O n\u00famero de alunos com idade acima do recomendado para a s\u00e9rie de ensino na rede p\u00fablica \u00e9 quatro vezes maior em rela\u00e7\u00e3o \u00e0s escolas privadas no Brasil. As turmas das escolas p\u00fablicas t\u00eam um maior n\u00famero de alunos e passam menos tempo na escola em rela\u00e7\u00e3o aos alunos da rede privada. Os dados s\u00e3o do Censo Escolar 2017, divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais An\u00edsio Teixeira (Inep).<\/p>\n
Enquanto a rede privada apresenta uma taxa de 5,1% alunos com idade acima do recomendado no ensino fundamental e 7,4% no ensino m\u00e9dio, a rede p\u00fablica tem 20,7% de seus alunos com idade acima da s\u00e9rie no ensino fundamental e 31,1% no ensino m\u00e9dio.<\/p>\n
Apesar de ainda apresentar disparidade em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 taxa da rede privada, os \u00edndices do ensino p\u00fablico apresentaram queda nos \u00faltimos 10 anos. Em 2007, a taxa de distor\u00e7\u00e3o idade\/s\u00e9rie era de 30,1% no ensino fundamental e 46,5% no ensino m\u00e9dio da rede p\u00fablica.<\/p>\n
O indicador de taxa de distor\u00e7\u00e3o idade\/s\u00e9rie utilizado no Censo Escolar indica o percentual de alunos que tem dois ou mais anos de idade acima do recomendado em determinada s\u00e9rie, tendo como base a idade de seis anos estabelecida para ingresso no ensino fundamental.<\/p>\n
\u201c\u00c9 um retrato muito importante. Se voc\u00ea pensar que a cada quatro alunos da educa\u00e7\u00e3o b\u00e1sica no Brasil um aluno est\u00e1 mais de dois anos defasado \u00e9 um sintoma claro da crise de aprendizagem que o pa\u00eds vive\u201d, explica o gerente de pol\u00edticas educacionais da organiza\u00e7\u00e3o n\u00e3o governamental Todos Pela Educa\u00e7\u00e3o, Gabriel Corr\u00eaa.<\/p>\n
Para a coordenadora de pol\u00edticas educacionais da Campanha Nacional Pelo Direito \u00e0 Educa\u00e7\u00e3o, Andressa Pellanda, o indicador n\u00e3o pode ser analisado apenas do ponto de vista educacional. \u201cA taxa de distor\u00e7\u00e3o passa pela exclus\u00e3o escolar. Muitas vezes, o aluno saiu da escola e voltou depois para uma s\u00e9rie anterior. Esse jovem sai da escola ou tem dificuldade de aprendizagem quando est\u00e1 dentro da escola. Tem diversos fatores que v\u00e3o al\u00e9m da educa\u00e7\u00e3o, que passam muitas vezes pelo pr\u00f3prio arcabou\u00e7o de direitos sociais em que esse jovem est\u00e1 inserido. A distor\u00e7\u00e3o fica maior em regi\u00f5es do pa\u00eds que t\u00eam maiores \u00edndices de pobreza e de vulnerabilidade social\u201d, aponta.<\/p>\n
As maiores porcentagens de alunos acima da idade recomendada nas escolas est\u00e3o no Norte (com 26,4% no ensino fundamental e 41,4% no ensino m\u00e9dio) e no Nordeste (com 24,5% no ensino fundamental e 36,2% no ensino m\u00e9dio). Os estados que apresentam as maiores taxas de distor\u00e7\u00e3o s\u00e3o Sergipe com 30,6% no ensino fundamental e 47,5% no ensino m\u00e9dio, Par\u00e1 com 30,5% no fundamental e 47,5% no m\u00e9dio e Bahia com 29,9% no fundamental e 43,6% no m\u00e9dio.<\/p>\n
Para o Conselho Nacional de Secret\u00e1rios de Educa\u00e7\u00e3o (Consed), as taxas de distor\u00e7\u00e3o na rede p\u00fablica expressam fatores como o volume de estudantes com entrada tardia na escola, as dificuldades na trajet\u00f3ria escolar, a heterogeneidade nas condi\u00e7\u00f5es de aprendizagem dos alunos, e as dificuldades da escola em fazer face a essas diferencia\u00e7\u00f5es nas caracter\u00edsticas dos alunos.<\/p>\n
