Um foguete lançado no domingo à noite a partir da Faixa de Gaza atingiu uma casa ao norte de Tel Aviv e deixou sete feridos, um ataque que vai precipitar o retorno a Israel do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que está em uma visita aos Estados Unidos.
O foguete atingiu uma residência em Mishmeret, a mais de 80 km da Faixa de Gaza, um alvo pouco habitual para os disparos a partir do território palestino.
As Forças Armadas israelenses acusaram no Twitter o movimento islamita Hamas pelo lançamento de um “foguete de fabricação local”.
O comando militar israelense decidiu enviar “duas brigadas de reforço à zona do comando sul”, a região da Faixa de Gaza, e convocar um determinado número de reservistas, sem revelar a quantidade exata.
Os militares indicaram que o foguete foi lançado a partir do sul do território palestino e percorreu quase 120 km.
Netanyahu, que está em uma visita aos Estados Unidos, prometeu responder “com força” ao ataque e decidiu encurtar sua viagem.
Em algumas horas me reunirei com o presidente (americano Donald) Trump e logo depois retornarei a Israel para dirigir de perto nossas operações”, afirmou Netanyahu.
Em plena campanha eleitoral em Israel para as legislativas de 9 de abril, nas quais Netanyahu aspira conquistar um novo mandato, o primeiro-ministro declarou que “um ataque criminoso foi cometido contra o Estado de Israel e vamos responder com força”,
Um organismo vinculado ao ministério da Defesa de Israel anunciou o fechamento das passagens de fronteira para pessoas e produtos entre Israel e o território palestino.
As forças israelenses respondem sistematicamente aos disparos de foguetes procedentes de Gaza, com ataques contra posições militares do Hamas, que controla a Faixa de Gaza.
Israel e Hamas protagonizaram três guerras na Faixa de Gaza desde que o movimento islamita assumiu o poder à força em 2007, depois que a comunidade internacional se recusou a reconhecer a vitória do movimento nas eleições legislativas palestinas.
Em 2018 as duas partes quase iniciaram outra guerra. Após um cessar-fogo informal em novembro e à medida que se aproxima o primeiro aniversário das manifestações que receberam o nome de “grande marcha do retorno”, a tensão aumenta.
A queda do foguete em uma casa de Mishmeret provocou um incêndio, segundo a polícia e os serviços de emergência.
Quatro adultos e três crianças, incluindo um bebê de seis meses, foram internados, informou o hospital de Kfar Saba. Seis pessoas pertencem à mesma família e sofreram queimaduras e ferimentos leves por estilhaços.
A imprensa israelense mencionou a possibilidade de o foguete, do tipo Fajr, ter sido ativado de maneira acidental durante uma operação de manutenção.
Hamas e Jihad Islâmica negaram responsabilidade pelo disparo.
Fonte: AFP
Operadores de expedições na montanha mais alta do mundo estão preocupados com o número de corpos de alpinistas mortos que estão aparecendo com o derretimento de geleiras no Everest.
Quase 300 aventureiros já morreram no local desde a primeira tentativa de subida, e dois terços dos corpos ainda estão sob neve e gele. A maior parte dos óbitos acontece por avalanches, quedas, mas também problemas fisiológicos agudos, como tontura e dor de cabeça.
Corpos começam a ser removidos no lado chinês da montanha, conforme se aproxima a temporada de escalada da primavera.
Mais de 4,8 mil alpinistas já escalaram o pico mais alto da Terra.
“Por causa do aquecimento global, o manto de gelo e os glaciares estão derretendo rapidamente. Os cadáveres que permaneceram enterrados durante todos esses anos estão agora sendo expostos”, explica Ang Tshering Sherpa, ex-presidente da Associação de Montanhismo do Nepal.
“Já descemos cadáveres de alguns montanhistas que morreram nos anos recentes, mas os mais antigos estão aparecendo agora”.
Um funcionário do governo local afirmou à BBC: “Eu mesmo resgatei cerca de 10 cadáveres nos últimos anos em diferentes pontos do Everest. Claramente, mais e mais deles estão surgindo agora”.
Corpos expostos
Em 2017, a mão de um alpinista morto apareceu acima do solo no acampamento 1.
