de 1.800 rebeldes.
Financiada principalmente pelo tráfico de drogas e extorsões, a guerrilha exerce forte influência na região do Pacífico e na fronteira com a Venezuela, além de alimentar uma extensa rede de apoio em pontos urbanos.