Após anos de guerra, moradores do noroeste da Síria atingidos por um enorme terremoto estão às voltas com sua nova realidade, que está cada vez pior.
Em Atareb, uma cidade ainda sob poder dos rebeldes depois de anos de confrontos com as tropas do governo, os sobreviventes vasculharam os escombros de suas casas no domingo (12). Recolhendo os restos de suas vidas destruídas, eles procuram formas de se recuperar do mais recente entre os desastres humanitários que se abateram sobre a região, desgastada pela guerra que começou em 2011.
Escavadeiras erguiam o entulho e moradores destruíam as colunas com pás e picaretas para nivelar um prédio demolido.
Dezenas de famílias recém-desabrigadas se reuniram para receber refeições quentes oferecidas por voluntários e pelo governo local de oposição. Um cidadão foi de barraca em barraca para distribuir maços de dinheiro em um abrigo improvisado – o equivalente a cerca de US$18 (R$94) para cada família.
Os sírios estavam fazendo o que aprimoraram ao longo de anos de crise: dependendo uns dos outros para juntar os pedaços e seguir em frente.
“Estamos lambendo nossas próprias feridas”, disse Hekmat Hamoud, que já foi desalojado duas vezes pelo conflito em curso na Síria antes de ficar preso por horas sob os escombros.
O enclave controlado pelos rebeldes no noroeste da Síria, onde mais de 4 milhões de pessoas vêm a custo lidando com ataques aéreos e pobreza crescente, foi atingido em cheio pelo terremoto de 6 de fevereiro.
Segundo a ONU, 6 mil pessoas morreram no território sírio por conta dos tremores, 4,4 mil no noroeste controlado pelos rebeldes. Esse número é maior do que o relatado pelas autoridades do governo em Damasco e pela defesa civil no noroeste, que registraram 1.414 e 2.274 mortes, respectivamente.
Muitas das pessoas na região já haviam sido deslocadas pelo conflito existente, e moravam em assentamentos lotados de barracas ou em edifícios comprometidos por bombardeios anteriores. Agora, os tremores desalojaram muitas outras pela segunda vez, obrigando algumas a dormirem sob os olivais em pleno inverno.
“Perdi tudo”, disse Fares Ahmed Abdo, de 25 anos, pai de dois filhos, que sobreviveu ao terremoto. Sua casa nova e a oficina onde trabalhava consertando motocicletas foram destruídas. Mais uma vez praticamente sem abrigo, e também sem energia elétrica, nem banheiros, ele, sua esposa, os dois meninos e sua mãe doente estão amontoados em uma pequena barraca.
“Aguardo qualquer ajuda”, afirmou.
“Até agora, falhamos com as pessoas do noroeste da Síria”
Ao visitar a fronteira entre Turquia e Síria no domingo, o subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, reconheceu em uma declaração que os sírios ficaram “esperando uma ajuda internacional que não veio”.