Operadores de expedições contam que precisaram reunir escaladores profissionais da comunidade sherpa para mover o corpo.
No mesmo ano, outro corpo apareceu na superfície do glaciar de Khumbu – onde a maioria dos cadáveres vem surgindo nos últimos anos, dizem os montanhistas.
Outro local que tem revelado corpos é o acampamento 4, um lugar relativamente plano.
“Mãos e pernas de cadáveres também apareceram no acampamento-base nos últimos anos”, disse um funcionário de uma ONG da região.
“Percebemos que o nível de gelo em torno do acampamento-base está diminuindo, e é por isso que os corpos estão ficando expostos”.
Derretimento comprovado
Vários estudos já mostraram que as geleiras da região do Everest, como na maior parte dos Himalaias, estão derretendo e ficando mais estreitas.
Um trabalho de 2015, por exemplo, revelou que as lagoas na área do glaciar de Khumbu – que os alpinistas precisam atravessar para chegar ao pico – estavam se expandindo e se juntando por causa do derretimento acelerado.
Em 2016, o exército do Nepal drenou o lago Imja, perto do Monte Everest, depois que a água resultante do derretimento glacial atingiu níveis perigosos.
Outra equipe de pesquisadores, incluindo membros das universidades de Leeds e Aberystwyth, do Reino Unido, perfuraram no ano passado o Khumbu e encontraram gelo mais quente do que o esperado.
Nem todos os cadáveres que emergem do gelo, no entanto, aparecem por conta do derretimento glacial.
Alguns deles são expostos também por causa do movimento do glaciar de Khumbu, dizem montanhistas.
“Por causa do movimento do Khumbu, conseguimos ver cadáveres de tempos em tempos”, explica Tshering Pandey Bhote, vice-presidente da Associação Nacional de Guias de Montanhas do Nepal.
“Mas a maioria dos escaladores está mentalmente preparada para se deparar com essa visão”.
Corpos mortos como ‘marcos’
Alguns dos cadáveres em setores de maior altitude do Everest chegaram a servir de ponto de referência para montanhistas.
Um deles, perto do cume, era conhecido como “botas verdes” – referência a um alpinista que morreu pendurado sob uma rocha saliente. As botas apontavam para a direção da rota.
Alguns montanhistas dizem que o corpo já foi removido, mas autoridades do Nepal dizem não ter informações sobre se os restos mortais ainda são visíveis.
Trabalhadores e organizações locais apontam para as dificuldades em remover os cadáveres – principalmente os em pontos mais altos.
Especialistas dizem que descer um corpo custa entre US$ 40 mil (cerca de R$ 150 mil) e US$ 80 mil (R$ 300 mil).
“Uma das remoções mais desafiadoras foi a uma altura de 8,7 mil metros, perto do cume”, diz Ang Tshering Sherpa.
“O corpo estava totalmente congelado, pesava 150 kg e teve que ser retirado de um lugar difícil, naquela altitude”.
Trabalhadores e montanhistas também lembram que as decisões sobre o que fazer com um corpo dependem também de questões pessoais.
“A maioria dos alpinistas preferem ser deixados nas montanhas em caso de morte “, diz Alan Arnette, um famoso praticante do esporte que também escreveu livros sobre o assunto.
“Então, removê-los pode ser considerado desrespeitoso. Ao menos que eles precisem ser retirados da rota de escalada ou que as famílias desejem isto”.
Fonte: BBC News
ROMA (Reuters) – As conversas desta terça-feira entre os Estados Unidos e a Rússia sobre a Venezuela foram concluídas com os dois lados ainda divididos a respeito da legitimidade do presidente Nicolás Maduro.
A Rússia disse que Maduro continua sendo o único líder legítimo do país, enquanto os Estados Unidos e muitos outros países ocidentais apoiam Juan Guaidó, chefe da Assembléia Nacional controlada pela oposição, que invocou uma disposição constitucional em janeiro para assumir uma presidência interina.
“Não, não chegamos a ter um encontro de mentes, mas acho que as conversas foram positivas no sentido de que os dois lados emergiram com um entendimento melhor das opiniões do outro”, disse o representante especial dos EUA, Elliott Abrams, aos repórteres.
