Uma batalha diária pela sobrevivência, mas sem perder a alegria. Essa é uma das memórias que o sargento Thales Leite Braga, do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, traz do povo haitiano após 21 dias no país caribenho devastado por terremotos.
Além dele, outros três militares mineiros, 24 do Distrito Federal e quatro integrantes da Força Nacional participaram da missão de ajuda humanitária do governo brasileiro.
“A gente percebe que o dia a dia deles é um dia a dia de resiliência, cada dia é uma batalha para sobrevivência, em busca de alimento, em busca de água. E eles não perdem a alegria por essas dificuldades. Acredito que fica uma lição pessoal para cada um”, disse o sargento.
A comitiva brasileira aterrissou em Brasília por volta das 0h desta segunda-feira (13). A equipe mineira, também formada pelo capitão Tiago Silva, tenente Rafael Rocha e sargento Wesley Faria, voltou para Belo Horizonte em um voo comercial durante a manhã.
E, no início da tarde, os militares foram homenageados na Academia do Corpo de Bombeiros, na Região da Pampulha.
Além do reconhecimento e agradecimento por parte da corporação, a cerimônia foi marcada pelo reencontro com a família após três semanas.
“Por mais que hoje em dia tenha a chamada de vídeo, a internet, quando a gente retorna e dá um abraço é uma sensação de alívio, de matar aquela saudade. É um conforto e uma emoção muito grandes”, disse sargento Leite.
Experiência na bagagem
No mês passado, o Haiti foi atingido por terremotos, sendo mais forte de magnitude 7.2. Em um cenário que já era devastador, o ciclone tropical Grace também provocou estragos no território haitiano. Mais de 2 mil pessoas morreram.
Na ida em 22 de agosto, os militares levaram na bagagem suprimentos e equipamentos, como um detector de vida, e principalmente a experiência da atuação em outros desastres: as tragédias de Mariana e de Brumadinho e a missão de ajuda humanitária em Moçambique.
“A experiência advinda de missões anteriores nos dá uma bagagem ainda maior para poder auxiliar nessa questão da ajuda humanitária”, destacou o sargento Faria.
Os bombeiros passaram por cidades completamente destruídas, com problemas de deslocamento e estruturas precárias.
“Encontramos bastante dificuldade, um povo sofrido, que sofreu bastante com a questão do terremoto. Nosso trabalho despendeu principalmente com a questão da integração dos militares, nas ajudas que nós fizemos, podendo resgatar um pouco dessa questão de naturalidade da população, para trazer um conforto com relação à alimentação, hospedagem, às vezes para ter um hospital digno”, afirmou o sargento Faria.
Militares compuseram comitiva brasileira enviada ao Haiti — Foto: Corpo de Bombeiros/Divulgação
A região de trabalho dos bombeiros não tinha água potável para consumo. A missão foi responsável pela instalação de purificadores de água em diversos pontos de atendimento, com objetivo de reduzir os problemas de saúde. Eles também distribuíram alimentos e atuaram com primeiros-socorros.
Um dos casos mais marcantes para os militares foi a revitalização de uma ponte construída em 2009. A estrutura era utilizada, principalmente, para a travessia de crianças até a escola mais próxima.
Antes da construção da ponte, cada uma delas fazia a travessia no colo do Frei Lori, assim conhecido por lá. Ele considerava que a travessia pelo rio, a pé, não era segura para aquelas crianças.
Um outro ciclone que passou pelo Haiti em 2016 abalou essa construção, com o rompimento de cabos. Os militares que integraram a comitiva brasileira ajudaram a consertar a ponte, permitindo o retorno da travessia com segurança.