ex-vice-presidente dos Estados Unidos Joe Biden entrou nesta quinta-feira na disputa pela candidatura democrata para a Casa Branca em 2020 como um favorito instantâneo, deixando para trás os outros candidatos e aumentando a pressão para que os postulantes com desempenho mais modesto encontrem maneiras de sobreviver.
Biden, de 76 anos e senador de longa data que serviu por dois mandatos como vice do presidente Barack Obama, anunciou sua candidatura em um vídeo no qual exaltou a importância de derrotar o atual presidente, o republicano Donald Trump, nas eleições do ano que vem.
“Estamos numa batalha pela alma desta nação”, disse Biden. “Eu acredito que a história vai olhar para trás, sobre os quatro anos deste presidente e tudo que ele representa, como sendo um período bizarro. Mas se dermos a Donald Trump oito anos na Casa Branca, ele vai para sempre e essencialmente alterar o caráter desta nação, quem nós somos, e eu não posso ficar de lado e esperar que isso aconteça.”
Trump respondeu com uma postagem no Twitter em que disse “bem-vindo à corrida Joe Preguiçoso” e questionou a inteligência de Biden.
Na lista que já soma 20 nomes na corrida pela candidatura democrata, Biden se junta ao senador Bernie Sanders, do Vermont, que se descreve como “socialista democrata”. A disputa entre os dois, tidos como os principais postulantes, pode expor o conflito entre as alas moderada e progressista do partido democrata.
Embora Biden ainda precise apresentar as propostas políticas de sua candidatura, ele apoia muitas das pautas valorizadas pelos progressistas, entre elas o salário mínimo, o combate às mudanças climáticas, a proibição de armamentos mais pesados e a universidade pública gratuita.
Ele ainda não se manifestou favorável, porém, a um plano para universalizar o acesso à saúde que é defendido por Sanders e outros candidatos.
Para Kyle Kondik, analista político na Universidade da Virgínia, ainda não está claro se Biden conseguirá capitalizar sobre sua base de apoio leal. Caso isso ocorra, isso pode custar caro a Sanders.
Dado seu apoio de longa data aos afro-americanos e sua parceria com Obama, Biden pode também abalar a candidatura da senadora Kamala Harris, da Califórnia, amplamente considerada uma das principais postulantes à candidatura democrata.
A entrada de Biden na disputa também ameaça Pete Buttigieg, prefeito de South Bend, em Indiana, que nas últimas semanas tem se beneficiado com uma cobertura favorável da imprensa. Ela aumenta a pressão também sobre a ex-secretária de Habitação Julian Castro, do Texas, o senador Kirsten Gillibrand, de Nova York, e o ex-governador do Colorado, John Hickenlooper, que até agora fracassaram em crescer nas pesquisas.
“De muitas maneiras, isso ameniza a disputa em vez de acirrá-la”, disse Jeff Link, um estrategista democrata do Iowa que trabalhou na campanha presidencial de Obama em 2008.
A candidatura de Biden enfrentará vários questionamentos, entre os quais se ele é velho demais e muito ao centro para um partido ansioso por novos rostos e cada vez mais impulsionado por sua ala liberal.
Em candidaturas anteriores, Biden fracassou em angariar um apoio mais amplo dos eleitores. À medida que a especulação sobre sua candidatura crescia, Biden voltou a ser questionado sobre sua propensão já antiga a tocar e beijar estranhos em eventos políticos, e várias mulheres vieram a público dizer que ele as constrangeu.
Biden mostrou dificuldade para lidar com a questão, às vezes fazendo piada a respeito de seu comportamento, mas acabou pedindo desculpas e disse admitir que os padrões de conduta pessoal mudaram na esteira do movimento #MeToo.
Em um comunicado, Obama disse que a escolha de Biden como seu vice em 2008 foi uma das melhores decisões que já tomou.