A Rússia também disse que os dois lados agora entendem melhor seus respectivos pontos de vista após as conversações de duas horas em Roma, mas o chefe da delegação de Moscou, o vice-ministro das Relações Exteriores Sergei Ryabkov, foi mais direto.
“Talvez não tenhamos conseguido reduzir as diferenças em relação a essa situação”, disse Ryabkov, segundo a agência de notícias estatal russa TASS. “Presumimos que Washington trata nossas prioridades com seriedade, nossa abordagem e nossos alertas.”
Segundo a agência russa de notícias RIA, Ryabkov disse que as negociações foram difíceis, mas francas, e que Moscou havia alertado Washington para que não interviesse militarmente na Venezuela.
Abrams disse que “quem recebe o título de presidente” na Venezuela ainda é um ponto de discórdia.
Ele considerou as conversações desta terça-feira úteis, substanciais e sérias e disse que ambos os lados concordaram “com a profundidade da crise”. Ryabkov disse que a Rússia está cada vez mais preocupada com as sanções dos EUA ao país latino-americano.
Horas antes, os Estados Unidos impuseram sanções contra a Minerven, empresa de mineração de ouro da Venezuela, e seu presidente, Adrián Perdomo.
O governo de Maduro, que tem apoio da Rússia e da China, recebeu ampla condenação internacional depois de ser reeleito no ano passado em uma votação amplamente considerada fraudulenta.
Abrams citou estimativas recentes de que, nos próximos meses, as exportações vitais de petróleo da Venezuela cairiam abaixo de um milhão de barris por dia e que as exportações de petróleo venezuelano estavam diminuindo em cerca de 50 mil barris por mês.
“Isso é uma catástrofe para a Venezuela”, disse Abrams.
Fonte: Reuters
Várias pessoas foram feridas por disparos efetuados contra um bonde na cidade holandesa de Utrecht na manhã desta segunda-feira (18/03).
Segundo testemunhas, um homem sacou uma arma e começou a disparar de forma aleatória. Depois fugiu, e seu paradeiro é desconhecido, afirmou a polícia.
A imprensa local informou que ao menos uma pessoa foi morta no ataque, o que ainda não foi confirmado pelas autoridades.
A polícia comunicou que várias pessoas ficaram feridas e que não descarta uma motivação terrorista no atentado, que ocorreu na praça 24 de outubro.
O governo da Holanda elevou o alerta de terrorismo ao nível máximo na província de Utrecht porque o atirador está foragido.
Fonte: DW
Ao menos 49 pessoas morreram em ataques nesta sexta-feira contra duas mesquitas da cidade neozelandesa de Christchurch e, segundo as autoridades locais, um dos autores foi identificado como um extremista australiano.
Os ataques nesta cidade da Ilha Sul também deixaram 20 pessoas gravemente feridas, informou a primeira-ministra Jacinda Ardern. Ao citar um dos “dias mais obscuros” do país, ela denunciou uma violência “sem precedentes”.
Testemunhas descreveram cenas caóticas e corpos ensanguentados. Crianças e mulheres estão entre as vítimas fatais.
A polícia fez um apelo para que as pessoas não compartilhem nas redes sociais “imagens extremamente insuportáveis”, depois que foi divulgado na internet um vídeo feito por um homem branco no momento em que atirava contra os fiéis em uma mesquita.
“Está claro que isto só pode ser descrito como um ataque terrorista. Pelo que sabemos parece que estava bem planejado”, disse Ardern.
“Foram encontrados dois artefatos explosivos em veículos suspeitos e foram desativados”, completou.
O atirador de uma das mesquitas era um cidadão australiano, revelou em Sydney o primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison. “É um terrorista extremista de direita, violento”, disse.
O número exato de criminosos não foi revelado, mas, de acordo com Ardern, três homens estavam detidos. A polícia afirmou que um homem com pouco menos de 30 anos foi acusado de assassinato. Esta pessoa será apresentada a um tribunal de Christchurch no sábado.
A polícia afirmou ainda que não procura outros suspeitos.
As duas mesquitas atacadas são as de Masjid al Noor, no centro de Christchurch, e Linwood. As duas estavam lotadas nesta sexta-feira para a sessão vespertina das orações.
