Vários aliados e apoiadores do líder da oposição na Rússia, Alexei Navalny, foram detidos em Moscou nesta quinta-feira (28), em meio a investigações buscas após protestos em massa levarem dezenas de milhares de pessoas às ruas em mais de 100 cidades no sábado (23).
Lyubov Sobol (principal aliado de Navalny), Oleg Navalny (seu irmão), Anastasia Vasilyeva (médica de um sindicato apoiado pelo político) e Maria Alyokhina (do coletivo punk Pussy Riot) foram detidos por 48 horas.
Autoridades russas ampliaram as investigações e buscas contra aliados e familiares do opositor do presidente Vladimir Putin que está preso desde o dia 17, quando voltou ao país. Navalny estava na Alemanha se recuperando de uma tentativa de assassinato por envenenamento (veja mais abaixo).
Ele acusa o presidente russo pelo envenenamento com Novichok, um agente neurotóxico, em agosto. “Afirmo que Putin está por trás do ato, não vejo nenhuma outra explicação”, afirmou Navalny em uma entrevista em outubro.
O governo nega qualquer envolvimento no envenenamento. Putin, que se recusa a dizer o nome do seu adversário, afirmou em dezembro que “se alguém quisesse envenená-lo, teriam acabado com ele”.
Buscas e investigações
A polícia fez buscas no apartamento de Navalny em Moscou na quarta-feira (27). Sua esposa, Yulia, gritou pela janela para jornalistas que os policiais quebraram a porta do imóvel e não permitiram a presença da sua advogada.
Também foram feitas buscas em um apartamento onde estava o seu irmão Oleg, nos escritórios da organização de Navalny (o Fundo de Combate à Corrupção) e na residência da sua porta-voz, Kira Iarmych, que foi condenada na sexta-feira (22) a nove dias de prisão.
Investigadores anunciaram nesta quinta-feira (28) que abriram um processo criminal contra Leonid Volkov, aliado próximo de Navalny, por suspeita de incitar adolescentes a participarem de protestos ilegais.
Autoridades anunciaram também investigações por violação de “normas sanitárias” por causa da pandemia do novo coronavírus, convocações de distúrbios, violência contra a polícia e incitar menores a cometer ações ilegais.
O escritório de supervisão das telecomunicações da Rússia anunciou que vai impor sanções a Facebook, Instagram, YouTube, Twitter, TikTok e sites locais por terem permitido mensagens incitando menores a participar dos protestos.
Dezenas de milhares de pessoas foram às ruas no sábado (23) em diversas cidades do país para exigir a liberação do político, que cumpre pena de 30 dias por suposta violação à liberdade condicional — o que ele nega.
Cerca de 4 mil pessoas foram detidas nos protestos, que ocorreram mesmo com a proibição do governo, e os apoiadores de Navalny convocaram um novo protesto para este fim de semana, desta vez em frente à sede da FSB, o Serviço Federal de Segurança (que substituiu a KGB).
Envenenamento com Novichok
Navalny desmaiou em um voo de Tomsk, na Sibéria, para Moscou e só sobreviveu porque o avião fez um pouso de emergência em Omsk, onde foi levado às pressas para a UTI.
Ele chegou a ficar alguns dias internados na Rússia, mas acabou transferido em coma induzido para a Alemanha, onde ficou mais 32 dias internado.
Após uma recuperação de cinco meses na Alemanha, retornou à Rússia no dia 17 e foi imediatamente detido.
Reação internacional
“Estou surpreso de ver até que ponto um só homem, Navalny, parece preocupar ou até amedrontar o governo russo”, afirmou em Washington o novo chefe da diplomacia americana, Anthony Blinken.
O secretário de Estado dos EUA disse que está “profundamente preocupado com a segurança de Navalny” e afirmou que ele é o porta-voz de “muitos russos e deveria ser ouvido, não amordaçado”.