Teodoro Obiang está há 43 anos sentado na cadeira presidencial da Guiné Equatorial, o que lhe garante o título de ditador mais longevo do mundo. Aos 80, ele acaba de obter o sexto mandato para permanecer mais sete anos no cargo, numa daquelas vitórias arrebatadoras que só os autocratas conseguem: a eleição com 94,9% dos votos.
Antes da campanha, Obiang tratou de mandar para uma prisão de alta segurança seu principal concorrente, Gabriel Nsé Obiang, o líder do Cidadãos pela Inovação (CI) – partido tornado ilegal em 2018 – e mais 300 opositores.
Os outros dois adversários que constavam na cédula eleitoral não seriam capazes de desafiá-lo e cumpriram a função de dar um verniz democrático ao pleito.
Graças ao ditador, que em 1979 deu um golpe de Estado contra o próprio tio, a Guiné Equatorial é apelidada de Coreia do Norte da África. O regime fechado de Obiang é considerado um dos mais corruptos do mundo: pela classificação no índice da Transparência Internacional ocupa a 172ª posição, entre 180 países avaliados, e pontuação de 17, numa escala de 0 a 100.
Moradores fazem fila para votar em Malabo, capital da Guiné Equatorial, em 20 de novembro de 2022. — Foto: AP
O terceiro país mais rico da África Subsaariana tem enormes reservas de petróleo, mas mantém 70% da população de 1,2 milhão chafurdados na pobreza e sufocados pela opressão aos direitos humanos. A maioria vive em barracas, sem acesso a água potável e saneamento, num contraste estratosférico em relação aos bens acumulados pelo governante.
Como resumiu Juan Tomás Ávila Laurel, o escritor mais traduzido do país e que vive exilado na Espanha, a população da Guiné Equatorial já se convenceu de que a ditadura da família Obiang é indestrutível e as eleições não têm significado algum.
Preparado para ser o sucessor, o filho Teodorin foi nomeado vice-presidente em 2016, mas se mostra mais afeito ao estilo fanfarrão, colecionando mansões, carros e relógios de luxo. Foi condenado na França por lavagem de dinheiro e outros delitos, com pena suspensa de três anos de prisão, confisco de bens e multa de 30 milhões de euros (cerca de R$ 169 milhões).
O reinado de Obiang impõe frequentes contradições ao país. Uma delas diz respeito ao idioma. Colônia espanhola até a sua independência, em 1968, a Guiné Equatorial candidatou-se a membro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) como forma de assegurar a legitimidade.
Foi aceita em 2014, com a condição de que abolisse a pena de morte e incluísse o idioma como língua oficial. Somente este ano, o país aprovou a extinção da pena capital, que ainda não entrou em vigor. Quanto ao português, sequer figura no sistema educacional do país. São estratagemas que procuram assegurar a caminhada de Obiang a completar meio século no poder.