“Corpos por todos os lados”
Um imigrante palestino que pediu para não ser identificado afirmou que viu o momento em que um homem foi atingido por um tiro na cabeça.
“Escutei três disparos rápidos e depois de uns 10 segundos tudo começou de novo. Deve ter sido uma arma automática porque ninguém consegue apertar o gatilho tão rapidamente”, disse o homem à AFP.
“As pessoas começaram a correr, algumas estavam cobertas de sangue”.
Outro homem contou à imprensa local que viu o momento em que uma criança foi atingida por tiros.
“Havia corpos por todos os lados”, declarou.
Em uma das mesquitas estava a equipe de críquete de Bangladesh, mas os jogadores conseguiram fugir do local.
“Estão sãos e salvos, mas em estado de choque. Pedimos ao time que permaneça confinado no hotel”, afirmou uma fonte da delegação. A partida entre as seleções de Bangladesh e Nova Zelândia foi cancelada.
Diversos vídeos e documentos que circulam na internet, mas que não foram confirmados oficialmente até o momento, indicam que o autor transmitiu o ataque no Facebook Live.
Uma equipe da AFP examinou as imagens, que pouco depois foram retiradas dos sites. De acordo com os jornalistas, especialistas em fact check, são autênticas.
Um “manifesto” vinculado às contas desta página do Facebook faz referência à “teoria da substituição”, que circula entre a extrema-direita e que fala do desaparecimento dos “povos europeus”.
As forças de segurança bloquearam o centro da cidade, mas poucas horas depois suspenderam a medida. A polícia pediu aos fiéis que evitem as mesquitas em toda Nova Zelândia.
O município abriu uma linha direta para os pais dos estudantes que participavam em um protesto contra as mudanças climáticas em uma área próxima aos ataques.
Todas as escolas da cidade foram fechadas. A polícia pediu a “todos os que estavam presentes no centro de Christchurch que não saiam às ruas e apontem qualquer comportamento suspeito”.
Os tiroteios são raros na Nova Zelândia, um país que em 1992 restringiu a legislação que permite acesso às armas semiautomáticas após um massacre de 13 pessoas na cidade de Aramoana, na Ilha Sul.
Qualquer pessoa com mais de 16 anos, no entanto, pode solicitar uma licença para ter acesso a uma arma depois de participar de um curso sobre segurança.
Fonte: AFP
O pior apagão da história da Venezuela, que entrou em seu quinto dia nesta terça-feira (12/03), agravou a escassez de alimentos e provocou falta de água no país. A falta de energia elétrica, que chegou a afetar 22 dos 23 estados, além de Caracas, faz com que vários serviços não possam ser prestados, entre eles o fornecimento de água, que entrou em colapso.
Numa atitude desesperada, um grupo de pessoas foi nesta segunda-feira encher galões com água numa fonte que brota da parede de asfalto do rio Guaire. O rio, que é canalizado, corre ao lado da principal rodovia de Caracas e nele é despejado esgoto.
Entre os que foram coletar água no local estava a vendedora Lilibeth Tejedor, de 28 anos e mãe de uma criança de 2 anos. Em meio a dezenas de outras pessoas, Tejedor tentava encher um galão de 15 litros com a água da vertente, que corria para o rio.
Ao contrário da fétida água do rio Guaire, o líquido que saía da fonte ao menos era claro. As pessoas no local disseram que a água fora liberada de um reservatório por autoridades locais e que, por ter passado por canos sujos, podia apenas ser usada para dar a descarga e lavar o assoalho.
“Eu nunca havia visto algo parecido. É horrível”, disse Tejedor a repórteres da agência de notícias Reuters que foram ao local. Ela se preparava para transportar o seu galão cheio de água num pequeno carrinho de mão.
Crianças e adolescentes acompanharam os pais para ajudar a carregar água. Quando duas crianças começaram a brincar no poluído rio Guaire, uma mulher as alertou: “Essa água é suja! Não comecem a brincar porque não há remédios.”
Muitas pessoas que foram buscar água no local acabaram afastadas de lá por militares.
No extremo norte de Caracas, onde a cidade margeia o parque nacional El Ávila, centenas de pessoas fizeram fila para coletar água de fontes nas montanhas.
