A cúpula do Exército ficou surpresa com a queda a jato do ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, considerou anormal o que ocorreu e vem manifestando preocupação com possibilidade de demissão do comandante da Força, general Edson Leal Pujol.
Se isso ocorrer, seria algo sem precedentes desde a redemocratização, segundo percepção de generais ouvidos pela reportagem sob a condição de anonimato. Eles não esperam que o comandante peça demissão ou seja demitido.
Pujol convocou uma reunião virtual com o alto comando do Exército para o início da noite desta segunda-feira (29). Ele deve explicar os próximos passos diante da crise aberta com a demissão de Azevedo, general da reserva do Exército.
Antes, Pujol reuniu-se com os comandantes da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Antonio Bermudez, e da Marinha, almirante Ilques Barbosa Júnior.
A nomeação ao cargo de comandante é uma atribuição do presidente da República. Mesmo assim, os militares entendem que o cargo é de natureza eminentemente técnica, e não política.
A tradição é o envio de uma lista tríplice ao presidente, com os nomes dos três generais quatro estrelas mais antigos na ativa. O normal é uma troca de um mandato presidencial para outro.
Pujol foi colega da turma de Bolsonaro, a de 1977, na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras). Na campanha presidencial de 2018, o general aconselhou o então candidato por diversas vezes, especialmente no sentido de não radicalizar e amansar o discurso durante o pleito.
Bolsonaro confirmou a expectativa na caserna e indicou Pujol ao cargo de comandante do Exército, em janeiro de 2019. Ele substituiu Eduardo Villas Bôas, que ficou quatro anos no cargo. Bolsonarista, Villas Bôas foi abrigado num cargo no Palácio do Planalto após deixar o comando do Exército.
Pujol alinhou-se ao presidente em determinadas questões, como no aval à permanência do general Eduardo Pazuello na ativa da Força e no cargo de ministro da Saúde.
Pazuello foi demitido na semana passada. É investigado pela Polícia Federal por supostos crimes ao se omitir na crise de oxigênio em Manaus, em janeiro.
Pujol também avalizou a produção de cloroquina pelo Laboratório Químico Farmacêutico do Exército. O medicamento, sem eficácia para Covid-19, é o carro-chefe de Bolsonaro na pandemia. Foram produzidos 3,2 milhões de comprimidos na gestão do comandante.
Mesmo assim, Bolsonaro tem divergências com Pujol. Ele se ressente de posturas não negacionistas do militar durante a pandemia, especialmente no que diz respeito a medidas de distanciamento social dentro do Exército.
A demissão de Azevedo pegou de surpresa generais que integram o alto comando do Exército. Alguns deles ligavam a TV sintonizados em canais de notícias para entender o que estava ocorrendo.
Generais se reuniram na semana passada em Brasília com Pujol, e a demissão de Azevedo não estava no radar desses militares.