\u201cO esfor\u00e7o das redes estaduais no cumprimento das metas do Plano Nacional de Educa\u00e7\u00e3o, relativas a essa tem\u00e1tica, tem se concentrado na melhoria do fluxo escolar, no atendimento complementar aos estudantes com dificuldades de rendimento escolar, na forma\u00e7\u00e3o continuada de professores, no est\u00edmulo \u00e0 ado\u00e7\u00e3o de tecnologias educacionais que favore\u00e7am a aprendizagem e, sobretudo, no desenvolvimento de provid\u00eancias para a implanta\u00e7\u00e3o do Novo Ensino M\u00e9dio\u201d, diz o Consed.<\/p>\n
Em 2017, a m\u00e9dia nacional de horas-aula di\u00e1ria nas escolas, tanto p\u00fablicas quanto privadas, foi de 5 horas no ensino m\u00e9dio; de 4,6 horas no ensino fundamental; e de 6 horas na educa\u00e7\u00e3o infantil.<\/p>\n
Na rede privada, a m\u00e9dia foi de 5,5 horas no ensino m\u00e9dio; 4,6 horas no ensino fundamental e 6,2 horas na educa\u00e7\u00e3o infantil. J\u00e1 na rede p\u00fablica, a m\u00e9dia de horas-aula foi de 4,9 horas no ensino m\u00e9dio; 4,6 horas no ensino fundamental e 6 horas na educa\u00e7\u00e3o infantil.<\/p>\n
\u201cHoje\u00a0a gente est\u00e1 com 8,30% das matr\u00edculas em tempo integral, a gente t\u00e1 muito distante de atingir o que \u00e9 previsto pelo Plano Nacional de Educa\u00e7\u00e3o\u201d, considera Pellanda. O Plano Nacional de Educa\u00e7\u00e3o coloca como meta para o ensino p\u00fablico brasileiro a meta de atingir 25% das matr\u00edculas at\u00e9 2024 em ensino integral.<\/p>\n
A coordenadora de pol\u00edticas educacionais da Campanha Nacional Pelo Direito \u00e0 Educa\u00e7\u00e3o ressalta que, al\u00e9m dos cortes or\u00e7ament\u00e1rios sofridos pelo setor nos \u00faltimos anos, a educa\u00e7\u00e3o p\u00fablica brasileira tem seus \u00edndices de qualidade afetados pela lentid\u00e3o na implementa\u00e7\u00e3o do Plano Nacional de Educa\u00e7\u00e3o. Ap\u00f3s quatro anos de sua vig\u00eancia, 30% da pol\u00edtica foram\u00a0colocadas em vigor,\u00a0de acordo com balan\u00e7o da entidade<\/a>.<\/p>\n \u201cQuando a gente v\u00ea que o Plano Nacional de Educa\u00e7\u00e3o est\u00e1 colocado completamente de escanteio na pol\u00edtica educacional, \u00e9 obvio que a gente vai chegar em resultados como esses de compara\u00e7\u00e3o entre a rede p\u00fablica e a rede privada\u201d, avalia.<\/p>\n Para Gabriel Corr\u00eaa, do Todos pela Educa\u00e7\u00e3o, o tempo de perman\u00eancia do aluno\u00a0na\u00a0escola \u00e9 fundamental para a qualidade da educa\u00e7\u00e3o, mas ele ressalta que \u00e9 necess\u00e1rio garantir tamb\u00e9m a qualidade do ensino ofertado durante esse per\u00edodo. \u201cSimplesmente expandir o tempo sem melhorar a qualidade desse tempo n\u00e3o vai mudar em nada. \u00c9 um processo que tem que acontecer de expans\u00e3o da exposi\u00e7\u00e3o dos alunos \u00e0 aprendizagem, mas com o tempo de aula cada vez mais efetivo, com professores bem preparados e a pr\u00e1tica pedag\u00f3gica aprimorada\u201d, afirma.<\/p>\n O Consed reconhece a necessidade de ampliar a jornada di\u00e1ria de aulas e considera que isso est\u00e1 sendo feito gradativamente com a implementa\u00e7\u00e3o das escolas de tempo integral e da amplia\u00e7\u00e3o da carga hor\u00e1ria total no ensino p\u00fablico.<\/p>\n