Outros venezuelanos se viram obrigados a pagar em dólares por garrafas de água ou esperar por caminhões-pipa prometidos pelo regime de Nicolás Maduro.
Muitos pagamentos precisam ser feitos em dólares devido à escassez de cédulas no país, afetado pela hiperinflação, e porque o pagamento com cartão não funciona por causa da falta de luz.
Maduro também anunciou a distribuição de alimentos e de produtos para hospitais, mas nada ainda foi entregue.
Caracas necessita de 20 mil litros de água por segundo para a manutenção do serviço de abastecimento, afirmou o engenheiro José de Viana, que trabalhou no sistema de fornecimento da capital nos anos 1990.
Na semana passada, o fluxo havia caído para 13 mil, e depois do apagão, iniciado na quinta-feira, parou por completo, disse Viana.
Devido à situação de emergência, o presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, que é reconhecido como presidente interino por mais de 50 países, incluindo o Brasil, convocou novas manifestações contra Maduro para esta terça-feira em todo o país.
Ele disse que a situação é de calamidade pública e decretou, com aval da Assembleia, dominada pela oposição a Maduro, estado de alarme nacional por 30 dias para pedir ajuda internacional.
O decreto não deverá ter efeito, pois Maduro tem o apoio das Forças Armadas e controla todas as instituições do país, exceto a Assembleia Nacional.
AS/afp/efe/rtr/ap
Fonte: DW
Pelo menos uma dúzia de pessoas ligadas à ONU estão entre as vítimas do acidente aéreo da Ethiopian Airlines ocorrido neste domingo nos arredores de Adis-Abeba, segundo uma fonte da organização.
“Espera-se que pelo menos uma dúzia das vítimas tivessem ligação com a ONU”, indicou a fonte, assinalando que tradutores independentes que viajavam para uma conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente também podem estar entre os 157 mortos reportados pelas autoridades.
Estabelecer o número exato de funcionários da ONU no voo é difícil, uma vez que nem todos informaram à organização seu plano de viagem, e nem todos usaram o passaporte diplomático para viajar, explicou a fonte.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, disse estar “profundamente entristecido com a perda trágica de vidas”, e enviou condolências à Etiópia e a parentes das vítimas.
“As Nações Unidas estão em contato com autoridades da Etiópia e trabalhando com elas para saber com detalhes que funcionários da ONU perderam a vida na tragédia”, assinalou Guterres.
Fonte: AFP
A tecnologia ajuda, mas, no Japão, não são os sensores e as câmeras os principais responsáveis pela segurança pública. É uma combinação bem-sucedida de leis rigorosas, policiamento preventivo, ações comunitárias e educativas que têm garantido ao país uma posição de destaque entre os lugares mais seguros do mundo.
Em 2018, os japoneses tiveram o 9º melhor Índice Global da Paz (ranking liderado pela Islândia), enquanto os brasileiros amargaram a 106ª posição, com altas taxas de criminalidade e corrupção. De acordo com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes, o Japão tem 0,28 homicídios para cada 100 mil habitantes.
No Brasil, em 2017 (dado mais recente no comparativo), foram contabilizados 63.880 mortes violentas, o maior índice da história. Isso equivale a 30,8 homicídios para cada 100 mil pessoas.
Apesar das pequenas oscilações no passado desses indicadores, os japoneses hoje conseguem dormir tranquilos graças à segurança proporcionada pela política de tolerância zero às armas e ao centenário sistema de policiamento comunitário, com mais de 6.600 postos espalhados pelo país – os chamados Koban, nome dado aos pequenos postos onde residem e trabalham de dois a três policiais treinados para servir a comunidade e dar informações de segurança, inclusive sobre objetos perdidos.
O Japão tem uma das menores taxas do mundo de crimes cometidos com armas de fogo. Segundo a Agência Nacional de Polícia, houve, em 2017, apenas 22 crimes cometidos com armas de fogo – deixando 3 mortos e 5 feridos.
A título de comparação, no mesmo período houve 15.612 mortes por armas de fogo nos Estados Unidos, segundo a organização Gun Violence Archive. Isso dá uma média de 42 mortes por armas de fogo por dia nos EUA, contra um toal de 44 mortes do tipo no Japão nos últimos oito anos até abril de 2018.
