Diante da perspectiva de uma eventual crise energética no inverno, discute-se acaloradamente na Alemanha sobre as últimas três usinas nucleares em funcionamento, que, em princípio, deveriam ser desconectadas da rede até 31 de dezembro.
Funcionamento prolongado com capacidade reduzida, prorrogação por anos, ou até mesmo a reativação de unidades já desligadas no contexto do programa de abandono da energia nuclear? Todas as opções estão sendo discutidas. Enquanto isso, em outros 12 dos 27 países-membros da União Europeia, a energia continua sendo utilizada para produção de eletricidade, em proporções diversas.
Único abandono total: Alemanha
Em 1998, a coalizão de governo verde-social-democrata da Alemanha decidiu implementar a reivindicação de parte da população de que se deixasse de usar a energia nuclear. Em 2009, o governo liderado pelos democratas-cristãos retirou a decisão e no ano seguinte prolongou o prazo de vida dos reatores.
Após o devastador acidente atômico de Fukushima, em 2011, mudou-se de perspectiva, e a chanceler federal Angela Merkel cuidou para que se voltasse a aprovar o abandono nuclear. De 17 reatores, até hoje 14 foram desativados, e os três restantes, responsáveis por 6% do abastecimento elétrico alemão, não deveriam passar de 2022. Porém o plano de substituí-los provisoriamente por usinas a gás tornou-se impossível com o início da guerra da Rússia contra a Ucrânia.
Abandono adiado: Bélgica
No segundo semestre de 2022, após a invasão da Ucrânia pela Rússia, a Bélgica congelou por nada menos do que dez anos a decisão de abandonar a energia nuclear. No momento, 50% da eletricidade do país é de origem nuclear, e até 2035 dois dos sete reatores ativos seguirão funcionando. Têm partido da Alemanha críticas repetidas aos padrões de segurança das centrais belgas.
A Polônia até agora não adotou a energia nuclear, mas quer começar, e seu primeiro reator deverá estar pronto em 2033. Empresas dos Estados Unidos, Coreia do Sul e França competem para participar do projeto. O plano original de cooperação com a vizinha Lituânia foi posto de lado. Varsóvia quer reduzir as emissões de dióxido de carbono provenientes da queima de carvão e considera a energia nuclear limpa.
Até 2009, a Lituânia produzia eletricidade com o velho reator Ignalina, da era soviética. Sob pressão da União Europeia, ele foi fechado por considerações de segurança. A construção de uma nova usina, a Visagina, foi suspensa em 2016, após um referendo com resultado negativo. Contudo, o governo lituano ainda planeja construir novas usinas.
A Holanda desistiu do abandono da energia nuclear decretado em 2021. Em vez disso, o governo pretende construir duas novas usinas. A central atualmente em funcionamento cobre 3% da demanda nacional de eletricidade.
Seis usinas produzem 40% da eletricidade da Suécia. O país havia decidido em 1980 abandonar a energia nuclear, assim que não fosse mais possível a operação comercial das centrais existentes. Em 2010, porém, a decisão foi revogada e até dez reatores podem seguir em funcionamento. Ao mesmo tempo, quatro usinas mais antigas foram desativadas. Em princípio, Estocolmo pretende reduzir a participação nuclear em sua matriz energética, mas não menciona datas concretas.
Na França praticamente não há dúvida quanto à utilização da energia nuclear: 56 reatores, muitos dos quais atualmente em manutenção, produzem cerca de 70% da eletricidade que a população também usa para a calefação. Um novo reator está sendo construído, há seis outros em planejamento e propostas para a substituição de oito centrais antigas.
Como maior exportador de eletricidade da Europa, o país também vende sua energia de origem nuclear para o Reino Unido e a Itália. Paris pretendia, até 2025, reduzir a 50% a participação da energia nuclear, porém já em 2019 esse plano foi adiado em dez anos.
A Finlândia tem cinco reatores em atividade, um sexto entrará definitivamente na rede até o fim de 2022. A firma russa Rosatom estava originalmente contratada para construir mais uma usina em Hanhikivi, porém os finlandeses cancelaram o contrato após o início da invasão da Ucrânia. O país será o primeiro a possuir um depósito final de lixo atômico, onde os elementos irradiados ficarão armazenados por milênios.
A Hungria aposta incondicionalmente na Rússia, não só para seu gás como na energia nuclear, para desagrado dos demais Estados-membros da UE. Além das quatro usinas em funcionamento, a firma russa Rosatom instalará mais duas, cuja primeira fase de construção se inicia em setembro. Assim, a parcela nuclear na matriz energética nacional subirá de 50% para 60%. Em julho, o ministro húngaro do Exterior, Peter Szijjártó, esteve em Moscou, a fim de selar definitivamente o negócio.
Planos de expansão: Bulgária, R. Tcheca, Romênia, Eslováquia, Eslovênia, Espanha
Dois reatores cobrem atualmente 30% da demanda energética da Bulgária, que pretende ampliar sua rede de energia nuclear. A construção por empresas russas de um reator em Belene foi cancelada no segundo semestre de 2022, e o país aposta agora em reatores menores, apropriados para instalação descentralizada.
A postura da República Tcheca em relação à energia nuclear é positiva. Com seis usinas, ela produz assim 30% de sua eletricidade. Uma nova expansão está prevista até 2040, a fim de reduzir as emissões de CO2 das usinas a gás e carvão mineral.
Na Romênia há duas usinas em funcionamento, cobrindo de 15% a 20% da demanda de eletricidade, e o governo pretende ampliar essa fonte de energia, mas sem ter ainda planos muito concretos.
A Eslováquia satisfaz cerca da metade de sua demanda com quatro reatores nucleares. Essa forma de energia tem amplo apoio no governo. Os bastões radioativos são atualmente fornecidos pela Rússia, mas a intenção é substituí-los com extração de urânio local. Planeja-se uma unidade de processamento para os elementos irradiados, mas apenas depósitos provisórios para o lixo atômico.
A Eslovênia opera juntamente com a vizinha Croácia uma usina nuclear que atende a 36% de sua demanda. Cogita-se construir um segundo reator, com um depósito provisório de lixo nuclear nas vizinhanças.
Cerca de um quarto da eletricidade da Espanha vem de sete usinas nucleares, e o futuro dessa energia no país depende de quem está no governo. Tradicionalmente, os socialistas tendem a uma contenção, enquanto conservadores são a favor da ampliação. No momento a decisão é não construir novas centrais, mas reformar as existentes. As licenças de funcionamento se encerram entre 2027 e 2035. Nos últimos anos, três unidades mais antigas foram desconectadas. Estuda-se explorar as jazidas nacionais de urânio.
A União Europeia considera a energia nuclear sustentável, e seus Estados-membros têm autonomia para definir com que tipo de matriz energética pretendem alcançar as metas climáticas até 2050. Em todo o bloco, atualmente 25% da eletricidade é de origem nuclear.