Em se tratando de aliados, talvez não seja fácil aceitar. No geral, a dificuldade talvez seja entender. A verdade, porém, é que o propalado prestígio do ex-governador Ricardo Coutinho junto à cúpula nacional do PT parece ter se esfumado depois das eleições ou talvez nunca tenha existido na proporção divulgada na Paraíba.
A mais eloquente evidência dessa situação foi consumada na plenária do PT de João Pessoa, no último sábado. O debate girou basicamente sobre política e as eleições de 2024 na Capital, com os principais interessados tentando forçar a abertura do PED (Processo de Eleições Diretas), instrumento interno usado pelo partido para definições de dirigentes locais e candidaturas, processo que sempre contou com intensa participação do deputado Luís Couto.
Inusitadamente, o parlamentar usou a plenária para outra articulação. Couto usou a palavra para convocar os militantes petistas a assinarem um documento (abaixo-assinado) pedindo um cargo para o ex-governador Ricardo Coutinho no governo Lula.
O abaixo-assinado seria a demonstração de interesse do partido na Paraíba em ver Ricardo ocupando um cargo no governo federal e deverá chegar diretamente ao presidente Lula.
Embora os articuladores da iniciativa falem que se trata de uma forma de “lembrar” a importância do ex-governador da Paraíba em defesa da candidatura de Lula e do PT de uma maneira geral, não deixa de significar uma forma de pressão.
Significa também que Ricardo e aliados perderam a esperança de que o Planalto indique espontaneamente o ex-gestor da Paraíba para alguma função do governo.
Outra sinalização é de que a cúpula petista (incluindo o presidente Lula) parece avaliar que já fez por Ricardo Coutinho o suficiente para demonstrar gratidão quando atropelou as instâncias partidárias no Estado para garantir sua candidatura a prefeito de João Pessoa em 2020 e a senador em 2022.
A candidatura ao Senado custou caro ao partido. Custou uma vaga no Congresso, especialmente quando o governo Lula precisa desesperadamente de maioria parlamentar. Havia inelegibilidade decretada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), mas Ricardo insistiu e a direção nacional bancou sua candidatura. Um outro nome poderia ter vendido o pleito.
Além disso, as denúncias de envolvimento na Operação Calvário geram problemas para a nomeação de Ricardo para cargos importantes no governo. Politicamente, o governo tenta se distanciar de casos que possam o associar à corrupção. Administrativamente, a Comissão de Ética da presidência tem sido rigorosa e barrado algumas indicações para cargos no governo.
Na política, quase sempre é assim: um dia o poder pessoal se esvai. Pode ser reconquistado, mas sempre se esvai.
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