A educação da população também ajuda.
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“No Japão, as crianças aprendem desde cedo que é crime ficar com aquilo que não é seu. Não existe isso de dizer que ‘achado não é roubado'”, observa Mayumi Uemura, diretora de uma escola brasileira no Japão – instituições de ensino particulares que são homologadas pelo Ministério da Educação brasileiro e seguem o currículo brasileiro, em áreas de grandes concentrações de migrantes do Brasil.
A escola dirigida por Uemura fica em Joso, cidade com pouco mais de 2 mil brasileiros localizada na província de Ibaraki (que tem cerca de 6 mil brasileiros. E os estudantes são frequentemente convidados para participar de atividades com a polícia, como palestras sobre drogas e até campeonato de futebol promovido por policiais.
Os alunos também passam por treinamento sobre regras de trânsito. “Muitos brasileiros não sabem que aqui é proibido carregar alguém na garupa da bicicleta”, diz a diretora. A lei para ciclistas é de 2015 e pune com multas e prisão quem for pego pedalando alcoolizado. Também proíbe pedalar com fones de ouvido, mexendo no smartphone ou equilibrando um guarda-chuva.
Policiamento humanizado e sistema unificado sem rivalidades
A segurança pública do dia a dia é garantida por um contingente de 290 mil policiais. São eles que mantêm o laço de confiança da população com a polícia pelo sistema Koban.
O sistema, criado em 1874, é a resposta japonesa para a criminalidade, e a intenção é de que seja implantado em localidades brasileiras, por um Acordo de Cooperação Técnica entre Brasil e Japão.
No entanto, na opinião de um policial japonês que fez estágio na polícia brasileira e não quis ser identificado na reportagem, a implantação do modelo japonês no Brasil será complicada devido às diferenças entre os países.
No Japão repleto de leis rigorosas, não é de estranhar que policiais façam suas rondas ostensivas de bicicleta e abordagem sem o uso de armas de fogo, recorrendo apenas a movimentos de artes marciais ou até mesmo redes e cobertores quando é necessário conter um suspeito.
“Enquanto no Japão a Agência Nacional da Polícia é a única a coordenar o sistema, no Brasil há várias instituições policiais, como a civil, a militar e a federal, e elas estão sempre se enfrentando”, diz o policial japonês.
O segredo para o modelo japonês dar certo, opina ele, é a integração da polícia com a comunidade: “respeito mútuo”.
Os estrangeiros também interagem com a polícia. A brasileira Bruna Ishikawa, de 14 anos, foi escolhida para ser policial por um dia e percorreu de viatura um trecho entre as cidades de Joso e Ishige enquanto falava pelo alto-falante – em português, para ser entendida pelos membros da comunidade brasileira – sobre a necessidade de os pedestres olharem sempre para os dois lados ao atravessar a rua. “A polícia daqui é diferente. A gente respeita”, diz a estudante.
Sociedade participativa e qualificação dos policiais
Os próprios cidadãos ajudam o policiamento no Japão. Em muitas casas e lojas, há um adesivo escrito “Kodomo 110ban no Ie” colado na porta, indicando que o local pode ser usado como abrigo por crianças em perigo. E todos os alunos do equivalente aos seis primeiros anos do ensino fundamental brasileiro levam pendurado na mochila um alarme que é usado em situação de ameaça.
Para ajudar a população a memorizar o telefone de emergência, a polícia japonesa criou o Dia do 110. Sempre em 10 de janeiro, realiza eventos para lembrar as pessoas que o número 110 deve ser usado para acionar a polícia por telefone em caso de crime, acidente ou uma ocorrência suspeita.
A Academia Nacional de Polícia tem investido em transformar parte de seu contingente em policiais poliglotas, para dar suporte à crescente população estrangeira e ao público esperado em megaeventos, como os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020.
Mais do que à gramática, o professor de português Miguel Kamiunten dá ênfase à conversação, ensinando inclusive gírias e termos técnicos jurídicos. “O importante é que esses policiais poderão ajudar no trabalho preventivo, passando informações de segurança aos estrangeiros”, explica.
Os policiais habilitados em idiomas também auxiliam nos casos envolvendo estrangeiros. Em 2017, o Japão registrou 17.006 crimes cometidos por não japoneses, sendo 30,2% deles atribuídos a vietnamitas. Os brasileiros, quinto maior grupo estrangeiro com 196.781 pessoas residindo no país, foram o terceiro grupo mais acusado de criminalidade (1.058 casos).
Apesar da presença histórica da yakuza, como é conhecida a principal organização criminosa japonesa, o Japão tem conseguido manter as facções sob controle com a tolerância zero a armas.
Segundo cálculos da Agência Nacional de Polícia, em 2017, o crime organizado contava com 34.500 membros em 22 grupos. No auge, em 1963, o crime organizado chegou a contabilizar 184 mil membros, mas esse número despencou graças à Lei Anti-Yakuza. Ela entrou em vigor em 1991 e endureceu ainda mais na revisão feita uma década depois, quando tornou-se ilegal fazer negócios com membros de facções.
E quem sofre e não denuncia tentativas de extorsão vira cúmplice; e chefes das gangues são responsabilizados criminalmente pelas atividades de subalternos.
“Com leis rigorosas e a ajuda da comunidade, é possível controlar a violência”, diz o policial japonês.
Segurança no trânsito e penas duras
Os motoristas também foram obrigados a redobrar a atenção, porque acidentes de trânsito costumam ter punição severa. O Japão criou a rigorosa legislação em 1970, quando houve um brusco aumento da frota de carros em circulação – e 16.765 mortes nas estradas. Após campanhas intensas e queda nos números, os casos fatais voltaram a superar a marca de 10 mil em 1988, devido ao maior número de pessoas habilitadas e motorizadas.
O país recorre a casos emblemáticos para criar precedentes e dificultar ainda mais a violação do Código Penal. Em dezembro passado, um homem foi condenado a 18 anos de prisão por direção perigosa seguida de morte. O réu perseguiu o carro de uma família e, depois de ultrapassá-lo, forçou a mulher e o marido dela a pararem o veículo no meio da via expressa, quando foram então atingidos por um caminhão.
A “lei seca” surgiu após outro episódio de grande repercussão nacional, ocorrido em 2007. Um motorista embriagado provocou a morte de três crianças no trânsito, motivando o endurecimento da legislação.
Casos em que gerentes de bar ou amigos servem álcool sabendo que a pessoa vai dirigir, ou mesmo pegar carona ou emprestar carro a alguém alcoolizado, podem resultar em prisão de todos os envolvidos. Outras violações das leis de trânsito podem levar à perda imediata da carteira, pagamento de multa e até prisão.
O difícil caminho para comprar armas no Japão
Se você quer comprar uma arma no Japão é preciso paciência e determinação. É necessário um dia inteiro de aulas, passar numa prova escrita e em outra de tiro ao alvo com um resultado mínimo de 95% de acertos.
Também é preciso fazer exames psicológicos e antidoping.
Os antecedentes criminais são verificados e a polícia checa se a pessoa tem ligações com grupos extremistas.
Em seguida, investigam os seus parentes e mesmo os colegas de trabalho.
A polícia tem poderes para negar o porte de armas, assim como para procurar e apreendê-las.
E isso não é tudo. Armas portáteis são proibidas. Apenas são permitidos os rifles de ar comprimido e as espingardas de caça.
A lei também controla o número de lojas que vendem armas.
Na maior parte das 47 prefeituras do Japão, o número máximo é de três lojas de armas e só se pode comprar cartuchos de munição novos se os usados forem devolvidos.
Até mesmo o crime organizado no Japão dificilmente usa armas de fogo. Geralmente, os criminosos utilizam facas.
A polícia tem que ser informada sobre onde a arma e a munição ficam guardadas – e ambas devem estar em locais distintos, trancadas. Uma vez por ano a polícia inspecionará a arma.
Depois de três anos, a validade da licença expira e a pessoa é obrigada a fazer o curso e as provas de novo.
Tudo isso ajuda a explicar por que os tiroteios e massacres com armas de fogo são muito raros no Japão.
Quando um massacre ocorre no país, geralmente o criminoso utiliza facas.
Fonte: BBC NEWS